Happy hour

À falta de copos de três e de velhotes de tasca com quem comentar a compra do Derlei (quem??) pelo Sporting, ganhei o (péssimo) hábito de me sentar sozinha ao balcão dos bares nova iorquinos durante a happy hour. Uma coisa degradantíssima, nem vos conto.
Era o West side, a rua era a Bleecker, a bebida, margarita, a hora imprópria (para parâmetros americanos era sim imprópria, umas oito à vontade), e eu feita Carrie Bradshaw num dia mau ao balcão de um bar mais ou menos.
Anyway, to cut to the chase, um rapaz pergunta se pode sentar-se no banco ao lado do meu. Boy, can you??, digo eu, certa de que ele não perceberia porque, a) a música estava alta; b) para disfarçar o meu contentamento, tinha feito o habitual ar de couldn't care less à Lauren Bacall, o que, em mim, resulta sempre em algo como Maria von Trapp meet Dory do Finding Nemo mas que nem por isso deixa de servir o seu propósito, ou seja, desconcertar o próximo. Adiante.
O rapaz, parece, é filmmaker. É o que diz aqui no cartão que me deu, e foi como filmmaker que se apresentou. Assim mesmo, Robert --, mão esticada para receber um passou-bem e entregar ao mesmo tempo, com uma flexibilidade que me estonteou, ou seriam as margaritas, o seu business card. Eu deixei de parte a Lauren Bacall, ou a Julie Andrews, tanto faz (a Ellen DeGeneres já tinha deixado muito antes) e, no meu melhor ar de Pauline Kael, respondi, Marina --, film critic.
O cartão de apresentação voou das minhas mãos e voltou para a carteira dele (como o tenho de novo comigo é o MacGuffin desta história, agora vão ter de ler até ao fim). Vi depois no olhar dele que pensava e reconsiderava, a tipa se calhar escreve para os Cahiers ou algo assim estrangeiro, é melhor pensar e reconsiderar. Então fez o pitch do filme. E devolveu-me o cartão. Também me ofereceu uma cerveja. Eram já perto das oito e meia da noite, a sede impunha-se, a vida de um crítico não é fácil.
Às nove estava em casa. Na televisão, o jogo dos All Star no estádio dos Giants em San Francisco. A alternativa era sentar-me à máquina (sempre quis dizer isto) e rememorar o meu dia na cidade.
É, de facto, a cidade perfeita para se ser filmmaker. Ou film critic. Ou nem uma coisa nem outra mas acreditar que sim. Sobretudo acreditar.
Bebamos a isso.

3 comentários:

Rf disse...

olha uma lagarta em férias pela big apple, como não podia deixar d ser numa lagarta que se preze. Tb t pagava uma cervejinha num destes fins de tarde, para pôr a conversa em dia. E podias fazer o ar que quisesses.

beijinhos

marina disse...

it's a date!

Rf disse...

sugestão ali para o lado:

o seminal "&The end" dos Doors do não menos seminal Apocalipse Now