Entradas - 1€ sócios, 3,5€ não-sócios.
Bilhetes à venda no Teatro das Figuras e no Teatro Lethes no dia da sessão a partir das 20h.
Há Tourada na Aldeia, Pedro Sena Nunes, 75'
Uma vez por ano, em Agosto, as aldeias ganham vida e rejuvenescem. É a altura em que se realiza a tourada tradicional Capeia Arraiana, um acto de bravura e emancipação, em que trinta homens enfrentam o touro com um forcão – gigantesca forquilha triangular de madeira de carvalho, erguida para receber as violentas marradas do touro bravo e fazer desta tourada um espectáculo único no mundo. São nove as aldeias fronteiriças da Raia do Sabugal que todos os anos rejuvenescem com as capeias, competindo entre si em busca da “Melhor Capeia do Ano”. Os touros são trazidos normalmente de Espanha para serem corridos no redondel, perante o olhar atento e vibrante da multidão sentada nas bancadas improvisadas. É a capeia que reúne de novo a aldeia.
Autor de dezenas de documentários e algumas curtas-metragens de ficção, Pedro Sena Nunes é um dos realizadores portugueses contemporâneos que melhor tem conseguido captar as memórias da nossa tradição, sobretudo a do mundo rural. Em Há Tourada na Aldeia, faz um retrato atento de uma festa popular, de raízes ancestrais, no concelho do Sabugal, na zona Raiana. É um retrato muito completo que, simultaneamente, parte em busca das origens da tradição, e dá a conhecer os complexos preparativos da grande Tourada, sendo que o acontecimento em si acaba por se tornar um simples pormenor. Sena Nunes interessa-se mais por mostrar as gentes e as emoções, pouco se importando com o risco de se tornar politicamente incorrecto, em tempos em que a tourada talvez esteja em perigo de extinção. Mas mesmo os movimentos contrários hão-de conseguir ver mais além.
in Visão
Pedro Sena Nunes anda a olhar para o seu país há mais de 20 anos.
Num ambicioso projecto, que este nosso viajante designou por Microcosmos*, pretende fixar a essência de um povo. Começou em Trás-os-Montes e já percorreu seis regiões, onde cada filme se foi transformando numa experiencia única. Talvez A morte do cinema, filme de 2003 rodado na cidade de Aveiro (Beira Litoral), seja mesmo o paradigma dessa singularidade.
Há tourada na aldeia é o sexto filme dessa viagem.
Com uma configuração documental, por vezes também poética, este filme conta a história dos homens e mulheres que preparam uma festa iniciática, ou se quiserem uma certa forma de ritual, conhecida por “Capeia Arraiana”, que radica num confronto ancestral - Uns quantos homens, um artefacto enigmático (o forcão) e um touro. Tudo aparentemente muito simples.
Ao longo do filme vamos sendo guiados por diferentes figuras que, numa visão dramática, parecem representar a heterogeneidade de um povo obstinado. Apesar de tudo, a partir de um determinado momento desfaz-se o perigo e passamos a confiar naqueles homens tal como eles também confiam uns nos outros.
Numa visão pessoal, através de uma narrativa muito contida com apenas alguns momentos de expansão, mergulhamos em lugares onde a aparente banalidade nos revela a complexidade cultural de um espaço que não se experimenta noutras circunstâncias.
Mas mais que tudo, Há tourada na aldeia, é um filme sobre o “sentido de pertença”. Também pode ser uma espécie de elegia a um fim inevitável. Seja como for, a generosidade do olhar do seu autor, a sua inteligência e persistência, oferecem-nos uma delicada composição de uma realidade também comovente.
Carlos Fernandes
Há Tourada na Aldeia, é um filme que personifica esta prática como meio social, cultural e ideológico. Mas, centra o assunto na Capeia Arraiana que é uma prática de toureio única no mundo, onde vários homens erguem o forcão com o qual enfrentam os touros trazidos muitas vezes de Espanha às escondidas.
Há Tourada na Aldeia é um filme onde as pessoas saem à rua, vestem as suas melhores roupas, os filhos da terra voltam e num misticismo renasce a união de uma aldeia de uma tradição comum, que os alimenta a todos a alma.
Conscientes que desenvolvem uma tourada única no mundo, a Capeia Arraina, com uma tradição com raízes ancestrais, esta é aguardada ansiosamente pelos seus habitantes.
Mas mais que um espectáculo é uma forma de ser, de estar, de viver. Há Tourada na Aldeia, é apenas um pequeno gesto numa cultura que se afirma de massas, no presente e no futuro.
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