Abbas Kiarostami viajou para Itália. Estamos habituados a vê-lo viajar pelo Irão, entre a cidade e o campo mais remoto, naqueles percursos de automóvel que se tornaram uma das mais reconhecíveis "trademarks" dos seus filmes. Vê-lo a filmar no estrangeiro é uma raridade. "Cópia Certificada"/"Copie Conforme", rodado na Toscana, é apenas a sua segunda longa feita fora do Irão, depois de um documentário, "ABC Africa", realizado em 2001 a convite das Nações Unidas. Mais do que apenas um filme feito no estrangeiro, "Cópia Certificada" é um filme estrangeiro, com produção francesa (a MK2 de Marin Karmitz), actores "internacionais" (Juliette Binoche e o cantor de ópera William Shimmel, um "não-actor", certo, mas por todas as razões um "não-actor profissional"), e nenhuma relação directa com qualquer contexto iraniano (nenhuma relação directa, mas as relações "oblíquas" dariam pano para mangas). No meio de tanta novidade, constitui, por paradoxal que pareça, algo como um regresso: é o mais "clássico" dos filmes de Kiarostami desde o já longínquo "O Vento Levar-nos-á" (1999), seja no modo de fazer seja na linearidade da estrutura narrativa.
É "Cópia Certificada" uma cópia conforme, "made in Italy", do cinema de Kiarostami? O tema da "cópia", e do lugar da cópia na "arte" e na "vida", percorre o filme de diversas maneiras, desde o mote (uma conferência de um historiador de arte, a personagem de Shimmel, sobre cópias e plágios na arte ocidental) à conclusão, quando, idealmente, o espectador já não sabe distinguir se é a "arte" que copia a "vida" se é ao contrário. Portanto, nessa medida, sim, diríamos que Kiarostami se dispõe a jogar o jogo da estranheza e do reconhecimento, preservando traços do seu cinema ("copiando-se", portanto), como os travellings de automóvel com longas cenas de diálogo, no meio de tudo o que é novo e estranho. Até mais do que isso, não é descabido ver em "Cópia Certificada" um daqueles filmes de "impasse" e auto-reflexão que os grandes cineastas têm tendência a fazer - e há pelo menos uma frase dita pela personagem de Shimmel, "ser simples não tem nada de simples", que podia ser assinada pelo próprio Kiarostami (e de resto, é ele quem a assina: o argumento e os diálogos são dele).
Na relação com as personagens e com as situações o desdobramento entre "cópias" e "originais" adensa-se. Shimmel e Binoche começam o filme como dois desconhecidos, ela é uma galerista admiradora dos livros dele mas isso parece ser tudo. Nas horas que se seguem, em passeios por aldeias e igrejas toscanas, a proximidade acaba por cruzar uma fronteira qualquer, como se em pouco tempo Shimmel e Binoche deixassem de ser desconhecidos para passarem a ser um casal com uma longa história. Inútil tentar explicar a natureza dessa transformação: ela é o fulcro do filme, como se através dum "raccourci" temporal Kiarostami quisesse filmar um arco de anos na vida de um casal, sem tornar precisa a linha entre a "representação" (a "cópia": duas personagens que "imitam" um casal?) e a "genuinidade" da sua condição. Esse mistério, acrescido à situação e ao cenário italiano, tem levado muita gente a falar de "Cópia Certificada" como uma "homenagem" à "Viagem à Itália" de Rossellini. Com certeza que Kiarostami faz a sua vénia, e que a conjugalidade nunca ocupou assim o espaço dos seus filmes iranianos; mas está longe de ser um "remake". Não mais "remake", nesse caso, do que outros filmes de Kiarostami: se pensarmos naquela célebre tirada que Rivette escreveu, à época, sobre o filme de Rossellini (que "abria uma brecha pela qual todo o cinema moderno devia forçosamente passar"), torna-se evidente que todo o cinema de Kiarostami passou pela "brecha" aberta pela "Viagem" (até no uso dos automóveis...), e que a ser alguma coisa do género, este filme será sobretudo o reconhecimento "conforme" de uma dívida.
A outra questão interessante - e "oblíqua" - do filme está no facto de ele não mergulhar apenas num universo artístico mas também num universo religioso, numa relação (arte/religião, arte de inspiração religiosa) que em parte define muito daquilo que entendemos por cultura europeia clássica. Kiarostami sai do Irão para se ir instalar no coração do Renascimento: se há coincidência e só coincidência nisto, acredite quem quiser. Porque o que ele evoca é um mundo em que a Arte se equiparou à Religião enquanto linguagem e expressão de uma relação com o mundo e com os seus mistérios.
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Luís Miguel Oliveira, Público
Desde a sua estreia em Cannes, que foi polémica, "Cópia Certificada" não faz outra coisa do que resistir-nos. Não esquecemos que Kiarostami é um dos poucos, se não mesmo o único dos realizadores contemporâneos, para quem questionar o cinema significa questionar a humanidade e a sua existência. Pegue-se num filme, num qualquer, assinado por Abbas, seja ele "Onde Está a Casa do Meu Amigo?" ou "O Sabor da Cereja", que o mote é sempre o mesmo: o seu cinema é um inquérito ao humano. Se escavarmos mais fundo, um inquérito do realizador a si próprio, como homem e como artista. Invariavelmente, Kiarostami inventa personagens (sobretudo mas¬ulinas, mas por vezes também femininas, como foi o caso de "Dez") que são desdobramentos e declinações da sua persona. Sob este prisma, diga-se desde já, "Cópia Certificada" não podia ser mais kiarostamiano.
Luís Miguel Oliveira, Público
Desde a sua estreia em Cannes, que foi polémica, "Cópia Certificada" não faz outra coisa do que resistir-nos. Não esquecemos que Kiarostami é um dos poucos, se não mesmo o único dos realizadores contemporâneos, para quem questionar o cinema significa questionar a humanidade e a sua existência. Pegue-se num filme, num qualquer, assinado por Abbas, seja ele "Onde Está a Casa do Meu Amigo?" ou "O Sabor da Cereja", que o mote é sempre o mesmo: o seu cinema é um inquérito ao humano. Se escavarmos mais fundo, um inquérito do realizador a si próprio, como homem e como artista. Invariavelmente, Kiarostami inventa personagens (sobretudo mas¬ulinas, mas por vezes também femininas, como foi o caso de "Dez") que são desdobramentos e declinações da sua persona. Sob este prisma, diga-se desde já, "Cópia Certificada" não podia ser mais kiarostamiano.
Mas insistimos: o filme resiste-nos. Apesar da sua sensualidade contagiante, receia-se desde o primeiro plano que o 'génio persa' tenha tombado na ambiência chique de uma Toscânia de sonho, num 'filme de prestígio' para inglês ver, falado em três línguas, com uma grande estrela do cinema francês (Juliette Binoche) e um barítono britânico (William Shimell) que Kiarostami resolveu transformar em ator depois de o ter descoberto numa encenação de "Cosi Fan Tutte". Receia-se que o programa, desta vez, se baseie nos clichés do romanesco e seja tão vão como a maioria daquelas produções europeias com cartão postal de Itália em pano de fundo. Sobre este aspeto, não tardaram a fazer-se ouvir desde Cannes juízos severos contra o filme e que desta vez - provavelmente motivados pelo facto de Juliette Binoche ser atriz tão dada a amores como a ódios de estimação -, acusaram Kiarostami de impostura. Mas perguntamo-nos: não será o lado chique desta Toscânia e, admita-se, o cartão postal que está lá dentro, apenas mais uma ilusão de um filme recheado de ilusões? E quando, de repente, o casal que o filme nos apresentou numa certa manhã começa a tratar-se por 'tu' a meio da tarde, sem pré-aviso, levando-nos a acreditar que, afinal, aqueles dois desconhecidos são há 15 anos marido e mulher, estará Kiarostami preso às convenções?
A ilusão da realidade formada através dos artifícios do cinema, ideia que foi a chave no filme anterior "Shirin", contamina do interior este "Copie Conforme" original, que o título português decidiu passar a "Cópia Certificada". Gostávamos mais da palavra 'conforme', que é, em sentido figurado, um sinónimo de resignação. Pois acreditamos que é com resignação (mascarada por uma certa arrogância) que James (Shimell) apresenta o seu livro de ensaio de conteúdo teórico duvidoso. Defenderá ele, de facto, a ideia de que a cópia de uma obra de arte pode valer mais do que o seu original, como se aqui nos fosse dito entre linhas que a cópia é o cinema e o original a vida?
Quanto mais se pensa nos mistérios de James, no seu lado mais negro que aquela gentileza disfarça (mas será afinal hipocrisia?), mais a personagem desce às caves obscuras da dúvida ¬- até àquele derradeiro momento de confessionário em que ele olha para o espelho, como se de repente nos pedisse a opinião que dele fizemos. Nesse momento, ficam expostas a natureza intranquila de uma personagem que só o espectador poderá complementar e a porta de entrada de um filme que é um convite a aprender a ver.
ENTREVISTA AO REALIZADOR
Afirmou que o filme era inspirado num encontro real, mas não esclareceu se o envolveu a si ou outra pessoa.
Na verdade é baseado em algo que aconteceu comigo há 10, 15, talvez 20 anos. Não tenho noção real do tempo. E questiono-me também se a mulher em questão, caso veja o filme, se reconhecerá a ela mesma. É apenas uma memória que eu próprio guardei do que aconteceu? No fim de contas, apenas passámos um dia juntos – pergunto-me se ela se lembrará disso, de todo. Eu vi-a uma vez mais, entre o público de uma conferência de imprensa de um dos meus filmes. Acenei-lhe como quem diz “até logo”, mas depois fui levado por uma porta que o público não podia usar, por isso acabei por nunca lhe falar. E foi isso.
O que é que exactamente quis desenvolver com esta história?
É engraçado – já nem me lembro porque contei a Juliette esta história quando ela veio até Teerão. Comecei a contar-lhe isto como uma anedota, e fiquei impressionado com as suas reacções intensas e ricas. De certa forma, as expressões que vê no filme ecoam as reacções dela quando lhe contei a história pela primeira vez. É como quando tem convidados para jantar – se gostam da sua comida, você quer servir um pouco mais. Foi o que eu fiz: em reacção à reacção dela, eu dei-lhe um pouco mais da minha história. É como se a história se tivesse transformado num argumento. Se a tivesse contado a outra pessoa, nunca me teria apercebido de que se poderia tornar um filme. Há um poema persa que pode ser traduzido como “The listener made the speaker enthusiastic”. O que torna o que estás a dizer mais interessante depende exclusivamente do ouvinte e das suas reacções. Por isso devemos realmente este filme à qualidade da atenção que Juliette prestou à história que lhe contei.
Juliette Binoche é a primeira estrela com que trabalhou. Deu-lhe muitas indicações?
Nem por isso, ainda que no início ela tivesse muitas questões – e algumas dúvidas – e por isso passámos pelo processo de como abordar a sua personagem. A princípio ela parecia confiar em modelos – Anna Magnani, por exemplo – e isso poderia ser problemático porque não queria que ela se baseasse em ninguém. Eu insisti, “Esta mulher que estás a interpretar não é ninguém senão Juliette”, mas durante um tempo ela não o aceitava. Por isso disse, “OK, se há alguma cena, ou mesmo uma linha, em que não te reconheças, diz-me e eu retiro-a”. Então ela percebeu e admitiu que a mulher era ela. Mas mesmo depois do nosso visionamento em Cannes – e achei isto muito comovente – ela confessou-me que ainda estava preocupada: “Eu não quero que as pessoas pensem que sou como ela”. Eu disse, “Bem, não tens de admitir isso a ninguém, mas durante dois meses tu foste “ela” e “ela” eras tu – não só quando estávamos a filmar, mas 24 horas por dia”. Ela colocou realmente o seu coração no filme – não foi apenas interpretação profissional, foi tudo sobre ela. Dito isto, temos de nos lembrar que a Juliette de hoje não é a Juliette do Verão passado!
William Shimell, que interpreta um escritor inglês em Cópia Certificada, actuou apenas em Ópera anteriormente. Dirigiu-o de modo diferente?
Eu acho mesmo que não dirijo ninguém. Talvez no início com William estivesse um pouco preocupado, porque a certa altura nos ensaios senti que ele podia resistir – que talvez ele não queria deixar-se ir ou não queria admitir alguns aspectos da personagem. Mas então percebi que ele precisava de um pouco de tempo para apropriar-se da personagem. Então eu dei-lhe esse tempo. E tendo em conta que o filme foi escrito e feito à medida de Juliette, esse não foi o caso de William. Demorei algum tempo até preencher esse papel, mas no dia em que o vi, soube que ele era o tal, e assim que temos a pessoa certa no papel não há muito mais a fazer.
Na verdade é baseado em algo que aconteceu comigo há 10, 15, talvez 20 anos. Não tenho noção real do tempo. E questiono-me também se a mulher em questão, caso veja o filme, se reconhecerá a ela mesma. É apenas uma memória que eu próprio guardei do que aconteceu? No fim de contas, apenas passámos um dia juntos – pergunto-me se ela se lembrará disso, de todo. Eu vi-a uma vez mais, entre o público de uma conferência de imprensa de um dos meus filmes. Acenei-lhe como quem diz “até logo”, mas depois fui levado por uma porta que o público não podia usar, por isso acabei por nunca lhe falar. E foi isso.
O que é que exactamente quis desenvolver com esta história?
É engraçado – já nem me lembro porque contei a Juliette esta história quando ela veio até Teerão. Comecei a contar-lhe isto como uma anedota, e fiquei impressionado com as suas reacções intensas e ricas. De certa forma, as expressões que vê no filme ecoam as reacções dela quando lhe contei a história pela primeira vez. É como quando tem convidados para jantar – se gostam da sua comida, você quer servir um pouco mais. Foi o que eu fiz: em reacção à reacção dela, eu dei-lhe um pouco mais da minha história. É como se a história se tivesse transformado num argumento. Se a tivesse contado a outra pessoa, nunca me teria apercebido de que se poderia tornar um filme. Há um poema persa que pode ser traduzido como “The listener made the speaker enthusiastic”. O que torna o que estás a dizer mais interessante depende exclusivamente do ouvinte e das suas reacções. Por isso devemos realmente este filme à qualidade da atenção que Juliette prestou à história que lhe contei.
Juliette Binoche é a primeira estrela com que trabalhou. Deu-lhe muitas indicações?
Nem por isso, ainda que no início ela tivesse muitas questões – e algumas dúvidas – e por isso passámos pelo processo de como abordar a sua personagem. A princípio ela parecia confiar em modelos – Anna Magnani, por exemplo – e isso poderia ser problemático porque não queria que ela se baseasse em ninguém. Eu insisti, “Esta mulher que estás a interpretar não é ninguém senão Juliette”, mas durante um tempo ela não o aceitava. Por isso disse, “OK, se há alguma cena, ou mesmo uma linha, em que não te reconheças, diz-me e eu retiro-a”. Então ela percebeu e admitiu que a mulher era ela. Mas mesmo depois do nosso visionamento em Cannes – e achei isto muito comovente – ela confessou-me que ainda estava preocupada: “Eu não quero que as pessoas pensem que sou como ela”. Eu disse, “Bem, não tens de admitir isso a ninguém, mas durante dois meses tu foste “ela” e “ela” eras tu – não só quando estávamos a filmar, mas 24 horas por dia”. Ela colocou realmente o seu coração no filme – não foi apenas interpretação profissional, foi tudo sobre ela. Dito isto, temos de nos lembrar que a Juliette de hoje não é a Juliette do Verão passado!
William Shimell, que interpreta um escritor inglês em Cópia Certificada, actuou apenas em Ópera anteriormente. Dirigiu-o de modo diferente?
Eu acho mesmo que não dirijo ninguém. Talvez no início com William estivesse um pouco preocupado, porque a certa altura nos ensaios senti que ele podia resistir – que talvez ele não queria deixar-se ir ou não queria admitir alguns aspectos da personagem. Mas então percebi que ele precisava de um pouco de tempo para apropriar-se da personagem. Então eu dei-lhe esse tempo. E tendo em conta que o filme foi escrito e feito à medida de Juliette, esse não foi o caso de William. Demorei algum tempo até preencher esse papel, mas no dia em que o vi, soube que ele era o tal, e assim que temos a pessoa certa no papel não há muito mais a fazer.
Esta foi a primeira vez que escreveu um guião detalhado para um dos seus filmes.
Fi-lo porque tive de fazer, para conseguir financiamento. Mas depois fiquei muito grato, porque me forneceu algo em que podia confiar. Até agora, como meu próprio produtor, tenho sido razoavelmente brando e deixei o realizador fazer o que quisesse. Mas talvez a partir de agora eu deva ser como o [produtor] Marin [Karmitz] e exigir um guião!
Nas filmagens, manteve-se fiel ao guião, ou foi apenas uma inspiração?
Na primeira parte mantivemo-nos muito próximos do que foi escrito. Mas na segunda parte deixámos bastante em aberto, especialmente porque não tínhamos a certeza de quando tempo teríamos para completar as filmagens.
Depois de ler o argumento Binoche disse-me que a lembrava de Cenas da Vida Conjugal (Scenes from a Marriage), de Bergman. Ela tem razão na medida em que o seu dia na vida de um homem e uma mulher assemelha-se a uma relação, da sedução ao esquecimento, do ressentimento à recriminação.
Isso é interessante. Não penso nesse filme há anos. Mas vi-o há muito tempo, e lembro-me de que quis voltar a vê-lo imediatamente. Por isso talvez possa ter sido uma influência subconsciente!
Porque é que escolheu por vezes – especialmente na cena do restaurante – ter Juliette e William a falarem mais ou menos directamente para a câmara?
Eu sei que fazer isso arriscava tornar as coisas um pouco artificiais mas temos de arriscar. O meu objectivo era ter Juliette a falar directamente para os espectadores masculinos no público – como se eu os quisesse sentados mesmo à frente de William – e fazer o mesmo com ele às mulheres no público. Por isso quando filmámos a cena do restaurante, pegámos numa mesa para quatro e colocámos Juliette e William sentados diagonalmente, cada um deles virado para a câmara que estava perto do outro actor. Mesmo que não conseguissem olhar-se directamente, pelo menos podiam ter um diálogo real, escutando-se e respondendo imediatamente.
O verdadeiro estado da relação é deixado ambíguo para o público. Tem as suas próprias ideias acerca da história do casal?
Não, ainda não sei. A verdade é uma possibilidade – o que a realidade é não interessa assim tanto. O que interessa aqui é que eles podem ser um casal. O homem diz “Fazemos um bom casal, não é?” E enquanto o dono do café os olha como um casal, de certa forma o facto de eles serem um casal é verdade, independentemente se eles o são mesmo na realidade.
Devemos ver, então, as outras personagens no filme – os recém-casados, os turistas, o velho casal – como o reflexo das possibilidades disponíveis para a mulher e o homem?
Essa seria a sua interpretação. Mas eu não penso da mesma forma. O que eu tinha em mente era ter quatro gerações, um pouco como as quatro estações.
O turista que dá conselhos ao homem é interpretado pelo famoso argumentista Jean-Claude Carrière. Como surgiu a ideia?
Temos uma boa relação há anos – apenas lhe pedi para vir. Eu não queria que os diálogos daquela personagem fossem ditos por um actor que os tivesse aprendido. Eu queria alguém que conseguisse olhar brevemente para a personagem, e que depois tornasse o papel seu numa voz que soasse credível. E Jean-Claude, senti, tinha sabedoria e experiência suficientes para isso. Foi algo que aprendi com “O Sabor da Cereja”: o homem velho que escolhi – totalmente por acaso – para o fim do filme foi uma dádiva. Ele mal olhou para as deixas, mas soube instintivamente o que dizer.
Filmar Cópia Certificada em Itália, com um orçamento e uma equipa maiores do que o habitual, mudou as suas ideias sobre as filmagens no futuro?
Estou tentado a repetir a resposta de Juliette quando venceu o Óscar por “O Paciente Inglês” e um jornalista francês lhe perguntou, “Agora que é reconhecida em Hollywood, vai para lá trabalhar? Ela respondeu, “Não, quero trabalhar com Abbas Kiarostami.” Cito-a não por vaidade pessoal, mas porque espelha exactamente a minha atitude: quero trabalhar com Abbas Kiarostami, de volta ao Irão. E espero começar a filmar em Setembro.
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por Geoff Andrew
por Geoff Andrew
Realização: Abbas Kiarostami
Argumento original: Abbas Kiarostami
Adaptação: Massoumeh Lahidji
Direcção de Fotografia: Luca Bigazzi
Montagem: Bahman Kiarostami
Som: Olivier Hespel e Dominique Vieillard
Direcção de Arte: Giancarlo Basili e Ludovica Ferrario
Interpretação: Juliette Binoche, William Shimell, Jean-Claude Carrière, Agate Natanson,
Origem: França/Itália/Irão
Ano: 2010
Duração: 84'
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