RESISTÊNCIA E RESILIÊNCIA - 6 DE MAIO, IPDJ, 21:30

GUERRA OU PAZ
Rui Simões, Portugal, 2014, 97', M/12


FICHA TÉCNICA
Realização | Rui Simões
Direcção de Fotografia | Marta Pessoa
Som | Paulo Cerveira
Montagem | Márcia Costa
Direcção de Produção | Jacinta Barros
Produtores | Jacinta Barros E Rui Simões
Produção | Real Ficção
Origem | Portugal
Ano | 2014
Duração | 97’


SINOPSE
Entre 1961 e 1974, 100.000 jovens portugueses partiram para a guerra nas ex-colónias. No mesmo período, outros 100.000, saíram de Portugal para não fazer essa mesma guerra.
Em relação aos que fizeram a guerra já muito foi dito, escrito, filmado. Em relação aos outros, não existe nada, é uma espécie de assunto tabu na nossa sociedade.
Que papel tiveram esses homens que “fugiram à guerra” na construção do país que somos hoje? Que percursos fizeram? De que forma resistiram?
Esta é a história que GUERRA OU PAZ pretende contar: a dos jovens que se recusaram a participar numa guerra que não sentiam como sua, sem pôr em questão o seu amor à Pátria. Se há a figura do Soldado Desconhecido, este filme pretende retratar esse outro Homem Desconhecido que recusou ser soldado.


TRAILER

CRÍTICA
Este era um filme que Rui Simões há muito queria fazer. "Este é um assunto de que ninguém fala. Fala-se muitos dos traumas de quem fez a guerra, e com razão, mas ninguém fala daqueles que não quiseram fazer a guerra. Mas já era tempo de falar deles. E se algum cineasta o pode fazer sou eu, porque eu sou testemunha viva da história."
Queria contar a história dos 100 mil jovens desertores ou refractários. Os motivos porque decidiram fugir do país. Como o fizeram. Como viveram no exílio - em Paris, Bruxelas, Frankfurt, noutras cidades. Como voltaram. "A certa altura achei que devia dar a cara e contar a minha história. Achei que me devia colocar em pé de igualdade com os outros entrevistados. A minha história não é importante, não tem nada de especial. Mas representa muitas histórias. Porque eu conheci em Paris e em Bruxelas muitas pessoas iguais a mim."
Além da história de Rui Simões, que saiu de Portugal em 1966 e regressou após o 25 de abril de 1974, o filme conta as histórias do cartoonista Vasco (um dos primeiros a ir para Paris), do escritor e professor universitário Manuel dos Santos Lima (que desertou do exército português para criar o braço armado do MPLA), do historiador e arqueólogo Cláudio Torres e a sua mulher Manuela (que deixaram Portugal num barco frágil, numa aventura que quase dava um filme autónomo), do sociólogo João Freire (que desertou da marinha), do músico Luís Cília (que continuou a sua carreira musical em França), do jornalista António Setas (que cresceu dividido entre Angola e Portugal), do escritor angolano Arlindo Barbeitos (para quem a guerra era impossível: "Eu não queria lutar contra o meu próprio povo"), do diretor do grupo de teatro Elinga, José Mena Abrantes. E ainda, à margem destas todas, a história da jornalista Myriam Zaluar, que nasceu em França, onde os pais estavam exilados, e que faz ponte para o presente e para as guerras que os jovens têm de enfrentar nos dias de hoje.
Cada história é diferente. Há portugueses e angolanos. Há refractários e desertores. Houve quem fizesse a guerra do outro lado e quem nunca tenha pegado numa arma. Em todos a consciência de que esta era "uma guerra injusta". Em todos uma consciência política. E também o medo, de que não se fala, mas que existia, reconhece o realizador.
Rui Simões recorda como viu os amigos que regressaram da guerra transformados. A falarem da morte. A mostrarem fotografias com os seus troféus. "Eu não queria ficar assim. Eu não queria matar ninguém. Claro que há medo. Medo não só das mazelas físicas mas medo de nos transformarmos, de deixarmos de ser quem somos."

Sem comentários: