As Irmãs de Gion” e “O Conto dos Crisântemos Tardios”, de Misoguchi

Foi editada recentemente uma caixa com dois filmes de Kenji Misoguchi: “As Irmãs de Gion” e “O Conto dos Crisântemos Tardios”, respectivamente de 1936 e 1939. Antes, tinha saído uma outra caixa com dois outros filmes do mesmo realizador, “A Espada de Bijomaru” e “Cinco Mulheres em torno de Utumaro” todos eles distribuídos pela Prisvideo (apesar de estes virem sem extras, não posso deixar de me congratular pela existência do DVD). Relativamente aos dois primeiros, poderia destacar as questões de enquadramento, os travellings, as panorâmicas. Há ainda algumas coincidências, como o facto de os dois filmes terminarem com duas personagens vítimas de acidente ou de uma doença fatal. Muito haverá a dizer sobre a condição da ‘mulher misoguchiana’.

No entanto, o que me prendeu mais a atenção, sobretudo nestes dois filmes, foi o questionar das tradições. No primeiro caso, a mana Ukemichi, a gueixa contestatária insurge-se contra a submissão da mana Omocha. O filme termina com a sublime declaração: “Porque é que existem gueixas neste mundo? Têm mesmo de existir? Isso está errado. Está completamente errado. Eu queria… Eu queria que elas nunca tivessem existido!” Estamos em 1936, no Japão…

No outro filme, Kikunosuke o aprendiz de actor de kabuki, filho de um actor famoso, aproxima-se demais de Otoku, uma criada (ama do irmão). Pelo facto de ser sincera quanto ao talento do jovem patrão, mas, sobretudo, por ser vista com ele, sozinhos em casa, foi despedida: “Há rumores e isso é mau. Por isso estás despedida” diz-lhe a dona da casa. Contra a vontade do pai e arriscando a sua carreira, Kikunosuke vai viver com Otoku, sujeitando-se a inúmeras dificuldades. Feito em 1939, o filme retrata a sociedade japonesa do final do século XIX, em Tóquio.

Mizoguchi põe em questão os valores tradicionais, numa época conturbada, em vésperas de uma guerra em que o Japão sairia com muitas feridas. Quando me foquei nestas declarações, não pude deixar de reparar como esta mensagem não podia ser mais actual.
Porque é que as coisas têm que ser assim?! Há que ter cuidado com os rumores…

1 comentário:

anabela moutinho disse...

HE'S ALIVE!!! HE'S ALVE!!!

:D

Oi Pedro! De férias finalmente, né seu privilegiadíssimo professor funcionário público?

Obrigada por esta informação, em primeiro lugar. Depois, é curioso teres colocado este post quando antonioni e bergman (que, como bem lembra o cintra ferreira no Expresso, juntamente com Cukor e este Mizoguchi, são porventura os cineastas que melhor retrataram a Mulher - ou pelo menos a ela se consagraram) faleceram há pouco.

Beijos muitos, e vê se descansas, que se avizinha um novo ano lectivo 'grávido de hercúleos desafios', como com muita piada alguém escreveu no seu 'plano individual de formação' dirigido à escola onde trabalha (não, não fui eu; e como me dá muito trabalho pedir autorização por esta citação, fica assim, de 'autor desconhecido'...).