ENSURDECEDOR | 4 OUT | IPDJ | 21H30



 ENSURDECEDOR
Joachim Trier
Noruega/ França/ Dinamarca, 2015, 109’, M/12

FICHA TÉCNICA
Título Original: Louder Than Bombs
Realização: Joachim Trier
Argumento: Joachim Trier e Eskil Vogt                         
Montagem: Olivier Bugge Coutté    
Fotografia: Jakob Ihre
Música: Ola Fløttum
Interpretação: Isabelle Huppert, Gabriel Byrne, Jesse Eisenberg, Devin Druid
Origem: Noruega, França, Dinamarca
Ano: 2015
Duração: 109'

FESTIVAIS E PRÉMIOS
Festival de Cannes - Selecção Oficial           



CRÍTICAS


 Se existia maior beleza naturalista no filme anterior do norueguês Joachim Trier (o excelente Oslo, 31 de Agosto), Ensurdecedor revela uma maturidade afectiva e uma compreensão dos mecanismos do melodrama - o sangue que irriga o corpo do cinema - que o coloca entre os melhores novos cineastas contemporâneos.
A história, simples, de uma mãe (Huppert) desaparecida num acidente de automóvel, cuja influência, dois anos mais tarde, se fará notar no marido Gene (o grande Gabriel Byrne) e nos filhos Jonah e Conrad, como um seixo atirado à água que cria ondas cada vez mais largas, é pretexto para uma visão delicada do despertar do primeiro amor, da traição sem culpa, dos fantasmas depressivos, dos erros involuntários, do arrependimento.
Os sinais são um cabelo puxado para trás da orelha, o odor de uma camisola, reflexos num espelho, o ritmo de uma canção. Trier chama-lhe "tratar um filme como um álbum com várias canções" ...
Pedro Marta Santos, sabado.pt





O cinema de Joachim Trier é feito de histórias bem contadas, por quatro personagens densas, interpretadas por magníficos atores. E nada mais se pede. Isabelle, por Isabelle Huppert, acaba por ser o motor do enredo. Mas funciona mais na sua ausência: é uma fotógrafa de guerra que não resiste à paz, o silêncio quotidiano da sua vida em casa torna-se mais difícil de enfrentar do que as bombas no Médio Oriente. Apesar de Ensurdecedor estar bem dividido entre as quatro personagens, inevitavelmente, Conrad, o filho adolescente, atrai o foco principal, em parte pelo seu silêncio ensurdecedor, num mundo íntimo, pleno de contrastes, que só começa a ser revelado com a chegada do irmão, Jonah.
E é até mesmo por Jonah que começa o filme, logo no pré-genérico, numa peça solta de um puzzle narrativo, que só se encaixa muito mais à frente: a cena do nascimento do filho, que Trier faz subtilmente coincidir com uma promessa de infidelidade. Se, em Conrad, há um estado de crisálida à espera da metamorfose, em Jonah há uma dificuldade em aceitar as asas. Tudo isto é centrado no pai, passivo e omnipresente, num magnífico papel de Gabriel Byrne. Num registo sóbrio e subtil, vive num estado dilacerante, entre a judaico-cristã assunção de culpa e a passividade perante o desmoronamento do universo em redor. Trier soube construir um puzzle familiar, numa história de crescimento em várias fases da vida.
Manuel Halpern,  visao.sapo.pt