PEQUENAS MENTIRAS ENTRE AMIGOS - Francês, 1 cópia, 1 sala, 8 semanas em Lisboa. Diz tudo. Amores incondicionais.

Ainda é possível a admiração por alguns programadores de cinema em Lisboa quando, dentro de um centro comercial, ainda têm a ousadia de manter um filme em sala durante oito semanas.

Um filme francês com uma sala só para si ao fim deste tempo todo é um fenómeno raro mas não inexplicável.

É um filme cuja atracção cresce pelo boca a boca que vem revelando sempre grande satisfação à saída da sala. Um filme de público - como ocasionalmente temos oportunidade e obrigação de sublinhar que a França ainda faz regularmente - com a sugestão da revivência de felizes memórias de grupo.

Bastará dizer que o filme é uma variação sobre a forma de Os Amigos de Alex para contextualizar rapidamente o que se passa em cena, desta vez com uma geração francesa entre os 30 e os 40 anos.

São figuras a entrarem na crise de meia idade sem terem ainda superado a adolescência, um grupo por isso susceptível aos pequenos dramas e aos grandes erros como só o embalo psicanalítico moderno vai criando.

As suas preocupações são múltiplas mas a sua origem pode ser traçada ao egoísmo de cada um daqueles elemento. Os seus distúrbios tê, quase sempre, uma razão amorosa para a qual a sua idade exige uma atitude mais ponderada mas a sua mentalidade mantém irresolvida.


Os temas que o filme trata melhor de entre o conjunto de preocupações são aqueles que mal toca, falando deles através da atenção aos pormenores - das interacções, das solidões e das acções. Outros, talvez até mais sensíveis ou importantes, são tratados de forma pesada, assumindo um papel central mas não conseguindo promover o interesse do público.

A interrogação sexual da camaradagem tornada num amor que a sociedade não sabe exprimir senão através de preconceitos é um desses casos tratados sem sensibilidade; enquanto em sentido oposto o cansaço de uma mulher pelo seu papel da jovem sedutora incorrigível é quase uma miragem narrativa mas executado com uma exactidão maravilhosa.

Não será estranho que esse papel de mulher amadurecida resulte por estar entregue a Marion Cotillard, mas seria injusto não elogiar a totalidade do elenco que faz sobressair o humor que sustenta a espera pelos momentos catárticos que acabarão por chegar depois de duas semanas de coabitação - nada mais stressante para testar laços de amizade.

Mesmo sendo longo demais, sem desfecho inovador que redima a meia hora a mais que tem, o filme é um agradável encontro capaz de recriar a identificação com aquelas vidas bem mais do que Funeral à Chuva, a recente (e novelizada) versão portuguesa do mesmo esforço, conseguiu.

A entristecida nota final vai para a música. Sendo Os Amigos de Alex o mais lembrado filme destas reuniões de amigos, Les petits mouchoirs escusava de intensificar a memória comparativa ao filme de Kasdan através da sua banda sonora completamente americana, sem sequer um toque francês que sublinhe as quatro décadas que este grupo já vivera. A música é boa; não é particularmente apropriada.
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Carlos Antunes, blog splitscreen


Guillaume Canet iniciou-se no cinema como actor, demonstrando de imediato todo o seu talento e se recordarmos filmes como "Feliz Natal" ou "O Caso Farewell", percebemos como ele veste as personagens que interpreta no cinema. Mas, como não podia deixar de ser, Guillaume Canet também se sentiu atraído pela realização, revelando também o seu enorme talento como argumentista e, em 1998, estreia-se na realização com a curta-metragem "Je Taim", para quatro anos depois se atirar a essa aventura de realizar uma longa-metragem, com "Mon Idole". "Ne Le Dis à Personne" foi o seu filme seguinte, realizado em 2005, mas será em 2010 que todos iremos fixar o seu nome como cineasta, ao realizar essa obra-prima intitulada "Pequenas Mentiras entre Amigos" / "Les Petits Mouchoirs", sem dúvida alguma um dos melhores filmes estreados em Portugal no ano de 2011.

"Pequenas Mentiras Entre Amigos" / "Les Petits Mouchoirs" é uma película que navega nesse território aberto por Lawrence Kasdan ao realizar "Os Amigos de Alex", que mais tarde teria o seu contraponto britânico em "Os Amigos de Peter", de Kenneth Brannagh. Mas, ao contrário destas duas excelentes películas, Guillaume Canet conseguiu ir mais longe cinematográficamente falando, ao utilizar o scope com um saber e um à vontade que nos deixa a todos a respirar cinema por todos os poros, ao mesmo tempo que nos oferece uma direcção de actores com a qual ficamos perfeitamente maravilhados e onde se destacam François Cluzet, Marion Cotillard, cada vez mais um nome a ter em conta no cinema mundial, Benoit Magimel e Gilles Lellouche, que já tinhamos visto recentemente em "Paris" e que aqui nos oferece uma das melhores interpretações da sua carreira, sendo desde já um nome a seguir com muita atenção.


"Pequenas Mentiras Entre Amigos" / "Les Petits Mouchoirs" é um dos mais belos filmes feitos até hoje sobre a amizade e Guillaume Canet revela-nos aqui todo o seu talento como cineasta, tornando-se um nome a seguir atentamente, ao mesmo tempo que nos oferece uma direcção de actores onde as interpretações são feitas à flor da pele, revelando os actores um mergulho perfeito no interior das personagens que interpretam. Estamos assim perante uma das obras-primas do cinema francês, deste novo século, que não deixa ninguém indiferente, porque aqui temos um dos mais belos retratos de uma geração.
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Rui Luís Lima e Paula Nunes Lima, blog a memória do cinema




Título original: Les petits mouchoirs
Realização: Guillaume Canet
Argumento: Guillaume Canet
Fotografia : Christophe Offenstein
Interpretação: François Cluzet, Marion Cotillard e Benoît Magimel, Gilles Lellouche, Jean Dujardin, Laurent Lafitte, Valérie Bonneton
Origem: França
Ano: 2011
Duração: 154’

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