
Era uma vez, viajei até ao Irão para encontrar Abbas (tinha-o encontrado em Cannes, na UNESCO, na casa de Jean Claude Carrière). Ele disse-me, “vem até Teerão”. Aceitei a proposta e parti. Duas vezes. Uma noite ele contou-me a história que filmámos juntos este Verão. Ele contou-me cada detalhe: o soutien, o restaurante, o hotel. Resumindo, ele contou-me que a história tinha acontecido com ele. No final, depois de falarmos durante 45 minutos num inglês perfeito ele disse, “Acreditas em mim?” Eu respondi, “Sim”. E ele disse-me, “Não é verdade!”. Eu estourei de riso, e acho que pode ter sido isso que o levou a querer fazer o filme! Realidade e ficção sempre me fizeram rir porque eu acredito verdadeiramente que tudo é possível. Até hoje, tenho a certeza de que ele viveu esta história. Da mesma forma que tenho a certeza de que ele não o fez.
A Toscana é um daqueles lugares onde os milagres podem acontecer. Não é surpreendente que existam por lá tantos santos e vegetação.
Vivemos ao longo deste filme como uma família composta por velhos amigos, tal como num filme de sonho. Éramos uma pequena equipa, numa pequena povoação, frescura no interior, calor no exterior.
Ali o tempo não tinha lugar. Os olhos de todos faiscavam de paixão, e estávamos todos felizes por estarmos juntos. Abbas estava prestes a realizar a sua primeira longa-metragem longe do casulo da sua terra natal e da sua língua. E o actor, William, deixou a ópera para juntar-se ao mundo de Abbas. Eu observei-o. De forma nervosa, corajosa ultrapassando o espaço do actor, largando lentamente aquilo em que acreditava, aquilo que tinha aprendido, noutras palavras, largando o guião que ele tinha aprendido de cor!
Juliette Binoche
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