DIA 14 de DEZEMBRO "LINHAS DE WELLINGTON", Valeria Sarmiento, Portugal, 2012, 151’, M/12
FICHA
TÉCNICA
um filme de Raúl Ruiz
Realização: Valeria Sarmiento
Argumento e diálogos originais: Carlos Saboga
Director de Fotografia: André Szankowski
Realização: Valeria Sarmiento
Argumento e diálogos originais: Carlos Saboga
Director de Fotografia: André Szankowski
Montagem: Luca
Alverdi e Valeria Sarmiento
Música: Jorge Arriagada
Interpretação: Vincent
Perez, Soraia Chaves, Paulo Pires, Nuno Lopes, Melvil Poupaud, Mathieu Amalric,
Marisa Paredes
Ano: 2012
Origem: Portugal
Duração: 151’
SINOPSE
Em 27 de Setembro de 1810, as tropas francesas
comandadas pelo marechal Massena, são derrotadas na Serra do Buçaco pelo
exército anglo-português do general Wellington.
Apesar da vitória, portugueses e ingleses retiram-se a marchas forçadas diante do inimigo, numericamente superior, com o objectivo de o atrair a Torres Vedras, onde Wellington fez construir linhas fortificadas dificilmente transponíveis.
Simultaneamente, o comando anglo-português organiza a evacuação de todo o território compreendido entre o campo de batalha e as linhas de Torres Vedras, numa gigantesca operação de terra queimada, que tolhe aos franceses toda a possibilidade de aprovisionamento local.
É este o pano de fundo das aventuras de uma plêiade de personagens de todas as condições sociais – soldados e civis; homens, mulheres e crianças; jovens e velhos -, arrancados à rotina quotidiana pela guerra e lançados por montes e vales, entre povoações em ruína, florestas calcinadas, culturas devastadas.
Perseguida encarniçadamente pelos franceses, atormentada por um clima inclemente, a massa dos foragidos continua a avançar cerrando os dentes, simplesmente para salvar a pele, ou com a vontade tenaz de resistir aos invasores e rechaçá-los do país, ou ainda na esperança de tirar partido da desordem reinante para satisfazer os mais baixos instintos.
Todos, quaisquer que sejam o seu carácter e as suas motivações – do jovem tenente idealista Pedro de Alencar, passando pela maliciosa inglesinha Clarissa Warren, ou pelo sombrio traficante Penabranca, até ao vindicativo sargento Francisco Xavier e à exuberante vivandeira Martírio -, convergem por diferentes caminhos para as linhas de Torres, onde o combate final deve decidir do destino de cada um.
Apesar da vitória, portugueses e ingleses retiram-se a marchas forçadas diante do inimigo, numericamente superior, com o objectivo de o atrair a Torres Vedras, onde Wellington fez construir linhas fortificadas dificilmente transponíveis.
Simultaneamente, o comando anglo-português organiza a evacuação de todo o território compreendido entre o campo de batalha e as linhas de Torres Vedras, numa gigantesca operação de terra queimada, que tolhe aos franceses toda a possibilidade de aprovisionamento local.
É este o pano de fundo das aventuras de uma plêiade de personagens de todas as condições sociais – soldados e civis; homens, mulheres e crianças; jovens e velhos -, arrancados à rotina quotidiana pela guerra e lançados por montes e vales, entre povoações em ruína, florestas calcinadas, culturas devastadas.
Perseguida encarniçadamente pelos franceses, atormentada por um clima inclemente, a massa dos foragidos continua a avançar cerrando os dentes, simplesmente para salvar a pele, ou com a vontade tenaz de resistir aos invasores e rechaçá-los do país, ou ainda na esperança de tirar partido da desordem reinante para satisfazer os mais baixos instintos.
Todos, quaisquer que sejam o seu carácter e as suas motivações – do jovem tenente idealista Pedro de Alencar, passando pela maliciosa inglesinha Clarissa Warren, ou pelo sombrio traficante Penabranca, até ao vindicativo sargento Francisco Xavier e à exuberante vivandeira Martírio -, convergem por diferentes caminhos para as linhas de Torres, onde o combate final deve decidir do destino de cada um.
TRAILER
SITE
« Não há dúvida de que as
invasões francesas a Portugal estavam completamente afastadas do meu mundo.
Comecei por comparar o êxodo da população, obrigada a deixar as suas terras por
causa da guerra, ao meu próprio exílio, e , deste modo, aproximar-me da
narrativa.
É inegável a ligação
afectiva a este filme. Depois da morte do Raúl, o produtor Paulo Branco
convidou-me a retomar o projecto. Tive medo mas nunca dúvidas: tinha que o
fazer pelo Raúl. Foi uma homenagem minha e da equipa - técnicos e actores - que
sentiram exactamente o mesmo que eu.
Trabalhar com o Carlos Saboga é sempre uma delícia. Tanto o guião de “Linhas de Wellington” como o de “Mistérios de Lisboa” são excelentes e obedecem a uma estrutura mais próxima de “As mil e uma noites” do que a uma produção de Hollywood. Ele deu uma grande importância às personagens femininas e isso distingue este projecto de todos os outros filmes de batalha.
Trabalhar com o Carlos Saboga é sempre uma delícia. Tanto o guião de “Linhas de Wellington” como o de “Mistérios de Lisboa” são excelentes e obedecem a uma estrutura mais próxima de “As mil e uma noites” do que a uma produção de Hollywood. Ele deu uma grande importância às personagens femininas e isso distingue este projecto de todos os outros filmes de batalha.
Filmámos em paisagens
diferentes, sobretudo na zona Oeste, num ambiente singular que, a par da
fotografia e da música, deu ao êxodo das populações uma força esmagadora.
Nunca tinha filmado tantas pessoas juntas mas com os meios modernos de rodagem acabou por ser muito fácil. Acredito que não tenha sido tão fácil para os figurantes - alguns passaram pelo mesmo frio que as tropas francesas - mas falei com vários que me disseram ter-se divertido muito.
O filme acabou por ser mais do que um apego sentimental. Foi um desafio e um dever que me deu um enorme prazer e, por isso, agradeço a todos os que nele participaram.
Nunca tinha filmado tantas pessoas juntas mas com os meios modernos de rodagem acabou por ser muito fácil. Acredito que não tenha sido tão fácil para os figurantes - alguns passaram pelo mesmo frio que as tropas francesas - mas falei com vários que me disseram ter-se divertido muito.
O filme acabou por ser mais do que um apego sentimental. Foi um desafio e um dever que me deu um enorme prazer e, por isso, agradeço a todos os que nele participaram.
Acredito que trabalhámos
todos em diálogo com o Raúl, que nos apoiava sempre lá do alto. »
Valeria Sarmiento
CRÍTICA:
Há em muitos planos de Linhas
de Wellington uma estética muito
próxima à de Raúl Ruiz. Depreenda-se pois na direcção tomada pelas rédeas de Valeria Sarmiento uma espécie de última homenagem ao talento do cineasta que
por diversas vezes filmou e colaborou em produções portuguesas, a sua
derradeira experiência conjunta foi em Mistérios de Lisboa (2010), morrendo antes de poder começar a preparar este Linhas de Wellington. Há porém uma homenagem impossível de não notar, uma vontade
própria de filmar como quem dança um bailado, a câmara dinâmica a pairar sobre
este mosaico de histórias tal como uma visão aproximada daquela que Raúl Ruiz teria caso tivesse efectivamente realizado este filme (pelo
menos assim o achamos).
A este Linhas de Wellington falta-lhe porém a chama do cineasta chileno que Valeria Sarmiento, por mais boa vontade que tenha, não consegue emular. O que por um lado pode ser bom, pela tentativa de criar uma identidade própria, mas que simultaneamente não o consegue fazer de forma efectiva, acabando forçosamente por cair na comparação. Há porém que elogiar grande parte do poderio da produção do filme, desde a fotografia de André Szankowski, passando pela direcção artística de Isabel Branco, até à banda sonora de Jorge Arriagada. Produção rara no nosso país e que aproveita a rica História portuguesa para dar o mote para outras estórias que percorrem o filme. Nada contra as suas intenções, até de certo modo honrosas, mas que o argumento de Carlos Saboga nem sempre sabe acompanhar. Ao adoptar um tom folhetinesco que, embora por vezes forçado até ao limite, acabava por resultar na sua adaptação de Mistérios de Lisboa, de Camilo Castelo Branco, o filme acaba por perder grande parte do seu poder narrativo. Uma história a que lhe falta a dose certa de dramatismo (não raras vezes força e alivia nos momentos errados) e por vezes também o foco, não se sabendo sempre qual a intenção do mesmo. Uma história repleta de personagens e momentos onde é notável a falta de emoção que deveria existir e que só existe nos magníficos planos do êxodo daqueles portugueses anónimos que percorrem o país, em fuga, mas sempre com esperança.
Vejamos as inúmeras histórias soltas e que poderiam ter um desenlace mais coeso (talvez se estejam a guardar para a versão televisiva de 180 minutos) ou o desfile de actores de luxo e das histórias das suas personagens, potencialmente interessantes, mas que não atingem o clímax necessário. Veja-se a interessante cena que reúne a uma mesa Michel Piccoli, Catherine Deneuve e Isabelle Huppert, fascinante do ponto de vista cinéfilo e interessante naquele breve momento em que se faz uma analogia sincera ao pensamento do português que sente saudades daquilo que nunca teve, mas gostava. Fascinante, é certo, mas amiúde tão breve e insuficiente que faz o espectador pensar na necessidade de existir. Ou os divertidos momentos na presença de um John Malkovich no papel de um General Wellington. Divertido, é verdade, mas não menos verdade é o facto de reduzir um estratega militar a um mero cartoon de si mesmo. É o mesmo problema que afecta grande parte do elenco, especialmente o internacional, que é muitas vezes limitado apenas a sucessivos cameos (interessantes, mas restritos). É o argumento ambicioso de Carlos Saboga que faz Linhas de Wellington perder metade da força que poderia ter atingido. Não podemos descurar, no entanto, o talento do elenco aqui envolvido e quase difícil de ser enumerado, mas é impossível não referir por exemplo a grande revelação que é a jovem Victoria Guerra (que consegue fugir às limitações que os papéis em televisão normalmente lhe impõem), a doce energia da presença da espanhola Marisa Paredes ou também da competência dos portugueses Nuno Lopes e Carloto Cotta.
Linhas de Wellington, é no fim, um esforço honroso e clássico em dramatizar um épico evento da História portuguesa. Visualmente elegante e erudito, mas excessivamente preenchido com histórias e presenças adicionais desnecessárias, um pouco como, no filme, as pinturas de Henri Lévêque que o General Wellington insistia em descartar.
Tiago Ramos, http://splitscreen-blog.blogspot.com/2012/10/linhas-de-wellington-por-tiago-ramos.html#ixzz29Ze8AwW9
A este Linhas de Wellington falta-lhe porém a chama do cineasta chileno que Valeria Sarmiento, por mais boa vontade que tenha, não consegue emular. O que por um lado pode ser bom, pela tentativa de criar uma identidade própria, mas que simultaneamente não o consegue fazer de forma efectiva, acabando forçosamente por cair na comparação. Há porém que elogiar grande parte do poderio da produção do filme, desde a fotografia de André Szankowski, passando pela direcção artística de Isabel Branco, até à banda sonora de Jorge Arriagada. Produção rara no nosso país e que aproveita a rica História portuguesa para dar o mote para outras estórias que percorrem o filme. Nada contra as suas intenções, até de certo modo honrosas, mas que o argumento de Carlos Saboga nem sempre sabe acompanhar. Ao adoptar um tom folhetinesco que, embora por vezes forçado até ao limite, acabava por resultar na sua adaptação de Mistérios de Lisboa, de Camilo Castelo Branco, o filme acaba por perder grande parte do seu poder narrativo. Uma história a que lhe falta a dose certa de dramatismo (não raras vezes força e alivia nos momentos errados) e por vezes também o foco, não se sabendo sempre qual a intenção do mesmo. Uma história repleta de personagens e momentos onde é notável a falta de emoção que deveria existir e que só existe nos magníficos planos do êxodo daqueles portugueses anónimos que percorrem o país, em fuga, mas sempre com esperança.
Vejamos as inúmeras histórias soltas e que poderiam ter um desenlace mais coeso (talvez se estejam a guardar para a versão televisiva de 180 minutos) ou o desfile de actores de luxo e das histórias das suas personagens, potencialmente interessantes, mas que não atingem o clímax necessário. Veja-se a interessante cena que reúne a uma mesa Michel Piccoli, Catherine Deneuve e Isabelle Huppert, fascinante do ponto de vista cinéfilo e interessante naquele breve momento em que se faz uma analogia sincera ao pensamento do português que sente saudades daquilo que nunca teve, mas gostava. Fascinante, é certo, mas amiúde tão breve e insuficiente que faz o espectador pensar na necessidade de existir. Ou os divertidos momentos na presença de um John Malkovich no papel de um General Wellington. Divertido, é verdade, mas não menos verdade é o facto de reduzir um estratega militar a um mero cartoon de si mesmo. É o mesmo problema que afecta grande parte do elenco, especialmente o internacional, que é muitas vezes limitado apenas a sucessivos cameos (interessantes, mas restritos). É o argumento ambicioso de Carlos Saboga que faz Linhas de Wellington perder metade da força que poderia ter atingido. Não podemos descurar, no entanto, o talento do elenco aqui envolvido e quase difícil de ser enumerado, mas é impossível não referir por exemplo a grande revelação que é a jovem Victoria Guerra (que consegue fugir às limitações que os papéis em televisão normalmente lhe impõem), a doce energia da presença da espanhola Marisa Paredes ou também da competência dos portugueses Nuno Lopes e Carloto Cotta.
Linhas de Wellington, é no fim, um esforço honroso e clássico em dramatizar um épico evento da História portuguesa. Visualmente elegante e erudito, mas excessivamente preenchido com histórias e presenças adicionais desnecessárias, um pouco como, no filme, as pinturas de Henri Lévêque que o General Wellington insistia em descartar.
Tiago Ramos, http://splitscreen-blog.blogspot.com/2012/10/linhas-de-wellington-por-tiago-ramos.html#ixzz29Ze8AwW9
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