ANTÓNIO RAMOS ROSA - ESTOU VIVO E ESCREVO SOL de Diana Andringa

Dia 7 , 21h30; de 9 e 31 Dezembro em sistema de sessões contínuas entre as 10 e as 16h, Museu Municipal (sala audiovisual r/c), entrada livre

Este documentário sobre a vida e obra de António Ramos Rosa, certamente um dos mais importantes poetas portugueses da actualidade, foi realizado por Diana Andringa nos idos de 97 nesta nossa cidade, natal do poeta: Faro.

Saído de cá em 1962, esta obra segue e redescobre as memórias primeiras, em particular as da juventude, de um vulto da cultura e do activismo político anti-fascista, e para tal recolhe vários testemunhos de quem com ele privou. Salientem-se Duarte Infante e João Brito Vargas, que acompanham Ramos Rosa neste périplo de revisitação da capital algarvia, sócios fundadores do Cineclube de Faro, a cuja direcção o poeta também pertenceu.

São, para nós, pergaminhos de ouro poder contar na nossa história com este conjunto de sócios honorários, e memória grata a realização deste documentário pois, por feliz coincidência, aconteceu durante a realização dos nossos primeiros Encontros de Cinema, em Abril de 97, o que constituiu a melhor e mais bonita ocasião para entregar pessoalmente a António Ramos Rosa a placa de sócio honorário. Tal distinção tinha sido levada a cabo em cerimónia no ano anterior a um conjunto de 34 sócios mas, por motivos de saúde, Ramos Rosa não tinha podido comparecer. Ter esse momento registado para a posteridade neste filme enche-nos de comoção.


Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeleira
que passa em fios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol
Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever e sol
A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram suas faces
e na minha língua o sol trepida
Melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maravilha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde

António Ramos Rosa


(filme integrado no Ciclo Olhares Forasteiros - o Algarve num certo cinema, incluído da exposição Algarve Excêntrico, Visionário e Utópico comissariada por Nuno Faria)


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