O JOGO DA IMITAÇÃO | 30 JULHO | Q - ESPAÇO CULTURAL | 21H30

PLUG AND PLAY
Michael Frey, Suíça, 2013, 6'

Criaturas antropóides, com tomadas em vez de cabeças, preparam-se para fazer estragos. Em vez de se abandonarem aos ditames do dedo erguido, rapidamente se submetem a si mesmas. Mas os dedos também “dedilham” por aí. Será amor?




O JOGO DA IMITAÇÃO
Morten Tyldum, 2014, EUA, 113’, M/12







FICHA TÉCNICA
Título original: The Imitation Game
Realização: Morten Tyldum
Argumento: Graham Moore, baseado no livro "Alan Turing: The Enigma", de Andrew Hodges
Montagem: William Goldenberg
Fotografia: Oscar Faura
Música: Alexandre Desplat
Interpretação: Benedict Cumberbatch, Keira Knightley, Matthew Goode
Origem: GB/EUA,
Ano: 2014
Duração: 114’

PRÉMIOS 
Oscar para o Melhor Argumento Adaptado 
Nomeações para os Oscares 2015:
Melhor Actor - Benedict Cumberbatch 
Melhor actriz secundária-Keira Knightley 
Melhor filme 
Melhor Realizador
Melhor Edição 
Melhor banda sonora original 
Production Design


CRÍTICAS
Uma interpretação soberba de Benedict Cumberbatch numa meditação sobre a diferença disfarçada de thriller de guerra.
Pode parecer algo “insensível” evocar a popular série de comédia A Teoria do Big Bang para falar de Alan Turing, matemático inglês que lançou as bases dos computadores modernos e teve um papel fulcral na decifração dos códigos militares alemães durante a II Guerra Mundial.
Não é, por uma simples razão: a própria estratégia do argumentista Graham Moore e do realizador Morten Tyldum em O Jogo da Imitação é introduzir a personagem ao espectador (numa cena notável que brinca com o conceito das “entrevistas de emprego”) como um idiot savant que parece existir numa realidade alternativa, um génio matemático incapaz de jogar o jogo social. Esse início algo brusco e picaresco remete invariavelmente para Sheldon Cooper, o físico imaturo da Teoria do Big Bang – e é essencial para estabelecer a base do que se seguirá. O filme é a história da “aprendizagem” que Turing faz da necessidade de se integrar na estrutura social de uma Inglaterra classista e rígida, mas também a história de um homem condenado pela sua genialidade que acabou por se suicidar em 1954 sem que a importância do seu trabalho fosse reconhecida em vida.
O Jogo da Imitação esconde essa dimensão trágica por trás de uma narrativa clássica de thriller de guerra, ligada à corrida contra o tempo da equipa de criptógrafos recrutada pelo governo inglês para descodificar as comunicações militares alemãs. Por trás desse problema matemático, é uma metáfora da própria humanidade de Turing que se gere: o título refere-se ao célebre “teste de Turing” onde um pequeno número de perguntas seria suficiente para identificar e diferenciar uma inteligência humana de uma inteligência artificial. Mas esse “jogo da imitação” é também o jogo da identificação e diferenciação da “normalidade” e do “desvio”. Reflecte a tragédia de Turing como um visionário desfasado do seu tempo, uma personalidade quase autista que, apesar dos seus melhores esforços, nunca conseguiu integrar-se completamente na sociedade rígida da Inglaterra pós-imperial. E o filme ganha-se precisamente na elegância com que Morten Tyldum tece o seu retrato de Turing como prisioneiro do seu tempo histórico mais do que como símbolo do que quer que seja.
Para isso contribui sobremaneira a interpretação espantosa de Benedict Cumberbatch, que transforma o cientista quase sem esforço de proto-Sheldon Cooper em figura trágica, que transporta às costas um filme mais inteligente do que a aparência de “filme de época britânico” daria a entender (e é uma produção americana dirigida por um cineasta norueguês). E é a maneira certa de falar de Alan Turing: como uma pessoa demasiado complexa para um mundo que não aceitava essa complexidade. 
Jorge Mourinha, publico.pt/

[...] Aquilo que é especial neste filme é que não é a típica história sobre a Segunda Guerra Mundial. Pelo contrário, toda a acção de campo é praticamente ignorada, e o maior foco encontra-se no trabalho de bastidores que permitiu que a vitória dos Aliados fosse possível. São ilustradas todas as decisões difíceis e todo o trabalho árduo que raramente é mencionado, quanto mais glorificado.
Para além disto, o enredo toca em pontos essenciais acerca da incompreensão humana em relação à diferença, sendo esta vista como uma fraqueza, e não como uma eventual fonte de inovação e genialidade. Tudo o que de positivo possa surgir de alguém considerado invulgar é visto como insuficiente, por muito brilhante que possa ser, algo que aconteceu exatamente a Alan Turing. Outro aspecto muito positivo é a forma como a homossexualidade de Turing está presente e é importante, mas não se sobrepõe ao resto da sua identidade, não sendo de todo o foco da história, de maneira a não retirar a principal relevância aos seus feitos intelectuais.
A representação é fabulosa, especialmente da parte de Benedict Cumberbatch, sendo este capaz de comover com a sua subtileza na interpretação de Alan Turing. Todos os outros atores também representam de forma cativante, fazendo com que o enredo seja ainda mais envolvente.
Alan Turing permitiu, com a sua mente, que muitas vidas fossem poupadas, diminuindo a duração da guerra em dois anos. No entanto, ao contrário do que seria esperado, chegou ao final da sua vida de forma humilhante e indigna. “O Jogo da Imitação” é o reconhecimento que merecia ter recebido há dezenas de anos atrás.

Sara Lopes, magazine-hd.com


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