DIA 21, IRMÃ, Ursula Meier, França/Suécia, 2012,97’, M/12
FICHA
TÉCNICA
Realização Ursula Meier
Argumento Antoine
Jaccoud e Ursula Meier, Gilles Taurand
Música John Parish
Imagem Agnès Godard
Montagem Nelly Quettier
Som Henri Maïkoff
Décors Ivan Niclass
Guarda-roupa Anna van Brée
Maquilhagem Danièle Vuarin
Assistente
de realização Jérôme
Brière
Régie Nicole Schwizgebel
director
de produção Jean-Marie
Gindraux
produção Denis Freyd, Archipel 35
(França), Ruth Waldburger, Vega Film (Suíça)
FRANÇA/SUÍÇA - 2012 - 97' – cor, M/12
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SINOPSE
Uma estância de esqui de luxo na Suíça. Simon é um rapaz de doze anos
que vive na cidade, no vale da estância, com a irmã desempregada. Todos os
dias, Simon apanha o teleférico para a estância e rouba equipamento aos
turistas ricos que depois vende aos miúdos da cidade. Quando começa a fazer
negócio com um imigrante inglês que trabalha na estância, Simon perde o
controlo, o que afecta a relação com a irmã. Confrontados com a verdade de que
ambos têm fugido, Simon procura refúgio lá em cima.
TRAILER: http://vimeo.com/61521441
CRÍTICA:
"Home",
o anterior filme da suíça Ursula Meier, era o relato, extremo e quase
absurdista, de uma família instalada à beira de uma auto-estrada.
"Irmã" troca o absurdismo por um realismo absolutamente credível, mas
mantêm-se os extremos. Porque “extrema” é a vida das suas personagens, um miudo
ladrão e aquela que começa por nos ser apresentada como sua “irmã”, uma
rapariga já adulta mas aparentemente um bocado perdida na vida. Os roubos do
miúdo são a base da economia familiar. Mas “extremo”, ou de extremos, é ainda o
cenário: é literalmente o “alto” e o “baixo”, este par vive no sopé de uma
montanha suíça, no topo da qual funciona uma estância de esqui frequentada por
gente muito mais endinheirada (e muito mais “normal”) do que o rapaz e a sua
irmã. Todos os dias o miúdo sobe do fundo ao topo, dedica-se a uma frenética
recolecção de tudo o que apanhar a jeito, monta uma venda clandestina (de
“skis” em segunda mão, justifica ele), e desde de novo ao seu “bas-fondas” com
algumas dezenas de francos suíços no bolso.
A
descrição desta economia paralela de um rapaz só é o ponto mais forte do filme,
tanto mais que Meier se abstém de sublinhar o “comentário” social. O cenário
exprime-o perfeitamente, como “diagrama” da miséria e da relação entre pobres e
ricos, separados não por um fosso mas por um monte; exprime-o também pela
imensidão branca e luminosa do topo, oposta à penumbra que é o território
natural do pequeno ladrão. Todas as cenas com o miúdo em acção, a apanhar skis,
mochilas, sandes, ou a fazer as suas negociatas, ou ainda a iniciar perfeitas
comédias de “con artist” (a relação com uma turista inglesa), são impecáveis,
como um aprendiz de pickpocket a descobrir o roubo como compulsão para além da
necessidade.
Personagem
suficientemente complexa (para mais com aquele fácies de pequeno Gainsbourg)
para sentirmos que toda a história da relação com a irmã, sobretudo a partir do
momento em que deixa de ser “irmã” (não diremos o que é de facto, mas está-se
mesmo a ver), é mais um “atraso” do que um avanço, introduzindo umas gotas de
psicologia familiar que nos parecem bastante mais banais do que a descrição do
sistema económico de um rapaz só. Essa é a singularidade da obra, e é dela que
Ursula Meier extrai a força de Irmã (ou de L''Enfant d''en Haut, “a criança do
alto”, que é o título original). Vale a pena referir o “cast” traz algumas
surpresas entre os secundários - Gillian Anderson (a dos X-Files) como turista
inglesa, o grande Jean-François Stévenin como gerente do restaurante (e
basicamente, “ogre”). Entre os colaboradores, também: a música é de John
Parish, habitual parceiro de PJ Harvey; e no som trabalhou Henri Maikoff, bem
conhecido em Portugal pelas suas colaborações com Manoel de Oliveira e Pedro
Costa
Crítica
Ípsilon por:Luís Miguel Oliveira
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