Dia 8 termina a Mostra de Cinema ao Ar Livre com Um Lugar para Viver. Este, o do cinema. Boas férias! Voltamos em Cacela-A-Velha dia 31!

Fábrica da Cerveja, 22h, sócios 1€, não-sócios 3,5€.


Um Lugar para Viver cumpre os objectivos a que se propõe: um inteligente exercício sobre as angústias quotidianas, encenado com rigor e com aquela precisão quase de marcação teatral, que constitui a grande imagem de marca do realizador. Oscilando entre um tom dramático e uma componente de alívio cómico, em doses equilibradas, o filme constrói personagens complexas (excelente direcção de actores) e resiste às facilidades de um registo patético, em que poderia cair, ao optar pelas aventuras e desventuras de um casal à procura de um ideal "lugar ao sol". Falta talvez o cinismo lúcido de "Beleza Americana", mas sobra a capacidade de narrar as pequenas surpresas de um microcosmos de reconhecível verosimilhança.
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Mário Jorge Torres, Público




O tema continua a ser a família, a paternidade e o mundo em volta. Só que em vez do deprimente 'off the road' de Revolutionary Road, em Um Lugar para Viver o casal parte vezes sem conta para descobrir o prazer de ficar.

E se em Revolutionary Road o casal tivesse partido para Paris, em vez de se deixar engolir por aquela sociedade claustrofóbica? Não se sabe ao certo o que aconteceria. Mas o filme seria outro. Ou não haveria filme nenhum. Ou então - quem sabe - tornar-se-ia em algo parecido com Um Lugar para Viver, o último filme de Sam Mendes, já após o divórcio de Kate Winslet. E às vezes são pormenores que distinguem os géneros. Em Revolutionary Road a sociedade parte-os ao não os deixar partir. Em Um Lugar para Viver a partida só serve para encontrar o mundo partido - ao contrário de Revolutionary Road, o mundo está feito em cacos, enquanto o casal se mantém indestrutível, unido perante a loucura do mundo; a viagem, a rigor, serve apenas para cumprir a máxima: "Às vezes é preciso dar uma grande volta para ficar no mesmo sítio". O primeiro é um off the road, o segundo um road to nowhere.




Tal como Beleza Americana, o filme começa com uma pouco usual cena de sexo. Também por aí se faz a diferença. A masturbação de Kevin Spacey Beleza Americana revela uma enorme solidão e um egoísmo elevado a consequências drásticas, o sexo oral praticado por Burt, em indicia um filme em espírito altruísta. É que este casal 'grávido' parte para o mundo de braços abertos, em busca porventura da felicidade que já está na sua posse. O mundo é que se revela insano e incurável de forma nada drástica. É por isso que este Sam Mendes, novamente com a família como tema, se enche, ao contrário de outros, de esperança e de optimismo: continua a não dar grande coisa pelo mundo e pela vida em sociedade, mas revela fé no indivíduo ou, se quisermos, no amor.

A dupla de actores, e em especial John Krasinsky, ajuda a criação de momentos de delírio cómico, num filme muito musical, que consegue o difícil equilíbrio se ser feliz e leve, sem ser piegas nem leviano.
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Manuel Halpern, Visão



Há um tom a roçar o burlesco no périplo de Burt e Verona em busca de um sítio propício para constituir família, ver os filhos crescer, trabalhar, envelhecer. E começam a ver onde moram os amigos e familiares perto dos quais gostariam de estar. Todavia, pouco a pouco, esse périplo torna-se um desfilar de angústias, e aquilo que parecia ser uma procura quase infantil torna-se progressivamente patético – quase, quase no limiar do desespero. Porém, o sorriso cúmplice do espectador nunca se apaga por inteiro, mercê de um equilíbrio de clima dramático que Sam Mendes consegue executar num difícil exercício. E se “Um Lugar Para Viver” não atinge os cumes de “Beleza Americana” ou de “Revolutionary Road”, não justificando, portanto, hossanas nas alturas, a verdade é que este filme consegue uma estratégia de nos conduzir, de surpresa em surpresa, pelas vielas das almas feridas com uma efectividade dramatúrgica que convém sublinhar.
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Jorge Leitão Ramos, Expresso


Título Original: Away We Go
Realização: Sam Mendes
Argumento: Dave Eggers, Vendela Vida
Fotografia: Ellen Kuras
Montagem: Sarah Flack
Música: Alexi Murdoch
Interpretação: John Krasinski, Maya Rudolph, Carmen Ejogo, Catherine O'Hara,
Jeff Daniels, Allison Janney, Jim Gaffigan, Samantha Pryor
Origem: EUA/Reino Unido
Ano de Estreia: 2009
Duração: 98’


EM COMPLEMENTO

UM DIA FRIO, Cláudia Varejão, Portugal, 2009, 27’

Um retrato de uma relação primeira, anterior ao mundo externo, a da família. Num Inverno em Lisboa, pai, mãe, filho e filha, traçam o percurso de um dia, a sós. Um filme que se desenvolve em torno de personagens cujo antagonista não é mais do que a própria vida, com nada (e tudo) de heróico.

Título Original: Um Dia Frio
Realização: Cláudia Varejão
Argumento: Cláudia Varejão, Graça Castanheira
Fotografia: Rui Xavier
Montagem: Cláudia Varejão, Pedro Marques
Interpretação: Adriano Luz, Ágata Pinho, Ana Rodrigues, Isabel Ruth, Maria d'Aires, Vicente Carneiro
Origem: Portugal
Ano de Estreia: 2009
Duração: 27’




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