"Em terra de cego quem tem olho..."

"Blindness", quinto filme de Fernando Meirelles, abriu o Festival de Cannes no último dia 14, e está também concorrendo a Palma de Ouro. A película é uma adaptação de "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago, único escritor de língua portuguesa agraciado com o Nobel de literatura, em 1998.

Co-produção nipo-canadense-brasileira, o longa só vai estrear mundialmente a partir de setembro. No elenco multiétinico (ou “globalizado”, se preferir) estão Julianne Moore, Mark Ruffalo, Danny Glover, Alice Braga, Gael García Bernal e Sandra Oh. Nos países de língua portuguesa o filme terá o mesmo nome do romance, deferimento do Saramago.

Voltando ao Cannes, "Blindness" dividiu crítica e público: foi recebido com frieza por um e com aplausos de cinco minutos por outro. "Não vai obter fãs, mas muitos admiradores entrincheirados", profetizou a revista Time; já o jornal Le Monde o denominou um “thriller filosófico”.

Na rede, além do site oficial, o filme tem um blog chamado "Diário de Blindness", escrito pelo próprio Meirelles, onde acompanhamos desde o primeiro “não” de Saramago, passando pelo encontro do autor português com o diretor em Lisboa, as filmagens (no Canadá, Uruguai e Brasil), as diversas montagens e todas as nuances que um sett pode ter. Bem interessante ver esses “extras”, como um bônus de DVD que ainda será lançado.

O livro, editado em Portugal pela Editorial Caminho e no Brasil pela Cia. das Letras , relata uma doença inexplicável, contagiosa e incurável, que deixa a visão da pessoa inundada por um “mar leitoso”. Inserido na “treva branca”, a primeira vítima vai para um oftalmologista, onde dissemina a praga para outros. Os cegos são alojados em um asilo desativado, desapropriados de seus direitos civis e vigiados por um exército que tem ordens para matar quem tentar fugir. Mas a epidemia continua a se espalhar pelo mundo mesmo assim.

Saramago faz uma grande metáfora da civilização desmoronada, das facetas da natureza humana, da degradação do sistema em si e da cegueira moral da sociedade (na epígrafe do livro: “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”). Não batiza os personagens e nem a metrópole que acontece a tragédia, refletindo seus ideais comunistas. "Ensaio sobre a cegueira", o filme, além de passar a atmosfera angustiante, física e apocalíptica da literatura, terá que traduzir também toda a complexidade política, antropológica, psicológia e social. Tarefa bem difícil, como outros vários exemplos de adaptações já provaram...

Se o livro merece ser lido (e relido)? Que pergunta! Lógico! Se valer a pena assistir à adaptação em setembro? Por que não? É uma outra visão da obra! Agora, se o filme vai estar à altura da prosa de Saramago? Ai, veremos...

5 comentários:

Artur Guilherme Carvalho disse...

Foi com grande alegria que tomei conhecimento que o CCF tinha um blog. Ainda bem. Também tenho um com váris (es)criticas de cinema que vos possso disponibilizar qndo quiserem. Já mandei os dois últimos mas não sei se chegaram aí pq ninguém me confirmou. Um abraço
ARTUR GUILHERME CARVALHO

mAmAdA_mAn disse...

WWW.MOTORATASDEMARTE.BLOGSPOT.COM


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pseudo-autor disse...

Aguardo ansioso esse filme... foi o primeiro livro do Saramago que eu li, assim que ele ganhou o prêmio Nobel de Literatura. Espero que o Meirelles - um grande cineasta - recrie a obra de forma, no mínimo, satisfatória. É um desafio, pois não se trata de uma obra fácil. Comparo a dificuldade de adaptá-la com Perfume, de Tom Tykwer, que muitos diziam ser inadaptável e o diretor calou a boca de todo mundo.

Discutir a Mídia? acesse
http://robertoqueiroz.wordpress.com

Anónimo disse...

Amo o Saramago, já virei fã da pelicula antes mesmo de assistir. ;-)

atualizações?
sempre (qdo dá) passo aqui... adooooro. ;-)

;-*****

Anónimo disse...

Tem sido impossível ver qual a programação do cineclube... Porque não actualizam as páginas? O blog ou a webpage! É incrível nos dias que correm não ter essa informação on-line, disponível para qualquer pessoa.