Bilhetes à venda no Teatro das Figuras e no Teatro Lethes no dia da sessão a partir das 20h.
Há Tourada na Aldeia, Pedro Sena Nunes, 75'

Autor de dezenas de documentários e algumas curtas-metragens de ficção, Pedro Sena Nunes é um dos realizadores portugueses contemporâneos que melhor tem conseguido captar as memórias da nossa tradição, sobretudo a do mundo rural. Em Há Tourada na Aldeia, faz um retrato atento de uma festa popular, de raízes ancestrais, no concelho do Sabugal, na zona Raiana. É um retrato muito completo que, simultaneamente, parte em busca das origens da tradição, e dá a conhecer os complexos preparativos da grande Tourada, sendo que o acontecimento em si acaba por se tornar um simples pormenor. Sena Nunes interessa-se mais por mostrar as gentes e as emoções, pouco se importando com o risco de se tornar politicamente incorrecto, em tempos em que a tourada talvez esteja em perigo de extinção. Mas mesmo os movimentos contrários hão-de conseguir ver mais além.
in Visão
Pedro Sena Nunes anda a olhar para o seu país há mais de 20 anos.
Num ambicioso projecto, que este nosso viajante designou por Microcosmos*, pretende fixar a essência de um povo. Começou em Trás-os-Montes e já percorreu seis regiões, onde cada filme se foi transformando numa experiencia única. Talvez A morte do cinema, filme de 2003 rodado na cidade de Aveiro (Beira Litoral), seja mesmo o paradigma dessa singularidade.
Há tourada na aldeia é o sexto filme dessa viagem.
Com uma configuração documental, por vezes também poética, este filme conta a história dos homens e mulheres que preparam uma festa iniciática, ou se quiserem uma certa forma de ritual, conhecida por “Capeia Arraiana”, que radica num confronto ancestral - Uns quantos homens, um artefacto enigmático (o forcão) e um touro. Tudo aparentemente muito simples.
Ao longo do filme vamos sendo guiados por diferentes figuras que, numa visão dramática, parecem representar a heterogeneidade de um povo obstinado. Apesar de tudo, a partir de um determinado momento desfaz-se o perigo e passamos a confiar naqueles homens tal como eles também confiam uns nos outros.
Numa visão pessoal, através de uma narrativa muito contida com apenas alguns momentos de expansão, mergulhamos em lugares onde a aparente banalidade nos revela a complexidade cultural de um espaço que não se experimenta noutras circunstâncias.
Mas mais que tudo, Há tourada na aldeia, é um filme sobre o “sentido de pertença”. Também pode ser uma espécie de elegia a um fim inevitável. Seja como for, a generosidade do olhar do seu autor, a sua inteligência e persistência, oferecem-nos uma delicada composição de uma realidade também comovente.
Carlos Fernandes
Há Tourada na Aldeia, é um filme que personifica esta prática como meio social, cultural e ideológico. Mas, centra o assunto na Capeia Arraiana que é uma prática de toureio única no mundo, onde vários homens erguem o forcão com o qual enfrentam os touros trazidos muitas vezes de Espanha às escondidas.
Há Tourada na Aldeia é um filme onde as pessoas saem à rua, vestem as suas melhores roupas, os filhos da terra voltam e num misticismo renasce a união de uma aldeia de uma tradição comum, que os alimenta a todos a alma.
Conscientes que desenvolvem uma tourada única no mundo, a Capeia Arraina, com uma tradição com raízes ancestrais, esta é aguardada ansiosamente pelos seus habitantes.
Mas mais que um espectáculo é uma forma de ser, de estar, de viver. Há Tourada na Aldeia, é apenas um pequeno gesto numa cultura que se afirma de massas, no presente e no futuro.
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