não, não é mais uma comédia sobre adolescentes: esta é uma BOA comédia! UNS BELOS RAPAZES do autor de BD Riad Sattouf.

2ªF 31, IPJ, 21H30.

Um borbulhoso retrato do estranho, selvático e incrivelmente desconfortável tempo da adolescência, UNS BELOS RAPAZES coloca uma mão cheia de gargalhadas de torcer o coração directamente no focinho.


O desenhador de Banda Desenhada Riad Sattouf estreia-se com um conto divertido sobre um par de falhados que vive pequenos triunfos e humilhações intermináveis de uma ânsia sexual adolescente, oferecendo-nos uma série de grosseiros ao estilo de Super Baldas e American Pie – apesar de neste filme se utilizar como suporte uma meia já usada.


Embora o filme adolescente conhecido como o tenho-de-dar-queca tenha sido rotineira e ainda mais eficazmente explorado no passado, Sattouf e o co-argumentista Marc Sygras (Replay) oferecem uma forma de comédia ainda mais cruel, presenteando uma série de gargalhadas visuais – numa média de uma ou duas por cena – concentrada em todos os poros oleosos das suas personagens.


Enquanto várias sequências mostram os dois a beijarem desmazeladamente desde raparigas a espelhos aos dedos de outros em planos nauseantes apertados, outros são frescos e criativamente humorísticos, revelando olho para as traquinices nos storyboard – algo que já tinha provado com as suas BD.


Os pontos fracos de Hervé são particularmente complicados na presença da sua mãe tagarela. Existe algo de bizarramente incestuoso na relação deles (tal como existe algo de flagrantemente homoerótico na sua amizade com Camel), e o realizador usa tal conteúdo para mostrar a puberdade como um momento doloroso em que experienciamos diferentes identidades, na esperança de encontrar alguma que nos sirva. Tais humilhações são extremamente bem manejadas pelo cast de desconhecidos, especialmente Lacoste, que nos apresenta Hervé, como uma personagem em constante evolução e entrega, que não consegue escapar às suas inúmeras imperfeições.
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Jordan Mintzer, Variety


É uma primeira obra, a estreia de Riad Sattouf (n. 1978), autor francês de BD. O universo adolescente, ao que podemos saber, é um dos temas preferidos dos seus livros, e foi o tema que escolheu abordar no seu primeiro filme. Os "belos rapazes" (na verdade, incrivelmente feios e borbulhentos, a adolescência em todo o seu hiper-realístico esplendor) são uma dupla de alunos de liceu obcecados com a sua própria libido, que é inversamente proporcional aos seus talentos de sociabilização. Todas as mulheres (as colegas, as mães delas, as professoras) são potenciais objectos de fantasia, mas esse mundo mental dificilmente coincide com o mundo real. Esta difícil coincidência alimenta "Uns Belos Rapazes", que filma a adolescência masculina como um território monotemático, onde toda a imaginação conduz sempre ao mesmo, mas onde o "mesmo" raramente passa da imaginação. Sattouf acompanha esta "selvajaria" das suas personagens com uma certa elegância (e com uma certa empatia, talvez até com alguma nostalgia), matizando-lhes o recorte estereotipado (que é obviamente fundamental) com algumas subtis notações psicológicas (por exemplo toda a relação entre um dos rapazes e a mãe, interpretada por Noémie Lvovsky).


Se o ambiente é "realista", e quer o liceu quer o círculo em que as personagens se movem são perfeitamente plausíveis, a sua importância é limada, como se a psique adolescente fosse uma coisa que se impõe a tudo. Como é evidente, ficamos próximos do "cartoon" (até na maneira como Sattouf compõe as cenas e nalguns casos até os planos), no sentido em que, porventura demasiadas vezes, persegue apenas o efeito grotesco (a insistência nas borbulhas, nos aparelhos dentários, etc). Mas, e é aquilo que Sattouf consegue melhor, o filme salva-se do "cartoonismo" inconsequente (não importa quão divertido) pela maneira como integra a voracidade desamparada das suas personagens numa espécie de "visão do mundo", e transformar-se no seu retrato.
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Luís Miguel Oliveira, Público


ENTREVISTA
Já considerado como um autor de banda desenhada hilariante (Pascal Brutal, La Vie Secrète des Jeunes), Riad Sattouf estende ao cinema a sua fábrica de descrições sobre os ingratos anos estudantis. E vigoroso, com um belo casting de borbulhosos e uma banda sonora a calhar, o seu primeiro filme coloca-se no lugar de melhor teen-movie francês… em muito tempo.
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Porque é que escolheu fazer um filme depois de tantos anos a trabalhar em BD?
Não sou um grande cinéfilo, mas estudei Cinema de Animação e, como muitos desenhadores, desejava um dia que as minhas histórias não fossem animadas. A banda desenhada conta histórias de uma certa forma, e o cinema de outra, e o que eu prefiro fazer na vida é contar histórias… Dito isto, o peso dos processos de criação esgotam-me antecipadamente: eu não quero massacrar-me a montar um projecto e a convencer um produtor a ajudar-me a realizá-lo para depois mudar de ideias sobre o argumento só para não chocar as associações católicas… Acho que tive muita sorte em encontrar produtores que adoraram as minhas BD e deixaram-me fazer o filme que queria.



Les Beaux Gosse leva para o cinema francês o melhor do teen-movie contemporâneo. Pensamos muito em produções de Judd Apatow, Super Baldas em particular…
Vi Super Baldas durante as filmagens porque toda a gente me falava no filme. Mas eu não achei os dois filmes tão semelhantes, à excepção de eles serem sobre dois adolescentes muito obcecados e muito feios… Na verdade, não conheço a tal ponto essa nova comédia americana, nem os seus modelos. O que me leva a rir é muitas vezes aquele assunto suficientemente sério. Por exemplo, uma reportagem sobre os adolescentes hoje em dia é classificado como sendo um tema muito alarmante, mas eu acho isso hilariante. É exactamente isso que eu desejo transcrever. Eu queria ser muito realista, e para isso mantive-me fiel a um dos meus livros, Manual de Puceau¸ inspirado nos meus próprios anos como estudante, nos quais eu tinha a impressão de ter êxito em qualquer matéria de aproximação naturalista.



A originalidade do filme no quadro do cinema francês é que é um olhar sobre os adolescentes nunca vista. O que é que este olhar tem de tão especial?
Foi uma coisa essencial para mim, tínhamos de estar sempre à mesma altura. Filmei exactamente o mundo deles, portanto, não existem outros pontos de vista válidos que não sejam os deles. Há momentos de verdadeira crueza no filme, que fazem com ninguém os julgue ou façam troça deles. Sobretudo, não quis aproximar-me deles como fauna estrangeira. Tenho de atacar as coisas pelas bases. Quando tu és adolescente, e vives um pouco à margem e o teu corpo não se modifica à semelhança da tua vontade, és obrigado a inventar uma visão exterior do mundo, um código, uma classificação para as pessoas à tua volta que te permita compreender, porque, com aquela idade, certas coisas só acontecem a um certo tipo de pessoas. É qualquer coisa de suficientemente primitivo e animal. É aí, sem dúvida, que o meu filme se assemelha a Super Baldas: disse-me a mim mesmo que seria mais interessante abordar as coisas do ponto de vista dos nulos, em vez de partir do colegial médio no qual todos se poderiam projectar.
INROCKUPTIBLES



Título Original: Les Beaux Gosses
Realização: Riad Sattouf
Argumento: Riad Sattouf Et Marc Syrigas
Interpretação: Vincent Lacoste, Anthony Sonigo, Alice Trémolières, Noémie Lvovsky
Direcção de Fotografia: Dominique Colin
Música: Flairs e Riad Sattouf
Montagem: Virginie Bruant
Origem: França
Ano de Estreia: 2009
Duração: 90’


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com pedido de divulgação. acedemos, claro.



«A edição deste ano, após o sucesso da primeira, decorrerá, uma vez mais, no Pátio de Letras, nos dias 8 e 9 de Junho, com início às 21h30 (ambos os dias), tendo como tema (com incidência no filme a exibir no segundo dia) a Teoria do Super-Homem do filósofo Nietzsche. Uma vez mais o evento será gratuito e aberto a todo o público interessado em Cinema. Eis a sua estrutura:

*Terça-feira, dia 8 de Junho (21h30) - *

- Participação do produtor Carlos Fraga (empresa de produção Livre Meio) falando sobre a área da Produção audiovisual;
- Participação de três jovens realizadores falando sobre as curtas-metragens que filmaram;
- Apresentação de cinco curtas-metragens de jovens realizadores do Algarve:

*"Mar d' Outubro"*, realizado por Nuno Fernandes;

*"Aquilo lá fora"*, realizado por Daniel Silvério;

*"Marioneta"*, realizado por Ana Franco, Bruno Cruz, Irene Sousa e Joana Bárbara;

*EU vs. EU, *realizado por Nuno Relógio;

ü *Dia 1095, *realizado por Inês Gaio, Jorge Felício, Pedro Nascimento, Tatiana Contreiras, Vida Kaucic, Mª João Parente.

- Perguntas do público aos convidados participantes.

*Quarta-feira, dia 9 de Junho (21h30) - *

- Participação da Professora convidada Ana Soares da Universidade do Algarve, explicando e relacionando o tema, e como e onde se apresenta no filme em questão;
- Projecção do filme "Fight Club" do realizador David Fincher;
- Perguntas do público aos convidados participantes.»


(texto da organização)

9 edições e 10 anos depois.. FINALMENTE UMA EXTENSÃO DO MONSTRA!!

O Festival de Animação de Lisboa, MONSTRA, nasceu no ano 2000. O seu objectivo central é o de alargar o âmbito de acção e de intervenção na área do cinema de animação e das artes que lhe estão associadas tanto em Lisboa como em todo o país.

Com o intuito de criar um profundo conhecimento da arte da animação que se realiza um pouco por todo o mundo, convida anualmente uma cinematografia da qual realiza uma ampla retrospectiva. Trazemos a Lisboa, filmes, autores, teóricos, jornalistas, realizando, com estes, exposições, seminários, encontros e workshops.


Para criar e aprofundar
o diálogo entre artes, a MONSTRA realiza anualmente um conjunto de encomendas onde propõe o encontro de artistas plásticos, músicos, encenadores, performers, Vj e Dj com a arte da animação.

Paralelamente, realizamos competição de curtas-metragens de estudantes de escolas de todo o mundo, fazendo de Lisboa o grande local de encontro dos jovens autores e do futuro da animação mundial. A competição profissional alterna anualmente entre curtas e longasmetragens,de forma a mostrar o que de melhor se realiza em cada 2 anos de produção nacional e internacional.


Enquanto obra artística o
cinema de animação é uma arte não exclusiva para as crianças. No entanto, temos a experiência de que a arte da animação, pela sua transversalidade e multidisciplinaridade de saberes que envolve, é uma das mais completas formas de formação que existe. Assim, desde o ano 2000 criamos a MONSTRINHA, a MONSTRA para os mais pequenos. Pretende levar às escolas, professores, pais e educadores o que de melhor se realiza nesta arte. Esta atitude revela-se não apenas pela projecção de filmes mas também, na criação de acções de formação, para crianças, jovens, pedagogos, pais e filhos, de forma a utilizar todo o potencial pedagógico e artístico da animação na aquisição de conhecimento.

Numa arte em que a formação é escassa e praticamente inexistente ao nível superior, o festival tem vindo a difundir e editar ensaios e programas de forma a criar um melhor e maior conhecimento da animação!
(texto da organização)

34 anos de Cinanima, um dos mais importantes e reputados Festivais de Cinema de Animação do MUNDO.

10 anos de Monstra, a 'resposta' de Fernando Galrito à necessidade de mais espaços consagrados a UM DOS MAIS CRIATIVOS, LIVRES E FASCINANTES géneros cinematográficos. em Lisboa, no caso.

aqui, este ano.

(custou)


MELHOR DO QUE 1 SESSÃO COM TODOS OS FILMES PREMIADOS, SERIA POSSÍVEL?

Não. Dia 1 de Junho, IPJ, 21h30.

Depois, uma mini-Monstrinha, com uma sessão para escolas (alunos de + 13 anos).

Dia 2 de Junho, IPJ, 10h30, entrada livre.

E ainda, pensando nos Cursos ligados às Artes e ao Design da Comunicação da Universidade do Algarve, uma sessão com Filmes Internacionais de Estudantes Universitários.

Dia 2 de Junho, Anfiteatro 1.4 do Complexo Pedagógico da Penha, 14h, entrada livre.




Filmes e imagens e tudo e tudo:


Sessão de Premiados MONSTRA 2010
DIA 1 DE JUNHO – 21H30 – IPJ

Duração total da sessão: 63’’
Sócios – 1€, Não-Sócios – 3,5€

Prémio Especial do Júri
DER DA VINCI CODE
, Gil Alkabetz, Alemanha, 2009, 2’58’’
Produção: Sweet Home Studio

No filme “The Da Vinci Time Code” uma pintura é desmontada para criar um filme animado com seus fragmentos. Diferentes partes desta imagem singular, baseadas em formas semelhantes, permitem-nos descobrir movimentos secretos.
As pessoas nesta imagem comem, dançam, debatem e discutem, até que finalmente estão
todas em silêncio.



Prémio Onda Curta
FRENCH ROAST
, Fabrice Joubert, França, 2008, 8’ 15”
Produção: Pumpkin Factory / Bibo Films
Produzido por: Louis Viau, Pascal Chevé e Bibo Bergeron
Argumento: Fabrice O. Joubert
Técnica: Curta Metragem / Animação / Comédia

Numa brasserie parisiense, um agitado homem de negócios está para pagar a conta quando se apercebe que perdeu a carteira. Para poupar tempo decide pedir mais café... Assado Francês é um filme de animação comandado pelas personagens sobre aparências enganadoras. Sem diálogos, a história é contada através da animação das personagens, música e som.

Prémio RTP 2 MONSTRA 2010 – Melhor Curta e Prémio Melhor Banda Sonora
DIVERS IN THE RAIN
, Priit & Olga Pärn, Estónia, 2009, 24’
Produtor: Kalev Tamm; Estonian Film Foundation
Argumento: Priit Pärn e Olga Pärn
Montagem: Priit Pärne Olga Pärn

Esta é uma história sobre um mergulhador e uma dentista noctivaga. Os seus beijos e são sempre de despedida... Ele é um mergulhador e tem de mergulhar. Ela está cansada e tem de dormir. Mas não há silêncio nos seus sonhos... E um grande navio está a afundar-se lentamente à chuva. Ninguém sabe quando haverá tempo para o último cigarro...

Melhor Curta de Animação Portuguesa
CÂNDIDO
, Zepe, Portugal, 2007, 11’
Produtor: Zepe (José Pedro Cavalheiro), Insectos, Cinema e Multimedia, Lampadacesa –
Cinema de Animação
Argumento: Virgílio Almeida e Zepe (José Pedro Cavalheiro) Montagem: Cátia Salgueiro, Nuno Beato
Música: Carlos Zíngaro, João Lucas, Paulo Curado, Ulrich Mitzlaf
Técnica: desenho sobre papel

Cândido nunca a amou. A manipulação é o seu jogo preferido.

Melhor Curta de Estudante
NEVER DRIVE A CAR WHEN YOU'RE DEAD
, Gregor Dashuber, Alemanha, 2009, 9’55
Escola: Hochschule für Film und Fernsehen (HFF) "Konrad Wolf"
Argumento e Animação: Gregor Dashuber
Animação: Gregor Dashuber
Música e Design de Som: Marian Mentrup
Produção: Julie Lamarre
Empresa de Produção: Hochschule für Film und Fernsehen (HFF) "Konrad Wolf" Potsdam-
Babelsberg
Editor: Martin Reimers
Técnica: Animação no papel desenhada à mão / Computador 2D

O desajeitado herói tropeça em cima de um grande piano esquecido.
A música conduzi-o da sua existência até à vida da cidade.
A partir daí ele toca uma marcha fúnebre para todas os mortos no passeio.


Melhor Filme para a Infância e Juventude
LES ESCARGOTS DE JOSEPH
, Sophie Roze, França, 2009, 12’
Produção: JPL Films
Argumento: Sophie Roze
Técnica: volumes

Joseph é um tímido e introvertido rapaz que colecciona caracóis. Um dia ele é engolido pela
sua próprio umbigo e descobre o mundo perturbador dos “olha-umbigos", pessoas que, apenas comunicam com o seu umbigo, enrolados sobre si mesmos e que se transformam em
caracóis...

Melhor Série para TV
LOG JAM
, Alexey Alexeev, Rússia/Hungria, 2009, 2’
Produção: Studio Baestarts
Argumento: Alexei Alexeev

Três animais estão tocando música até que são interrompidos por um caçador e o seu cão…




Melhor Curta de Estudante Português
A GRANDE TAREFA DO SENHOR POULET
, Andreia Costa, Portugal, 2009, 50’’
Escola: Restart

Um dia de trabalho atribulado para um senhor de grandes responsabilidades.



DIA 2 de Junho –10h30 - IPJ
MONSTRINHA (Programa para mais de 13 anos)


Colaboração – Direcção Regional de Educação do Algarve – Programa JCE
Duração total da sessão: 58'
Entrada livre


O GUARDIÃO DO FAROL
David François, Rony Hotin, Jérémie Moreau, Baptiste Rogron, Gaelle Thierry, Mailys Vallade, França, 2009, 3'15'', cor
Técnica: Animação 2D

O guardião de um farol é acordado do seu sono por um estranho insecto. E uma noite verdadeiramente estranha terá lugar.
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CAÇA
Ramil Usmanov
Rússia, 2009, 1'40'', cor
Técnica: Animação computador 3D

Dos caçadores, um urso... e um homem bizarro interfere...






MALA
Isabelle Favez
Suíça, 2009, 7', cor
Técnica: Animação computador 2D

Poderá uma mala cheia de dinheiro ser a solução para os problemas de um casal infeliz? Ou terão os assaltantes de bancos que perderam a mala outros planos? Uma história de avareza, traição e malas baratas.


PÁSSAROS
Filipe Abranches
Portugal, 2009, 7', p/b
Técnica: Desenho

As desventuras de uma mulher e seu filho, que julgava poder voar.

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SEMÁFORO
Adrian Flückiger
Suíça, 2008, 4'50'', cor
Técnica: Animação marionetas

A doninha Erwin vive dentro de um semáforo. O seu trabalho é verificar se a luz está correcta, todos os dias.


LAVATORY LOVESTORY
Konstantin Bronzit
Rússia, 2007, 10', cor
Técnica: Desenho

Uma solitária senhora, que trabalha a tomar conta dos lavos públicos, encontra um dia um ramo de flores dentro do seu frasco das gorjetas.



VARMINTS
Marc Craste, Inglaterra, 2009, 24', cor
Técnica: Animação 3D

Face a uma esmagadora urbanização, indiferença e imprudência, uma pequena criatura luta para preservar os restos de uma paz que ele conheceu em tempos. Os seus actos de amor altruístas plantam as sementes de mudança que serão a salvação do seu mundo. Mas a que custo para si próprio?



DIA 2 de Junho –14h – Anfiteatro 1.4 Complexo Pedagógico Penha
Programa Filmes de Estudantes Universitários


Colaboração: CIAC - UAlg
Duração total da sessão: 61'
Entrada livre


CORAÇÃO ASSOMBRADO
Winona Regan
EUA, 2009, 4'08''

Escola: Cal Arts
Música: Max Winston
Técnica: cel animation

Duas mulheres fogem para o seu próprio mundo selvagem.
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HRAS!
Blagoy Rostov
Bulgária, 2009, 4'23''

Escola: NATFA
Produção, Argumento, Animação, Compositing, Criação sonora e Montagem: Blagoy Kostov
Música: Ivan Kunchev

Num mundo de papel, alguém começa a criar conforto para si próprio, mas pouco a pouco vai ficando obcecado por fazer novos objectos, acabando por fim por destruir o mundo à sua volta.

LEBENSADER
Angela Steffen
Alemanha, 2009, 6'

Produção: Sinje Gebauer, Claudia Krüger
Argumento e Animação: Angela Steffen
Animação adicional: Conrad Tambour
Música e criação sonora: Clangoin.com
Técnica: lápis sobre papel/Digital Pro

Uma pequena rapariga encontra o mundo inteiro numa folha.

MAIS!
Fernando Antunes
Portugal, 2009, 4'30''

Escola: Universidade Católica Portuguesa
Produção e Edição: Fernando Antunes
Som: Martinho Cardoso
Design de personagens: Filipa Sousa, Francisco Rodrigues
Vozes: Fernando Antunes, Joana Barbosa
Composição Sonora: Carlos Loureiro

Mais é a história de um casal de gaivotas que escolheu para conceber as suas crias um rochedo no meio do mar.

O LAÇO
Thomas Charra, Michaël Crouzat, Kherveen Dabylall, Denis Do, Gabriel Jolly-Monge
França, 2009, 3'50''

Escola: Gobelins
Produção: Arnaud Demuynck
Técnica:animação 2D

China, no início dos anos sessenta. A população enfurecida está a perseguir um rico latifundiário. Mei é uma jovem trabalhadora que faz parte da multidão.


PRECES PARA A PAZ
Dustin Grella
EUA, 2009, 7'38''

Produção: Dusty Studio
Argumento: Dustin Grella
Som: Matt Israel
Música: Gary Millus
Montagem: Chu Chi Lin
Técnica: Desenhos animados tradicionais

A memória de um irmão mais novo morto no actual conflito no Iraque.

SONATA DE INVERNO
Yves Gutjahr
Suíça, 2009, 5'48''

Tutor: Ted Sieger
Produção: Gerd Gockell, Otto Alder, Jochen Ehmann, Lucerne University of Art and Design
Postprodução, Argumento, Animação: Yves Gutjahr
Música: Pierre Funck
Criação sonora: Philipp Sellier
Marionetas: Yves Gutjahr
Técnica: marionetas

Os quatro elementos acordam durante uma tempestade de Inverno. Uma história de amor trágica entre as forças da Natureza.

O CONTO ETERNO
Chi Cha Huang
Taiwan, 2009, 7'15''

Escola: Taiwan National University of Arts
Técnica: recortes

Era uma vez um peixe... que estava farto de se repetir a si mesmo nos mesmos espaços. Um dia, ele foge por acidente…



URSO
Moritz Mayerhofer
Alemanha, 2009, 10'

Produção: Stina McNicholas
Argumento e Animação: Moritz Mayerhofer
Animação adicional: Jonas Jarvers, Derek Roczen
Compositing: Moritz Mayerhofer
Música:Peter Gromer, Deutsches Filmorchester Babelsberg, Dirigent: Jörg Iwer

Durante muitos anos Urs cuidou da sua velha mãe. Agora, parte numa perigosa viagem: leva-a pela montanha acima para encontrar um lugar melhor para ambos. Mas a mãe não quer abandonar a sua casa...

VOL
Huseyin Bulut
Turquia, 2009, 2'20''

Produção: Huseyin Bulut
Argumento: Huseyin Bulut
Animação: Huseyin Bulut
Som: Huseyin Bulut
Montagem: Huseyin Bulut

O filme retrata o ciclo prejudicial de um homem que não tem consciência dos danos que está a causar ao ambiente ao cortar árvores da floresta para produzir papel para escrever sobre os seus sentimentos e, em seguida, os deitar para o mar para que todos os possam ler.

FILME LOBISOMEM
Noel Belknap, EUA, 2009, 3'

Escola: Cal Arts
Produção e Argumento: Noel Belknap
Animação: Noel Belknap, Marina Gardner, Zoe Moss, Gene Goldstein
Música: Robert Allaire

Um lobisomem está a ser atormentado pelos fantasmas dos homens que matou e comeu.


reminder!

hoje terminamos o ciclo Alto e Bom Som com o documentário de Steven Cantor e Mathew Galkin sobre os PIXIES. e a festa continua com o set do DJ SOLITAIRE.

noite adentro a boa música!

22h, Artistas, entrada livre.

até logo!

não é todos os dias que podemos ver um filme moçambicano e falar com o respectivo realizador! 6ªf, 18h, na UAlg, João Ribeiro.

28 de Maio, 18h, Entrada Livre

Anfiteatro 1.4 do Complexo Pedagógico - Campus da Penha.

João Ribeiro, realizador moçambicano



João Ribeiro apresentará a palestra - Os três actos do Cinema Moçambicano: Passado, Presente e Futuro.

Em seguida será exibida a curta-metragem O Olhar das Estrelas (2002), Fic., 25 mn, que faz parte de uma série de cinco adaptações cinematográficas de histórias do escritor Moçambicano Mia Couto.




As estrelas são os olhos das pessoas que morrem de amor….











João Ribeiro
Licenciou-se em Realização e Produção Cinematográfica e de Televisão na Escola Internacional de Cinema e Televisão de San António de Los Banõs (Cuba). Trabalhou para o INC (Instituto Nacional de Cinema) de Moçambique. Dirigiu várias curtas- metragens e foi director de produção em Moçambique do filme Blood Diamond de Edward Zwick. É o actual director da TIM (Televisão Independente de Moçambique).
A sua mais recente longa-metragem "O último voo do Flamingo", baseada no livro homónimo de Mia Couto, estreou na semana passada no Festival de Cannes no Pavillon de Monde e ainda em Espanha, no VII Festival de Cine Africano no passado domingo. Aqui figura na selecção oficial em competição, concorrendo aos prémios Griot de Viento, para melhor longa-metragem de ficção, Griot de Arcilla, para melhor realização, e também para os prémios de melhor interpretação masculina, feminina e especial do público.


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OU MORRO, OU FICO MELHOR - que título magnífico! belo filme de Laurence Ferreira Barbosa, hoje, 21h30, IPJ.

A tristeza na adolescência é raramente evocada com tanta sensibilidade e idiossincrasia como aquela que Laurence Ferreira Barbosa revela na história de um rapaz perdido e das suas mais recentes “conhecidas”, totalmente inconformadas. O amuado Martial (Civil) muda-se para uma nova cidade e para um novo apartamento com a mãe Sabine (Thomassin), que é compreensiva mas desequilibrada e que por vezes se esforça demais. Depois de a mãe de Martial tentar desastrosamente despoletar a vida social do rapaz, ele afunda na depressão ao mesmo tempo que lhe cresce um fascínio pelas colegas de turma, também socialmente excluídas: as gémeas Colette e Enerstine (Marine e Karine Barbosa).



À medida que a relação dos adolescentes se vai tornando numa folie à trois, os adolescentes vão caminhando de situações desajeitadas e humilhantes, para outras bem perigosas. A sensibilidade de Barbosa espelha-se num malabarismo entre a comédia, o embaraço social, e o drama psicológico numa história que – mesmo na volumosa área dos dramas dos adolescentes – se destaca como uma evocação de como é sentir-se jovem, estranho e solitário. As interpretações destes novatos da representação são notáveis. Civil e as irmãs Barbosa concedem aquele extra arrojado de hip-ness e perversidade perturbante.
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Jonathen Romney, The Times BFI London Film Festival


A história é de um adolescente obrigado a mudar de vida em consequência da separação dos seus pais. Martial (François Civil) vive num pequeno apartamento dos subúrbios com a mãe, (Florence Thomassin) que ao sentir-se asfixiada resolve abandoná-lo repentinamente e parte em viagem com o seu novo homem. De tempos a tempos, o rapaz segue o pai (Thomas Cerisola) na sua nova vida atribulada. Em vez de se deixar levar pela average girl que lhe permitiria meter-se na linha, Martial prefere envolver-se com as excluídas da turma: as gémeas. Enquanto isso, as gémeas negras supostamente mudas incluem Martial no seu jogo favorito: entrar em apartamentos burgueses na ausência dos seus proprietários, onde a mãe das duas costuma fazer as limpezas.

Ao sair do centro, Ferreira Barbosa não espera encontrar nos subúrbios maiores nuances ou a degradação psicológica, mas sim determinadas características que elevam as personagens a um registo cómico. A mãe também é tão desajeitada quanto o seu cabelo loiro possa sugerir; o pai inacessível ouve música trash metal que contrasta com a voz suave que tinha na sala, onde entoava um cântico de baleias. Lucas (Émile Berling) é o retrato do menino rico, cuja popularidade que tem no liceu deixa antever, numa visita clandestina à sua casa, que ele faz vela, tem roupa de marca e costuma filmar as suas experiências sexuais. As gémeas aventureiras Colette e Enerstine (Karine e Marine Barbosa) provam ser tão sedutoras quanto perigosas. O argumento mostra estas duas influências alternadamente, que acabam por conduzir Martial ao sexo depois do crime. Quanto às personagens secundárias, elas revelam-se em conformidade com as suas aparências: uma burguesa adverte a polícia de que uma rapariga negra invadira a casa dela…


Ferreira Barbosa não parte do subúrbio para se fechar entre os quatro muros da escola ou da cidade. A sua periferia é imaginária, um conjunto de ruas vazias, de gradeamentos e caminhos-de-ferro, de cemitérios, de rotundas, de pavilhões opulentos e lofts. Martial, deslocado do subúrbio e a um passo do clandestino, é introduzido a um mundo estranho, aberto como por magia pelas gémeas, cujas consequências só se conhecerão mais tarde nos locais de que elas têm chaves. Excluindo a coerência geográfica, Ferreira Barbosa revela-nos uma aparente ligação, em momentos de surpreendentes raccords e de rupturas radicais: logo após ter mergulhado durante 15 minutos num cenário irreal, o aparecimento da mãe das gémeas anunciando o regresso dos patrões obriga o trio a fugir, saltando uma cerca. Esta habilidade no trato e no ritmo é rara: se o meio é francês, a energia é a da comédia americana, como é americano o princípio das infracções em cascata num mundo múltiplo e estranho dentro de um subúrbio vulgar.
Daí a curiosidade do projecto: não se sabe se é um filme sobre a adolescência, sobre os subúrbios, sobre o liceu, ou sobre o divórcio. Comédia e drama, o fantástico e o realismo, a depressão e a euforia, o desejo e o desalento, todos estão ligados. Encontra-se aqui a razão pela qual Le Premier Venu de Jacques Doillon nos fez tão bem, numa maneira de harmonizar o peso do mundo nas alegrias da ficção, o cuidado da descrição social ao rigor do formalismo.


A aparição quase sobrenatural das gémeas não impede Ferreira Barbosa de progressivamente nos conduzir à intimidade das mesmas, descrevendo o jogo, a astúcia, os comportamentos e as patologias. Elas são negras, precisa-o a realizadora. Importa notar que elas provêm de uma minoria. A margem não é uma fatalidade, é uma posição intermediária a partir do qual se revisitam os meios, um retrato que nos obriga a deixar de encará-los como evidentes, a encará-los de forma a decifrar os enigmas, confrontando a sociedade a partir daquilo que a própria exclui.
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Antoine Thirion, Cahiers du Cinema


As personagens de Laurence Ferreira Barbosa, suicidários em potência, solitários inveterados que nos têm conquistado de um filme para outro, costumam viver com os pés um palmo acima da terra. Apenas um palmo, não mais do que isso: são uns revoltados discretos. Não se resignam ao quotidiano. Invariavelmente o “problema” vem de uma adolescência mal resolvida, tema caro à cineasta desde a meteórica estreia de 1993, “As Pessoas Normais Não Têm Nada de Especial”.
Desta vez, o ponto de vista é diferente. A argumento flui., mal se nota, e pela primeira vez Laurence não olha para a adolescência pelo espelho do retrovisor, mas de frente, através de Martial (François Civil, um prodígio), 16 anos, filho de pais separados. O seu encontro ocasional com duas colegas de liceu, duas gémeas africanas que se tornam suas amigas, abrem-lhe as portas da aventura.



“Ou Morro, Ou Fico Melhor” é um ritual de iniciação. Assume quer o prazer vem desse jogo, e é com toda a generosidade do mundo que se mostra permeável à comédia e a um tom de melodrama afectivo capaz de quebrar o gelo.
Francisco Ferreira, Expresso
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ENTREVISTA

Porque escolheu falar sobre a adolescência?

Ao começar a escrever, não estava a pensar fazer um filme sobre a adolescência. Quando se escreve um argumento, quer-se contar uma história, trabalhando sobre os temas que nos interessam naquele momento. A história de Ou morro, Ou fico melhor é sobre a relação de uma mãe com o seu filho, que juntos vivem uma relação de exclusividade. O tema é a emancipação do filho, e como uma mãe e um filho podem ter uma relação funcional, mesmo sofrendo de uma dependência um com o outro e, ao mesmo tempo, sentem a necessidade de se afastarem. À medida que se avança na adolescência, o modo como uma mãe deixa os filhos partir, deixando-os separarem-se, aceita-se os seus caminhos e o adolescente aceita deixar o ninho. Nesta situação, a mãe encontra-se sozinha com o filho. Ambos são seres frágeis, social e afectivamente. A questão aqui é saber como é que se vai progredir a partir daí. A Mãe e o filho apoiam-se mutuamente, só que essa aproximação exaspera-os. E a partir daí eu concentro-me no filho.

Este filme tem ainda mais em conta o ponto de vista do filho do que o da mãe…

Sim, ele é a personagem central. Eu queria encontrar adolescente, sem que ele falasse como um adolescente. Eu não mergulhei nas minhas memórias de adolescência, e nem fiz um trabalho de pesquisa sobre o que é ser adolescente. É interessante porque é uma altura ainda muito problemática, é uma passagem.
No filme, há um ponto de partida: um romance de aprendizagem. E é isso que me interessa.

Quais são as suas referências?

Para o adolescente, que às vezes é arrogante e outras vezes é inseguro, inspirei-me em À Espera do Centeio. O sentimento de superioridade e de diferença que provoca a sua exclusão na escola. A adolescência quer tudo e o seu contrário. E para a relação entre a mãe e o filho, eu pensei em Alice já não mora aqui com a introdução de um homem na vida dela que põe tudo em desordem - como é que um filho pode aceitar que a sua mãe tenha amantes?

O seu filme é muito justo, muito preciso. Foi o que inicialmente escreveu ou tomou este curso já a trabalhar com os actores?

Escolher um actor é desde logo um acto pensado. É sentir que ele vai trazer para o filme certas coisas que viram na casa dele. Por exemplo, François Civil tem um modo de andar que é peculiar, muito adolescente, e eu não pedi que trabalhasse aquele andar para o filme. A escolha dos actores é primordial, o mesmo filme com outros actores será bem diferente. Ele foi escolhido porque encontrei na casa dele coisas que eu imaginava pertencerem à personagem. Há um movimento duplo. Eu compreendo a personagem através destes actores, e espero que haja um reconhecimento do personagem através deles. Quando escolho um actor há uma parte desconhecida. Eu posso desapontar-me com a interpretação que faz de uma personagem, apesar de gostar deste lado desconhecido. Tinha várias possibilidades para a personagem da mãe e Florence Thomassin propôs-me algo quando me seduzi por ela.

É muito exigente na direcção dos actores ou há espaço para o improviso?

Não há lugar para o improviso. Uma vez escolhido o meu actor, não tenho a impressão de o ter dirigido muito. Existe uma espécie de acordo prévio com os actores, depois eu oriento-os. Dito isto, eu sou muito exigente. Eu parto de um princípio e depois, concentro-me nos detalhes. E são precisamente os detalhes que fazem a diferença. Eu sei o que eu quero, eu sou uma verdadeira picuinha.

O seu filme é muito realista e ao mesmo tempo muito estranho, quase irreal. Essa ambiguidade é voluntária?

Não, isso vem da presença das gémeas. Foram elas que trouxeram esse lado e eu fui deixando acontecer. Eu não forcei nada, deixei-as interpretar. Estava lá e foi bom, mas por mim, é tudo o que subsiste apesar de estar ancorado ao real. O lado estranho do filme reside na minha tentativa de entrar no imaginário do jogo. As gémeas e o Martial interpretam em conjunto, com um pouco de mise en scéne, os rituais. Eu tentei dar algo a este pequeno mundo que é fabricado através da interpretação. Quando eles estão no apartamento, eles escondem-se e aterrorizam à procura do perigo. E ao mesmo tempo, eles bebem. Estar-se embriagado permite que se entre nesta dimensão do jogo e da imaginação. E depois as gémeas não falam. Elas são forçosamente misteriosas. E vivem uma espécie de exclusão em benefício dos outros. Elas são como marginais, e por isso, os três partilham a solidão entre eles.


Titulo Original: Soit Je Meur, Soit Je Vais Mieux
Realização: Laurence Ferreira Barbosa
Argumento: Laurence Ferreira Barbosa, Nathalie Najem
Interpretação: Florence Thomassin, François Civil, Marine Barbosa, Carine Barbosa, Thomas Cerisola
Direcção de Fotografia: Julien Hirsch
Música: Reno Isaac
Montagem: Isabelle Poudevigne
Origem: França
Ano de Estreia: 2009
Duração: 113’
Nos próximos dias 27, 28 e 29 de Maio, vão ser exibidos em Santa Luzia 4 "importantes" documentários: Floripes, de Miguel Mendes, Praia de Monte Gordo e Praia da Lota 1989-2000, de Sofia Trincão e Óscar Clemente, e Páre, Escute e Olhe , de Jorge Pelicano. Trata-se do 1 Festival de Cinema, organizado pela Associação Almadrava.

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A entrada é gratuita!
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ajudado!

ela não está cá esta noite, mas o filme premiado que realizou sim:


Pelas Sombras, Catarina Mourão.

IPJ, 21h30 (Extensão Indie)

Uma mulher, os seus gestos e o seu paraíso privado. Aida e o seu palácio goês em "A Dama de Chandor" (1998)? Não, Lourdes Castro, artista plástica, e o seu jardim madeirense em "Pelas Sombras" (2010).
Mas é claro, concorda Catarina Mourão, 39 anos, há relações inescapáveis entre estes seus dois documentários sobre mulheres, casas e um microcosmos. É com humor, aliás, que a realizadora expõe o seu hipotético "fetiche" por pessoas "que têm muito tempo atrás de si", pessoas "com mais de 70 anos" ("se calhar sou eu própria precocemente envelhecida", ri-se).
"De facto houve momentos em que senti que estava a espelhar coisas: por exemplo, sempre que filmava rituais como os de abrir janelas. Mas há diferenças, e têm a ver com a relação estabelecida com as personagens". Estamos novamente de acordo.
"Em 'A Dama de Chandor' fui buscar aquela mulher para explicar um contexto: o da Índia portuguesa. A Aida começava logo por dizer que era da Índia portuguesa. Em 'Pelas Sombras' não tive a preocupação do contexto, de dar informação. Não me interessava fazer um retrato de artista. A Aida estava-se nas tintas para nós. A sua obsessão era a casa" - e aquele aristrocrático pragmatismo na forma como geria um mundo que acabou e que preservava sem excessiva generosidade para com a curiosidade dos que o visitavam. Por isso, a realizadora limitou-se a observar, "tentando apanhar as coisas à medida que elas iam acontecendo."
Em "Pelas Sombras", pelo contrário, "houve uma fusão com a casa, com o acto criativo". Coisa viva.
"A construção do filme foi muito baseada na minha relação com a Lourdes Castro. 'Pelas Sombras' também é um documento sobre a minha relação com ela." Uma relação construída no tempo, pelo tempo. E o tempo, fundamentalmente, constrói o filme. Que acaba por se transformar num "objecto" produzido por um Éden, aquele, contaminado por ele, pela luz, pela água, pelas sombras. Resultado: "Pelas Sombras" também é uma produção Lourdes Castro - o filme espelhará, aliás, uma espécie de co-autoria -, também é feito de luz e de sombras, é um objecto que pode habitar também a casa.
"A Lourdes é, de facto, de uma lucidez impressionante. Aquele é um Éden construído. A obsessão pelo presente, por desfrutar o presente, a desaceleração... tudo isso influenciou-me. Foi um filme feito por etapas, porque a Lourdes tem o seu tempo. É engraçado porque eu pensava que podia ser uma manta de retalhos, mas aquele tempo foi entrando em mim de forma inconsciente."
"Quando a conheci, não conseguia decifrar o que ela era", continua Catarina Mourão. "Ela é muito zen, e eu não sou nada assim. Em certos momentos achei que aquilo podia ser treta. Mas descobri que há um lado de solidão. E que ela não pode estar sempre a construir uma personagem. Faz sentido viver assim".
O filme estreou no Museu de Serralves, Porto, com a exposição "A Luz e a Sombra", antologia do trabalho de Lourdes Castro e Manuel Zimbro. Catarina Mourão testemunhou "reacções incríveis, muito emotivas, do mundo das artes plásticas".
Vasco Câmara, Público
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ENTREVISTA
Sempre admirou Lourdes de Castro e a sua arte, o "caminho de depuração" que levou a artista ao Teatro de Sombras e ao seu jardim. E foi esse momento de absoluta "harmonia entre a vida e a obra", em que deixou de ter sentido para ela fazer objectos para pendurar na parede que Catarina Mourão quis revelar no seu filme. Pelas sombras, que acaba de estrear no auditório do Museu de Serralves é a revelação de um retrato da artista no quotidiano da sua casa e do seu jardim.

Mas o próprio filme de Catarina Mourão, autora entre outros de A Dama de Chandor, Desassossego ou A minha Aldeia já não mora aqui, foi um "caminho", uma descoberta ao correr do tempo e há uma década que a ideia germinava do universo de Lourdes de Castro e da cumplicidade entre a artista e a cineasta.

O que essencialmente procurou captar e sublinhar com o seu filme?

Procurei trabalhar a ideia de que é possível falar sobre uma vida, um percurso, sempre a partir de um microcosmo.

Através do quotidiano da Lourdes percebemos outras questões que transcendem a sua arte mas que a marcam obviamente. Por exemplo a forma como estamos cada vez mais rodeados de betão e ainda tão pouco acordados para a defesa da natureza, para a nossa defesa. O filme tem uma mensagem ecologista, mas também uma dimensão filosófica. "O que é a vida? Qual o nosso papel enquanto aqui estamos?"

Por que decidiu fazer este filme? O que a motivou no trabalho da artista ou no seu percurso?

Sempre fui uma admiradora do trabalho da Lourdes de Castro, há uma dimensão plástica muito forte, mas também uma grande inteligência e sentido de humor. Por outro lado sempre me interessou a atitude por trás do trabalho, o caminho de depuração que Lourdes foi fazendo, até chegar ao Teatro das Sombras e ao jardim. E foi este percurso afinal que me motivou a fazer o filme, queria perceber e revelar este momento da vida da Lourdes em que para ela deixou de fazer sentido "criar objectos para pôr na parede".

Fui percebendo que a chave desta revelação passava por um retrato do quotidiano de Lourdes hoje na sua casa e no seu jardim.

Por outro lado já nos meus filmes anteriores havia esta preocupação de trabalhar sempre a partir do tempo presente, do quotidiano, e nesse sentido o meu caminho e o da Lourdes cruzaram-se de certa maneira.

Teve surpresas?

Antes de arrancar para o filme, sinto que já estava bastante próxima do universo da Lourdes de Castro, no entanto é evidente que com o passar do tempo o retrato desse universo se torna mais rico e complexo. Hoje aquilo que me continua a surpreender no seu universo é uma capacidade incrível de estar atenta ao pormenor e de conseguir uma harmonia muito grande entre a sua vida e a obra.

A criatividade e o prazer em fazer as coisas estão sempre presentes em qualquer gesto, independentemente deste resultar numa obra da artista ou se esgotar no quotidiano.

Como foi a experiência de rodagem do filme?

Como todos os filmes foi um caminho, onde temos de fazer escolhas. Neste caso tratandose de uma personagem é um caminho que passa por conhecer essa pessoa e perceber como vamos representá-la no filme. Por muito que tentemos que a pessoa filmada se reveja no retrato que dela damos, no fim há sempre uma construção da personagem e do seu mundo. Há uma história que se quer contar que tem uma verdade, um ponto de vista e que não pode conter todas as verdades. No caso deste filme com a Lourdes de Castro, houve momentos em que essas escolhas foram bastante discutidas entre nós as duas.

Foi difícil trabalhar com ela, dada a reserva que a parece caracterizar?

Há alguma história que possa contar? Os primeiros contactos com a Lourdes aconteceram há mais de dez anos, o filme é o resultado também dessa aproximação, dessa confiança. No início há sempre mais filtros e barreiras, tanto ela como eu estávamos a descobrir quem era a outra. Depois é um pouco difícil verbalizar, é uma relação afectiva e como em todas há momentos de maior cumplicidade e momentos onde é preciso trocar ideias, mas no fundo esse caminho acontece naturalmente. Houve momentos em que senti que ainda não tinha uma ideia clara do que este filme ia ser, ele foi tomando forma na rodagem e depois mais tarde na montagem e lembrome de perguntar à Lourdes se ela conseguia perceber o que eu estava a fazer a partir das cenas que ia filmando. Ela respondeu-me que neste momento parecia-lhe que eu tinha uma data de post its uns em cima dos outros e que ainda não havia um fio condutor... mas que eu havia de o encontrar... e era verdade. Aprendi com a Lourdes a ter menos pressa.

Pelas Sombras foi marcante no seu próprio trabalho, de que maneira marcou o seu cinema?

Ainda é cedo para eu conseguir fazer essa reflexão, não sei de que forma este filme vai marcar o meu cinema. Vejo-o como um filme que estabelece uma grande continuidade com os filmes que fiz antes, nomeadamente com o Desassossego e a Dama de Chandor, mas por outro lado julgo que se trata de um filme menos observacional de certa forma mais construído. Não há uma preocupação tão grande de informar ou dar um contexto, a motivação é sempre levar-nos a mergulhar num ambiente, num universo. Não sei. Devolvo a resposta a esta pergunta aos espectadores...

Leonor Nunes, Sapo

Extensão Indie começa 4ªf.

Programa já estava aqui.

Quanto aos vouchers da Caixa Geral de Depósitos, esses, caros amigos, foram (?) entregues pela dita cuja aos clientes que bem entenderam, vulgo, os vouchers são convites... nada para vosotros, infelizmente.

E pronto: até ao IPJ, 21h30, 4ªf e 5ªf. Este mês é sempre a abrir!!

depois das aulas é sempre durante as aulas. uma obra-choque-prima-de-estreia de antonio campos. não o nosso. o dele.

NOTA DE INTENÇÕES
Hoje mais que nunca graças ao computador e à Internet somos capazes de ser testemunhas, no conforto dos nossos quartos e das nossas salas, de cenas que tanto podem ser extraordinárias como monstruosas. As pessoas deixam-se fascinar por estes pequenos vídeos, sejam divertidos ou violentos, porque a sua existência e situa à margem das suas próprias vidas. É o caso de Robert, a personagem principal de AFTERSCHOOL – DEPOIS DAS AULAS. Estamos sempre a ser observados, ou pelo menos corremos o risco de uma tal vigilância. As câmaras digitais já nem são uma opção que se possa não escolher num telemóvel ou num computador e as câmaras de vigilância invadem o espaço público. Antes da era da tecnologia digital, o olho de Deus era uma abstracção. Hoje, com uma pequena câmara, tranquilamente escondida num bolso, podemos filmar qualquer coisa, que pode em qualquer momento ser partilhada com o resto do planeta. Através da personagem de Robert, procurei examinar o meu próprio fascínio, posicionando-me como observador e documentarista. Enquanto cineasta, o meu método preferido é deixar os actores interpretar cenas inteiras numa única take. Deixando a sequência ganhar corpo na sua duração, de forma quase orgânica, espero que nasça uma autenticidade.
Descobri também que se esperarmos o suficiente podemos ter a sorte de ser testemunhas de um momento fundamental, seja comovente ou chocante. O objectivo último é sempre aproximar-me o mais possível do real.

CRÍTICAS
Não queríamos falar do 11/09, mas temos que começar pelo 11/09. Antonio Campos tinha 18 anos em 2001. E tinha um amigo com um pai a trabalhar no World Trade Center. Foi assim que a morte passou por perto, no último ano do liceu de Antonio. (Meses depois, a morte passaria por ele outra vez: um amigo desapareceu num desastre de automóvel.)



“Afterschool – Depois das Aulas” não tem nada a ver com o 11/09. Mas tem tudo a ver com a morte. O argumento nasceu dos sentimentos contraditórios que abalaram o protegido mundo de quem se despedia da adolescência em 2001: “Senti-me emocionalmente próximo e distante do que aconteceu aos meus amigos, simultaneamente envolvido e afastado. Essa experiência marcou-me.” Perda e culpa. “A ponto de começar a escrever um argumento.”


E não falamos mais do 11/09. Anos depois - Antonio Campos, 25 anos, resume ao Ípsilon, ao telefone de Nova Iorque - uma temporada por Paris como bolseiro da Cinéfondation do Festival de Cannes colocou esses sentimentos de perda e de culpa no desenvolvimento de outro argumento. Em que um adolescente, Robert, aluno de um colégio da elite novaiorquina, obcecado com os vídeos que aparecem na Net como cogumelos (é assim que Robert experimenta a vida: em “clips”, curtas sequências “de coisas que parecem reais”), filma sem querer a morte por “overdose” de duas irmãs gémeas. Robert é como Antonio: envolvido com os seus sentimentos e simultaneamente afastado deles. É assim que o realizador se descreve.

Junta a isso, assume, a incapacidade de encontrar uma coisa a que possa chamar “identidade cultural e social”: é filho de Lucas Mendes, correspondente internacional da TV brasileira, criador do programa “Manhattan Connection” no canal GNT, e de uma produtora, e em tempos “manager” de Pelé, Rose Ganguzza. Dizemos-lhe que é uma sensação estranha: falar em inglês sobre um filme americano com alguém que tem um nome português. “Não me sinto em casa em sítio nenhum. O meu pai é brasileiro, a minha mãe fala português, os meus irmãos também. Mas no Brasil não me sinto brasileiro, na América não me sinto americano. A única cidade onde consigo viver é em Nova Iorque.” É preciso, então, agradecer à confusão. É ela que torna “Afterschool – Depois das Aulas” uma aventura tão obsessiva para o espectador. É isso que faz do filme uma superfície reflectora de emoções que crescem tanto que lhes conseguimos tocar - só elas se deixam agarrar. É isso que faz de “Afterschool – Depois das Aulas” um dos filmes de 2008.


Se quisermos continuar a imaginar “Afterschool – Depois das Aulas”... Um ecrã grande, como num filme dos anos 1950, e longos planos-sequência que observam pura e simplesmente o que acontece: um colégio para os obviamente favorecidos, os rituais das aulas, a sexualidade em picardia no refeitório, os computadores... E os adultos ausentes, fora de campo ou do outro lado da linha telefónica. Os planos-sequência observam, como num documentário. Não é por acaso: o desenvolvimento do argumento aconteceu ao mesmo tempo que o jovem americano em Paris descobriu a obra do documentarista Frederick Wiseman, muito especialmente “Highschool”, numa retrospectiva. Mas às tantas o ecrã de “Afterschool – Depois das Aulas” diminui. A espaços o ecrã reduz-se à dimensão de um quadrado ou de um rectângulo do YouTube. São os vídeos que Robert encontra na Net. Esses momentos dão-lhe a sensação de verdade - em ecrã grande a realidade é vagarosa, afunda-se em torpor. E assim também o espectador se move ao sabor desta hierarquia de imagens, encontrando, como Robert, mais “realidade” nos “clips” do que nos corredores da escola; ou entrando, como Robert, por túneis assombrados, já que não sabe onde está a realidade, se nos “clips” de vídeo se nas imagens em ecrã grande da escola.



“Essa é a ideia básica deste filme, a nossa percepção das imagens. Aquilo a que chamamos realidade é apenas uma parte da coisa. Nunca é a realidade, é sempre uma parte da realidade” - isso explica, nos assombrosos enquadramentos, os corpos que nunca cabem no ecrã, as composições de uma perfeição superior mas nunca “desenhada” (o segredo, diz-nos, foi nunca ter dito aos actores se eles estavam dentro ou fora de campo, o segredo foi deixá-los movimentarem-se à vontade; o segredo da perfeição é a imperfeição).


Chegados aqui, é provável que “Elephant” de Gus Van Sant venha à memória - mas sempre que se fala em adolescência no cinema, passou a ser um automatismo ou uma afectação referir esse filme. Ou as experiências de tubo de ensaio com que o austríaco Michael Haneke faz o seu cinema. A primeira referência incomoda Antonio Campos, e percebe-se porquê: não tem nada a ver. A segunda não incomoda, trata-se até de um cineasta e de uma obra que admira - mas, dizemos nós, em sensualidade e em emoção Campos bate o programático Haneke.


Visto o filme, saltará à vista o clínico Stanley Kubrick, cineasta que mudou a vida deste jovem nova-iorquino (culpa de “Laranja Mecânica”) que aos 13 anos, graças à barba precoce, passava por 16, o que lhe permitiu matricular-se num curso de seis semanas da New York Film Academy. Já nessa altura o pai o alimentava a cinema japonês e a clássicos europeus. Mas esquecemos Haneke, Kubrick, Van Sant, e atirámos outra hipótese de filiação, menos evidente, mais interior: Michelangelo Antonioni. Desta ele não estava à espera... Por causa de “Blow Up”, onde há um homem obcecado em fotografar a realidade e que acaba engolido por ela? (Antonio Campos nem gosta de “Blow Up”...) Não, por causa de “Deserto Vermelho”, onde a realidade resiste a ser lida, descodificada, onde homem e tecnologia se fundem na paisagem. Foi então como se uma porta se abrisse... “É o filme de que gosto mais de Antonioni. Talvez... também aí havia um elemento humano e um elemento tecnológico no mesmo plano. Esse filme também se parecia com ficção científica. Sim, há 10 anos ‘Afterschool’ não teria sido possível ou seria um filme de ficção científica. Porque a realidade de que fala é a de uma tecnologia ligada a hoje.” E no entanto, “Afterschool – Depois das Aulas”, primeira longa, é já um filme de despedida.


Aos 25 anos, Antonio Campos tem um razoável currículo de curtas - fez a primeira aos 23, já esteve em concurso em Cannes. Todas elas, revela, sobre jovens da geração YouTube (numa, “Buy it Now”, de 2005, uma rapariga vende a virgindade no E-Bay). Foi crescendo e documentando a sua geração. “Experiências em primeira mão, minhas ou dos meus amigos, sobre o que é ser ‘teenager’ na América. Tenho um fascínio por aquela fase desastrada em que não sabemos quem somos ou aquilo de que gostamos... Não me interessa contar a típica história de crescimento em que o cinema americano é pródiga, a história de rapaz que conhece rapariga, os dois experimentam algo e depois tornam-se adultos e mudam. Interessa-me observar a transição e não o sítio onde as personagens chegam. Interessa-me a ambiguidade. Como Robert em ‘Afterschool’ eu não tenho a pretensão de saber quem sou.



Mas o meu próximo filme vai contar a história de um rapaz e da sua mãe em Nova Iorque num período de 20 anos - ou seja, a adolescência é apenas um pedaço dessa existência. Estou, portanto, pronto a mudar. Sinto que ‘Afterschool – Depois das Aulas’ foi a minha exploração terminal deste mundo”.
Antonio Campos cresceu, mas nunca vimos isso. Quando o encontrámos ele já era grande... cineasta.
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Vasco Câmara, Público


Não fosse Antonio Campos um miúdo de 26 anos e "Depois das Aulas" podia ser a ilustração do pesadelo de um pai que se tivesse deitado com uma súbita inquietação sobre"o que é que os miúdos andarão a fazer". Mais vale nem saber, e na verdade pai nenhum em "Depois das Aulas" sabe muito bem coisa alguma - estão longe, são uma voz ao telefone ou, no momento em que "Depois das Aulas" efectivamente deixa entrar os pais, são uma presença assarapantada na sequência de um momento traumático, e continuam sem ver ou perceber coisa alguma. O que não impede, e pelo contrário reforça, que o pesadelo lá esteja (e não só como força de expressão: o filme acaba com uma "interrupção" mais do com um "fim", abruptamente como nos pesadelos que ficam a fracções de segundo de um clímax horroroso). Tem é que ser visto dos dois lados: o que os miúdos andam a fazer é inquietante, mas não o é menos o que se anda a fazer aos miúdos. "Depois das Aulas" também é, e de que maneira, um filme sobre esta inquietação.



Larry Clark ("Kids"), pela franqueza, ou os filmes de adolescentes de Gus van Sant, mais pela cadência (ou pela dormência), são lembranças que fazem pelo menos algum sentido, mas que se diluem na atmosfera rigorosamente definida do colégio interno em que se passa a acção de "Depois das Aulas". Começa-se a pensar mais em ficção científica, e naquele colégio como uma nave espacial em missão sideral, como uma cápsula sem nada à volta. Campos gosta especialmente de Kubrick e de Haneke, e isso nota-se: há algo de "kubrickiano" no tratamento do espaço, há algo de "hanekiano" na maneira de gerir a duração e a tensão de cada plano. Há até um pouco mais de Haneke, visto que o protagonista de "Depois da Escola" é um parente não muito distante do protagonista do "Benny''s Vídeo" do realizador austríaco, "videófilo" e "videasta" amador como ele, e como ele surpreendido pela materialidade, pelo peso, que não existe nas imagens mas existe nas coisas e nos corpos verdadeiros. É outra questão que atravessa o filme, onde entramos através dos "clips" tipicamente YouTube que o rapaz vê no computador, a execução de Saddam, duas raparigas à bulha captadas por uma câmara de segurança, e (o que já não é tipicamente YouTube mas é tipicamente Internet) um excerto de um porno. Estas imagens vão ser rimadas ao longo do filme, mais notoriamente as do porno (modelo de comportamento sexual que quando finalmente se concretiza é o seu oposto: trapalhão e sem espectáculo) mas mesmo as da execução de Saddam, porque a certa altura (depois do "trauma": a morte de um par de gémeas por "overdose" decocaína adulterada, numa cena magistralmente filmada e mais tarde revista e recomposta noutras perspectivas) o ambiente no colégio se torna securitário e restritivo e porque esse tipo de reacção ao "trauma" nos reenvia para o contexto da morte de Saddam (o pós-11 de Setembro), que não é nada seguro que Campos não tenha querido glosar. Até porque esse momento corresponde ao ganho de proeminência da figura que assume a autoridade paternal (o director da escola), e porque o seu discurso justificativo, vago e redondo, ecoa os discursos justificativos, vagos e redondos, que tipicamente se ouvem da boca dos lideres políticos (de direita e de esquerda) desta nossa era tão rica em democracias paternalistas.

Neste mundo codificado, o colégio é a expressão de um universo onde tudo (do porno à política) se orienta porcritérios que definem bem o que é "apropriado" e o que não é. Ao associar explicitamente o vídeo (um "tributo" às gémeas mortas) feito pelo protagonista mas rejeitado pelo colégio ("nem sequer tem música", dizem-lhe, e também não a há em "Depois das Aulas") ao seu próprio filme, Campos transforma esta sua primeira longa numa profissão de fé no poder subversivo do cinema e, o que vai dar ao mesmo, num elogio do "inapropriado".
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Luís Miguel Oliveira, Público

ENTREVISTA
Antonio Campos, 26 anos, nova-iorquino. Filma desde os 13. Vem documentando a adolescência, o que é isso de crescer com a Net. Encontrámo-lo agora que ele é grande. Cineasta. "Depois das Aulas" /"Afterschool" é um filme muito deste tempo: o presente parece o futuro.
Voltamos sempre ao local onde julgamos que fomos felizes, e a nostalgia pousa aqui, em Pigalle, Paris. Podia ser uma residência para estudantes, e de alguma forma é isso o local onde vivem os bolseiros do programa da Cinéfondation do Festival de Cannes que ali desenvolvem, durante cinco meses, o argumento da que virá a ser a sua primeira-obra. Nas portas dos quartos uma placa assinala quem por ali já passou - serão os novos cineastas deste mundo. Na porta do frigorífico reactivam-se rituais desta leva, certamente iguais ao das anteriores. Quem chega do cinema - que pode ser o computador do quarto ao lado - diz ali o que pensa. As listas já vão compostas: mais canónicas ("Classical films" são os de Murnau, é "Fargo", "Deserto Vermelho" "A Vida e a Morte do Coronel Blimp" ou "Persona"), mais desobedientes ("Evil films" são "todos" os de Ron Howard - é verdade... -, é "Forrest Gump", "O Resgate do Soldado Ryan" ou "Million Dollar Baby" de Eastwood) ou a disparar à procura de alvo: nos "filmes masturbatórios" estão "L'Humanité", de Bruno Dumont, "As Horas", de Stephen Daldry ou "Batalha no Céu" de Carlos Reygadas.

Nostálgico?
Um pouco...

O nome de Antonio Campos está inscrito na placa da porta de um dos quartos. Em 2006, depois de ter ganho um prémio em Cannes no ano anterior - tinha 21 anos - com a curta "Buy it Now", foi seleccionado para a residência da Cinéfondation. Chegou a Paris com uma história de adolescência e morte que começou a escrever no final do liceu, aos 18 anos, em Setembro de 2001. O pai de um amigo morrera nas Torres Gémeas. (Na mesma altura, um amigo morrera de desastre em Amesterdão.) O envolvimento e a distância, sentimentos de perda e culpa, ficaram a trabalhar nele e começou a escrever sobre um adolescente, Robert, e a morte no colégio - duas gémeas.
Paris deu fôlego à coisa. O andar, sem saber para onde ir, por cafés, a ansiedade do "outsider", por estar separado da família, abriram uma "ferida" e isso "alimentou". Tudo à volta alimentou - por exemplo, uma retrospectiva na Cinemateca dedicada ao documentarista Robert Wiseman. E foi em Paris que entrou o vídeo em "Afterschool"/ "Depois das Aulas".
Foi numa sessão nocturna de "brainstorming" que o vídeo apareceu. Algures nos meus rascunhos tinha escrito que Rob tinha aulas de vídeo; até aí não tinha estabelecido ligação com a personagem. Estamos ambos interessados em observar as pessoas. Em procurar a verdade das imagens...

Mas as imagens podem mentir...
Sim, mas acreditamos que elas dizem a verdade.

Um adolescente e as imagens. O cenário é um colégio nova-iorquino para privilegiados. Robert (Ezra Miller) será então como Antonio: envolvido com os sentimentos e afastado deles. É uma questão de identidade por completar que une a adolescência e o hoje já não adolescente Campos, 26 anos, um nova-iorquino com sangue brasileiro e italiano. ("O que é que sou? Mas será que isso interessa? Brasileiro? Não me sinto brasileiro. Americano? Não me sinto americano, sou nova-iorquino").

Robert está obcecado pelas erupções de "realidade" no YouTube (Campos poderá dizer isso sobre ele próprio, pelo menos num momento da sua vida): são os "clips", de um gato a tocar piano ou de Saddam Hussein enforcado, que dão a sensação de âncora quando tudo à volta parece liquefazer-se. Sempre ligado e desligado, tantas imagens! O que é que elas fazem sentir? Tanto, que não se consegue dizer? Nada?

Rob é visitante do site porno nastycumholes.com. Quando o conhecemos está em plena masturbação. O momento em que uma mão pressiona a garganta da actriz, preliminar de humilhação antes do coito, Robert também o reproduz, tacteando o pescoço da namorada.

Para o trabalho de vídeo, a classe é dividida em grupo, Rob fica encarregue dos planos gerais da escola. E é quando filma um corredor que capta acidentalmente a "overdose" de duas gémeas. A morte tem sangue, odor, fluidos, não é como as imagens.

O espectador está como Rob: toca o ecrã embora sem a certeza de descrutinar as emoções. É superfície reflectora, obsessiva, mas resiste. Em "Afterschool" somos levados ao sabor de uma hierarquia: do esplendor da composição dos planos em ecrã grande - desenrolar observacional, como num documentário - à velocidade dos pequenos rectângulos do Youtube (que aqui se chama ClipUs). Tocamos algo, não sabemos o quê.

Antes que se comece a pensar em Gus Van Sant, por causa dos adolescentes e da morte na escola, diga-se que se o realizador de "Elephant" trabalha a partir de uma imagem, de uma iconografia da juventude (isso é verdade também para Larry Clark), a Antonio Campos não interessa(m) a(s) imagem(ns) do adolescente; interessam o adolescente e as imagens. Isto somos nós hoje e é como um susto: o futuro.

Todas as ficções são documentários de uma época. "Afterschool" tem essa dimensão. Mas tem algo de ficção científica. O presente já como futuro, como em "2001-Odisseia no Espaço", de Kubrick, e "Deserto Vermelho", de Antonioni. E a tecnologia. Faz sentido esta associação?
Sim. Foi interessante perceber que "Afterschool" é um pouco filme de ficção científica. Mas hoje todos os dias vivo num filme de ficção científica: sempre que estou no Skype, no computador, a falar com alguém que me vê e que eu vejo. Queria que as personagens pertencessem a este tempo, mas que quanto mais me focalizasse nisso mais parecessem estar no futuro. O lado "clean", as paredes brancas, o barulho das salas - há sempre um rumor no "Deserto Vermelho" -, um som que existe sempre nos lugares mesmo que nos tenhamos tornado imunes a ele. Não foi algo que forçasse: pus a câmara no topo de um computador e imediatamente pareceu que Hal [o computador de "2001..."] estava a olhar. É o mundo em que vivemos.

As personagens parecem estar sempre a ser olhadas por alguém. Os corpos são objectificados: separa-os, corta-os com o enquadramento...
Há várias coisas. Alguns planos podem ser vistos como planos de câmara de segurança, que é uma câmara que não se controla. Por outro lado, quando se vê uma parte do olho, ou da boca ou de uma mão de alguém, isso é tudo o que se tem de uma personagem e o nosso cérebro cria um "close up". É um plano geral que se torna grande plano, o que dá intensidade a um gesto ou a um momento sem ter de fazer "close up". É como estar numa sala com um grupo de pessoas, fazer um "scan" e focalizarmo-nos numa pessoa, naquilo que ela está a fazer.

É claro: "Afterschool" não é um filme Youtube. As imagens têm peso. Nem a identidade do cineasta Campos é absorvida por uma imagem típica do "indie" americano e seu "marketing". Aqui o mundo novo coabita com algo de antigo, tão antigo que já pode ter desaparecido, pelo menos na forma que o conhecíamos: o cinema. É coisa de descoberta, de interdito. Era assim que se passava. E Campos continua a preferir os filmes em sala. Culpa da "babysitter". A palavra, então, ao relato biográfico deste filho do jornalista brasileiro Lucas Mendes, correspondente da Globo em Nova Iorque e hoje editor e apresentador do programa "Manhattan Connection", e da produtora Rose Ganguzza.
Não havia "babysitter", a minha mãe levava-me a ver tudo o que ela queria. Lembro-me de "Black Rain" [Ridley Scott, 1989], terei dito no meio do filme que nenhuma mãe deveria levar uma criança a ver um filme daqueles. Mas o meu pai achava que estávamos a ver demasiados filmes de Hollywood. "Vamos ver filmes estrangeiros todas as semanas".
Passámos a ir ao Angelika [sala vocacionada para o cinema de autor, americano e estrangeiro, em Nova Iorque]. Vi "Johnny Stecchino" [Roberto Benigni, 1991], o filme mais divertido que tinha visto... E um dia fomos ver "Jogo de Lágrimas" [Neil Jordan, 1992]. O cinema estava cheio, tivemos de nos sentar separados, eu num lado e os meus pais no outro. Sempre soube que havia algo de errado com a personagem. Acho que sabia que [a suposta personagem feminina] era um homem. Quando chegou o momento de revelação, o pénis, fiquei excitadíssimo porque tinha adivinhado, e virei-me para os meus pais, e eles envergonhadíssimos. Depois, numa semana vi "8 ½" [Fellini, 1963], "Os Sete Samurais" [Kurosawa, 1954] e "Os 400 Golpes" [Truffaut, 1959]. Vi "Pulp Fiction" [1994] aos 11 anos. E "Trainspotting" [1996]. Lembro-me que num "trailer" de "Trainspotting" se dizia que era "a 'Laranja Mecânica' desta geração" e fiquei excitadíssimo, tinha que ver essa "Laranja Mecânica" [Stanley Kubrick, 1971]. E vi, aos 13 anos. E foi aí que decidi que queria ser realizador.
Diz-me que filmes viste - e como os viste - e dir-te-ei que cineasta és? Campos fala maravilhado de um plano-sequência de "The Prefab People" (1982), de Béla Tarr; trouxe de Nova Iorque DVDs, o de "Caught", de Max Ophuls. Anda a ver Fuller. E, pela primeira vez, "Os Inadaptados", de Huston. Refere Wiseman, Bruno Dumont, "Jeanne Diellman" de Chantal Akerman, Michael Haneke...

Não fala do cinema americano de que muitos novos cineastas hoje falam: o dos anos 70...
Mas há um filme crucial, dessa época, para "Afterschool": "The Conversation" [1974], de Coppola. Gene Hackman chega ao apartamento, sai do enquadramento, a câmara fica parada como se não se desse conta que o Hackman não estivesse ali e só depois é que se vira para o enquadrar.

Como se a câmara começasse a pensar...
Ou como se o operador se tivesse esquecido. É importante ter a consciência que estamos a olhar para alguma coisa. Que há alguém a olhar para alguém...

Se avançamos pelos filmes é para regressar à biografia. A "brazilian connection" é coisa em que os jornalistas brasileiros insistem mas o rapaz não pode fazer nada: do que viu não ficaram marcas. Apesar da família, da música, de Caetano, de Gilberto Gil, da colectânea "Beleza Tropical" (1989), de David Byrne, que o pai ouvia no carro e ele ainda hoje ouve.
Ele tem de perceber: é estranho Antonio Campos ser o nome de um nova-iorquino. É o vício de etiquetar, de imobilizar alguém no retrato, ou ele é que se esconde? Sempre pode responder que a dificuldade de pertença é ele mesmo. É isso que o faz ser Antonio Campos. É assim desde a escola. E a de "Afterschool" é igual à que ele frequentou, a Dwight School.
Foi estranho, não tinha amigos, por isso não tinha nada para fazer depois das aulas e decidi concentrar-me na escola. Tornei-me bom aluno e comecei a ser incomodado por ser bom aluno. Não sabia o que fazer e comecei a criar uma identidade para mim próprio, a identidade do bom aluno. Foi nessa altura que me interessei por filmes.

História clássica de cinefilia...
Sim, os filmes foram um escape. E uma forma de me encontrar. Estava infeliz e para lidar com isso comecei a escrever sobre tudo o que acontecia como se estivesse a acontecer a outra pessoa. Essencialmente escrevia cenas para filmes. Foi uma transição infeliz, mas foi isso que me fez fazer filmes. Precisava de expressar a minha confusão.
A escola era muito cara. Era difícil para os meus pais pagarem, os meus pais são classe média. Tinha boas notas, por isso podia ter bolsa. Mas foi a primeira vez que percebi que havia pessoas com dinheiro e pessoas sem dinheiro. Muito do que Robert sente tem a ver com o que senti. Ia ter com a minha mãe à noite a dizer que ninguém gostava de mim [como no filme].

Realizou um teledisco para os Shins, "Sleeping Lessons". O que anda a ouvir?
Julian Casablancas ["Phrazes of the Young"]. Que frequentou a minha escola. No meu último ano do liceu foi quando os Strokes explodiram. E isso encheu-nos de orgulho. Julian liricamente é muito inteligente, os arranjos lembram-me coisas da soul, são peças muito bem orquestradas. Quando oiço os Strokes lembro-me das coisas melhores da escola.
Voltamos sempre ao lugar onde julgamos que fomos felizes.
Vasco Câmara, Público



Título Original: Afterschool
Realização: Antonio Campos
Argumento: Antonio Campos
Interpretação: Ezra Miller, Jeremy White, Emory Cohen, Michael Stuhlbarg, Addison Timlin, Rosemarie Dewitt
Direcção de Fotografia: Jody Lee Lipes
Música: Rakotondrabe Gaël
Montagem: Antonio Campos
Origem: EUA
Ano de Estreia: 2009
Duração: 106’


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