2º filme de Almodóvar, Labirinto de Paixões, esteve 10 anos em exibição em Madrid. 5ªf, 22h, n'Os Artistas - à borla!

Foi rodado graças ao Cine Alphaville de Madri que resolveu entrar na produção de filmes e com o sucesso de “Pepi, Luci e Bom...” decidiu apostar no jovem diretor.

O filme é um grande mosaico da cena pop cultural madrilena, um documentário com alguns momentos de ficção. Nele aparecem os personagens mais conhecidos: Cecilia Roth, Poch, Fabio MacNamara, Pablo Pérez-Mínguez, em cujo estúdio de fotografia foi rodada a maioria dos interiores do filme, além de Alaska, Carlos Berlanga e os desconhecidos atores Imanol Arías e Antonio Banderas.

O estúdio de Pablo Pérez-Mínguez era um dos lugares de encontro de La Movida, como o era, também, a Casa convento de las costus. Até hoje o estúdio de Pérez-Mínguez existe e é tão grande que, segundo ele, até cem pessoas podem estar ali sem que uma incomode a outra. Várias festas e eventos aconteceram ali, como a exposição de Las Costus, El valle de los caídos. Por estar na rua do mesmo nome, começou a ser nomeado como Estudio Montesquinza. O cenário do quarto de Sexilia (Cecilia Roth) em “Laberintos...” foi pintado por Guillermo Pérez Villalta, auxiliado por Almodóvar, e consta no livro de fotos Mi Movida. Ele continua existindo em um dos quartos do apartamento-estúdio.

O cartaz do filme foi feito por Iván Zulueta, que fará também o de “Entre tinieblas” [Negros hábitos - A EXIBIR DIA 18], 1983), além do mais criativo de todos, o de ¿“Qué he hecho yo para merecer esto!” [O que eu fiz para merecer isto? - A EXIBIR DIA 25], de 1984. O impacto que o filme causou foi tão grande que ele ficou em cartaz durante dez anos nas salas do Cine Alphaville.

No filme vemos a folhetinesca história de um príncipe islâmico que foge de seu país; alguns guerrilheiros vão a Madri com a intenção de sequestrá-lo; sua madrasta, princesa Toraya, que quer fazer inseminação artificial, e Sexilia, uma ninfomaníaca que detesta o sol por identificá-lo com o seu pai.

No plano de abertura, Sexilia e Riza Niro (o príncipe islâmico), filho do imperador do Tirán, estão passeando pelo mercado dominical madrileno El Rastro. Ambos admiram o sexo dos homens que passeiam por lá. A imagem é construída parodiando a famosa capa do disco dos Rolling Stones, feita por Warhol, com o modelo Joe Dallesandro.

Sexilia chama 11 rapazes para uma festa privada e anuncia que será a única mulher presente. Riza encontra Fabio MacNamara em um café; Fanny (Fabio) está cheirando esmalte e tomando álcool por um tubo. Eles acabam tendo um rollito. Riza acompanha Fabio a uma sessão de fotos para a fotonovela Patty Diphusa, personagem criado por Almódovar, que aparece dirigindo as fotos. Pablo Pérez-Mínguez está fotografando. Riza se dirige ao diretor –“Pedro, posso falar com Fabio um momento?” Fabio, sempre colocado, pronuncia alguns cacos de diálogo, dos quais entendemos que ele vai mudar o visual de Riza, para que esse não seja reconhecido, pois um grupo guerrilheiro de Tiranies está em Madri para sequestrá-lo. Um desses tiranies é Sadec (Antonio Banderas), que acaba se apaixonando por Riza, sem reconhecê-lo.

Numa das melhores sequências do filme, a imperatriz Toraya, com um espelho, atormenta Sexilia, parodiando o curta de Derek Jarman, de 1973: “The art of the mirrors”. Na mais debochada sequência, vemos a atuação do duo Almodóvar-Mac-Namara cantando “Suck it to me”.

Continuando a ação, nesse mesmo dia, Riza substitui um cantor do conjunto Ellos, que se machucou; ao vê-lo apresentar-se, fica apaixonada, e Riza corresponde ao sentimento. Depois de muitos desencontros, os dois se curam: Sexilia de sua ninfomania e Riza de seu homossexualismo e felizes fogem juntos para o Panamá. Esse furor uterino de Sexilia lembra o enredo de “Fuego en las entrañas”, relato publicado por Almodóvar em 1981. Nele a protagonista Raimunda e todas as mulheres de Madri eram vítimas de um absorvente manipulado, feito por um homem que quis vingar-se das traições que as mulheres lhe fizeram na vida.

João Eduardo Hidalgo, “Docudramas de La Movida madrilena: “Pepi, Luci, Bom y otras chicas del Montón” e “Laberinto de pasiones”, do cineasta espanhol Pedro Almodóvar”

(sugerimos a leitura do ensaio na íntegra, pois contém uma boa contextualização e explicação do fenómeno Movida Madrilena)


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