5ªf, HOMENAGEM A ANGELOPOULOS - PAISAGEM NA NEBLINA. 21h30, Sede, entrada livre.

Paisagem na neblina é um filme que poderia ser absurdo se não fosse tão real. Delicado, sutil e sugestivo, consegue aliar elementos dissonantes sem perder sua unidade e melodia. A obra do diretor grego se ergue em cima da imagem, explorando em muito sua capacidade de expressar e emocionar. A história, os enredos, as ações e acima de tudo, a possibilidade de compreensão, tudo está no movimento que a câmera elabora e nos permite enxergar a partir do seu desejo de significação. Se trata de um filme parente da ideia do cineasta russo Andrei Tarkovski, que imaginava a feitura de uma obra que utilizasse o máximo de meios unicamente advindos da linguagem cinematográfica em si – não tão dependente das outras artes – para construir narrativa.

Tudo está presente no quadro fílmico. E nos é passado em diversos níveis, do mais direto ao mais subjetivo, por meio de signos e metáforas visuais. Cada sequência tem vida própria, e vale pela sua beleza. A história de duas crianças que abandonam sua cidade para ir a Alemanha, em busca de um pai que mais criaram do que existe, se desenvolve em uma atmosfera climática fria, alagada, onde a força do vento e a a persistência da neblina inebriante, e estimulante a cegueira, não são suas maiores dificuldades. Angelopoulos nos mostra essa Grécia na qual não estamos acostumados, onde os tons de cinza afujentam qualquer ocorrência do belo. Uma escolha que bem nos reflete o interior daqueles personagens e de seus desejos – uma certa impossibilidade, negação, um excesso de barreiras. O tempo digno de um inverno alemão, nos faz parecer que eles já estão no país germânico. Pois, em qualquer lugar do mundo, a busca deles irá permanecer dessa forma – já que, como afirma um dos personagens da família das crianças “esse pai não existe”, fato que não é levado à sério pelos protagonistas em nenhum momento, e ao que nos parece, cria uma trajetória sem sucesso.

O diretor nos coloca como companheiros de viagem desses dois persoangens, que sozinhos só têm sua proteção um no outro, e a certeza, no sonho que têm em comum. Um do maiores problemas que enfretam em sua empreitada é a questão de possuirem uma maturidade ainda não validada pelos outros. Sua vontade não corresponde a idade que apresentam. Embora saibam o que querem e sejam independentes, o mundo os enxerga despersonificamdo-os, ainda não como sujeitos autônomos, e sim, como despreparados, frágeis, um lugar perfeito para cometer abusos e aproveitamentos. Porém, mesmo estando à mercê de um mundo em seu pior nível, decadente, mortífero, sujo, violênto, injusto, e sofrendo disso tudo, nada parece atrapalhar o rumo dos personagens – já que para eles, a realidade não é o mais importante.
Os dois, uma menina de aparentemente12 e um garoto que sugere ser dono de uns seis anos, quase não falam.

Demonstram só querer chegar rápido em seu destino, sem desvios. E assim, a oralidade, os diálogos, são impostos pelos personagem a eles estranhos, que de certa forma, se intrometem em sua trajetória. A partir das pessoas que eles conhecem, manifestações do acaso, travamos contato com diversas histórias, como um grupo teatral sem teatro, um bruto caminhoneiro, um jovem ator que em breve terá que se apresentar ao exército, ou até mesmo, figuras que aparecem por instantes na tela, em segunda ação, ao longe como a cena da noiva que foge do casamento chorando e retorna feliz em segundos. Um micro resumo da vida está presente no rumo que seguem: demonstrações de morte, de perda, de relações intrapessoais dos mais variados tipos. As crianças são nosso meio de transporte para pegar a estrada e estabelecer contato com essas existências que fazem parte da Europa dos anos 80.



Paisagem na neblina é um filme para a memória se abrigar. Não só pela beleza da persistência, do gosto de se chegar a um desejo que vale o esforço ou de como escolhe tratar o nascimento de um adulto em uma criança, mas também pelo simples prazer de contemplar suas cenas sem muito compromisso. Planos-sequências à base do silêncio, expressivos, elementos a entrar e sair dos quadros, câmeras estáticas, tudo a demonstrar a ineficâcia, o intransigível, a nos chamar a atenção e nos obrigar a mergulhar em todos os elementos que um plano retrata, sem correr riscos de olhares não compenetrados.

É incrível como Angelopoulos cria situações e dá destinos tão imprevisíveis para elas. O azul-branco que pigmenta o filme faz tudo ser possível. Toda simbologia parece estar alinhada para sua vontade de expressão. Além disso, cabe destacar algumas observações à respeito dos dois irmãos. É impossível não fazer uma associação bíblica, até porque, o filme é de alguma forma espiritual. Ambas as crianças, um casal, saem de um ambiente na qual a mãe dá tudo e nada tem que se preocupar, tudo que ela pede, é que esqueçam o assunto sobre o pai delas. Mesmo assim elas parte. No fim, elas encontram a sua redenção, simbolizado por um abraço na mitológica árvore da vida. Isso soa bem conhecido.

O uso de elementos religiosos, católicos, também se apresenta de outra forma. Uma das coisas mais interessantes da obra é o conto que os irmãos usam um para acalmar o outro. É sobre o mito cristão da criação do mundo, o famoso “no príncípio era o caos”. Esse é meio que um entendimento interno entre os dois, um código. A história que os irmãos se contam sempre é inacabado, pois segundo o irmão, “alguém sempre nos interrompe”. Isso mostra bem o devir, presente em todo o filme. As coisas nunca permanecem no mesmo lugar, estando em contínuo movimento. Além disso, o homem é dono de seu futuro. A história do mundo está em permanente criação, sem ponto de chegada. Ambos recém começaram a escrever as suas e de uma forma extremamente livre. Essa trangressão, liberdade, é uma das sensações mais incríveis que ficam quando entram os créditos finais.
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Paisaje en la niebla, que ganó el Oscar europeo (Félix) a la mejor película en 1989, podría haberse subtitulado como Ninos en un cuento de hadas documental. SencilIamente, se trata de la película más accesible de Angelopoulos y es la tercera parte de la trilogía dei silencio, bautizada así por el director, que se identifica de una manera amplia con el viaje y que completan Viaje a Citera y ElApicultor. La historia y, en ese mismo sentido, el mundo de los adultos quedan fuera de este cuento, única película de Angelopoulos centrada en la infancia.

En esta película se entrelazan elementos de la mitología y de los cuentos de hadas, pero también incluye eI realismo documental. La atención recae en Alexander, un niño de cinco años, y en su hermana Voula, de once, que son el foco de esta narración, como miños en su próprio mundo y como niños forzados por la realidad circundante a perder su mocencla demasiado pronto. Stephen Holden indicaba en el New York Times que «la excepcional belleza se convierte en una elegía alegórica de iniciación a un mundo moderno prohibido».

Casi al comienzo de Paisaje en la niebla la pantalla permanece completamente a oscuras mientras la niña le cuenta a su hermano una historia que ya ha contado muchas veces. Se trata del mito de la creación y, evidentemente, resulta reconfortante, puesto que el niño quiere escuchar la historia otra vez. El mito, según cuenta la voz en off de la hermana, comienza así: «En el principio había oscuridad y después se hizo la luz y la luz se separó de la oscuridad y la tierra deI mar, de los ríos, de los lagos y luego aparecieron las montanas, las flores, los árboles, los animales y los pájaros». Se escucha una puerra que se abre y se cierra y unos pasos. No vemos nada. La niña dice, «Es mamá», y añade, «La historia nunca terminará».

En ese momento la puerta se entreabre, dejando que entre la luz, como si estuviera iluminando el mito recién contado. Cuando la puerta se abre por completo, la luz cubre a los dos hermanos que simulan estar dormidos en la misma cama. Se cierra la puerta y los pasos de la madre se alejan.

Con esta simple escena que se desarrolla casl en la oscuridad quedan establecidas muchas cosas. En el nivel cinematográfico, por supuesto, Angelopoulos define el medio de la propia película que consiste, a fin de cuentas, en un juego de luz y sombras. Lo que es más, que presente la escena casi en total oscuridad sugiere cómo él, en tanto que director, puede crear una narración a partir de la «nada».

... Paisaje trata de la importancia de la forma narrativa más elemental de todas: el mito, la historia, el cuento hablado.

Pero la escena sugiere más. Por una escena anterior, en una estación de tren, sabemos que los hermanos están buscando desde hace tiempo a su padre que piensan que está en Alemania. Por otra parte, todo lo que sabemos de su madre es por esa escena del mito de la creación: los pasos y el abrir y cerrar de la puerta. Nunca la oímos hablar, ni la vemos. Por tanto, para cualquier efecto práctico, está tan ausente como el padre o, tal vez, más: el hecho de que vivan con ella, pero sea física y emocionalmente distante, resulta incluso más negativo que la ausencia del padre, para el desarrollo de los ninos.

La historia no es el interés de Angelopoulos en esta película, sino el mito y los cuentos de hadas. Más allá de las habituales alusiones a la Odisea, P aisaje se encuentra centrada en el mito más básico de todos para cualquier cultura: el de la creación del universo. El mito de la creación queda claramente desdoblado disponiendo de un nivel individual, pues los dos niños se encuentran a la búsqueda de su propio origen. Su odisea es, también, otra variación sobre el referente homérico, pero en este caso se trata de dos niños, no de uno, que buscan a un padre al que no recuerdan, ni han visto nunca y como madre no tienen a la fiel Penélope, sino a una mujer no identificada a la que no se ve y que carece de emociones y actuación maternal. Esa escena sugiere que con frecuencia les ha dejado solos por las noches. Su regreso no conlIeva besos ni afecto. Lo que es más, en esta versión de la Odisea no aparece ningún Odiseo. Como veremos, se pone en duda su misma existencia. El final, como en un cuento de hadas, sugiere un triunfo y unos logros poco habituales en Angelopoulos, pues la película que comenzó en la oscuridad, se cierra con luz, aunque sea entrevista en la niebla.

Hay que apuntar un paraleIismo más. Aunque la Odisea resulte el eco dominante en Paisaje, otro mito que aparece, aunque sea de forma tangencial, es, una vez más, el del ciclo de Agamenón. Angelopoulos no se apoya en exceso en ese mito y las trazas que deja no se reducen a las acciones y a los personajes, sino, más bien, todo lo contrario. Para las personas familiarizadas con las películas de Angelopoulos los paralelismos resultan evidentes. Estos dos hermanos viajeros que se enfrentan con eI mundo se parecen a Elecrra y Orestes por la alienación respecto a su madre y su adoración ai padre ausente. En dicho paralelismo la variaciones sobre el tema mítico son bastante irónicas, pues el crimen de la madre no es el asesinato literal del padre, como en La Orestea, sino el figurado, ya que, como sugiere el tío de los niños al comienzo, ella se ha acostado con tantos hombres que no puede saber quién es realmente el padre (evidentemente, eso significa que Voula y Alexander pueden ser hijos de distintos padres). El mito también queda aludido porque los dos pequeños viajeros se encuentran con el Orestes de la companía de Elviaje de los comediantes. Por tanto, hay una especie de efecto desdoblador sobre el patrón clásico. Sin embargo, todo se encuentra envuelto en el mito de la creación, pero dicho misterio está marcado por la ironía de que Voula y Alexan¬der nunca puedan llegar a separar por completo la «luz» de la «sombra», aunque al final sean apaces de transcenderlos, pues llegan al árbol luminoso en un paisaje cubierto por la niebla en la realidad (documental), o en su imaginación ai morir (cuento de hadas). Como veremos, el final de Angelopoulos puede entenderse de cualquiera de las dos formas.
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Andrew Horton, El Cine de Theo Angelopoulos: imagen y contemplación


A economia nos diálogos pode ser uma forte aliada de uma boa história, como evidencia Paisagem na neblina (Topio stin omichli, 1988), lindo trabalho de ourivesaria de Theodorus (chamado Theo) Angelopoulos, cineasta grego que permanece pouco badalado ou apreciado pelos membros da comunidade cinéfila. O seu semiostracismo é quase um desaforo, visto que o filme em questão é um nobre exemplar de sua capacidade de comover e encantar a plateia, pautando pela riqueza das imagens que dispensam, muitas vezes, palavrórios e teorizações. Aqui temos a história de um casal de irmãos que sonha em chegar à Alemanha, mas não tem dinheiro suficiente para custear a viagem. Eles moram na Grécia e desejam chegar ao outro país para reencontrar o pai, que os abandonou à própria sorte anos atrás sem maiores explicações. O fato, ao invés de magoá-los ou revoltá-los, produziu neles um misto de resignação com inquietude, já que eles tentam de todas as maneiras embarcar no trem que leva à nação alemã. À noite, eles ficam na estação esperando uma oportunidade de pegar o tal trem, mas precisam fazê-lo sem que o fiscal do lugar perceba.

(...) Este é um daqueles filmes que embevecem retinas com apetite voraz para belas imagens atreladas a histórias maravilhosas. Angelopoulos casa ambos quesitos para falar de desencantamento e desabrochamento, entre outros temas já mencionados anteriormente. Apontado como responsável por fazer do diretor, ainda que apenas por um breve período, uma unanimidade entre os críticos, Paisagem na neblina exala poesia e docilidade como poucas vezes o cinema viu em sua história recente. Os acontecimentos se dão de forma natural, tanto que muitos desses momentos sequer parecem ter sido escritos anteriormente. É como se o realizador tivesse deixado alguns desdobramentos da narrativa por conta do acaso, e essa aparente ausência d premeditação resultam em instantes de profundo encantamento. Voula e Alexandre têm um vasto mundo pela frente, e os longos e abertíssimos planos do filme se encarregam de dar conta dessa vastidão, deixando entrever o paradoxo da pequeneza e da grandeza dos dois irmãos diante da vida que não para de lhes acenar novas possibilidades, para o bem e para o mal.

Ao mesmo tempo que amplia a visão do caminho tortuoso de Voula e Alexandre com os tais planos, Angelopoulos praticamente abre mão de uma trilha sonora, e deixa tudo mais pungente e emocionante, sem soar, em momento algum, manipulador. Pelo contrário. O grego é um artista da sensibilidade, e compõe ângulos de beleza magistral, tornando as mais de duas horas de filme dotadas de uma incrível fluidez, comparável a um rio caudaloso cujas águas correm sem que se perceba exatamente qual seja sua origem ou seu destino. EmPaisagem na neblina, a viagem, por si só, vale muito mais do que a chegada em si. A certa altura do filme, não importa mais saber se os irmãos conseguirão chegar à Alemanha, mas o quanto aquele lento e longo percurso será capaz de modificar as suas vidas. E, na conclusão dessa odisseia enternecedora, o espectador também pode sair modificado. O título, por sua vez, carrega uma bela metáfora que ganha sentido e intensidade ao longo do filme, a ponto de se transfigurar em uma verdade: é preciso cuidar para que a neblina não ofusque nossa visão, e então contemplaremos belezas inenarráveis.
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Título Original: Topio stin omichli
Realização: Theodoros Angelopoulos
Argumento: Theodoros Angelopoulos, Tonino Guerra e Thanassis Valtinos
Fotografia: Giorgios Arvanitis
Montagem: Yannis Tsitsopoulos
Música: Eleni Karaindrou
Interpretação: Michalis Zeke, Tania Palaiologou, Stratos Tzortzoglou, Eva Kotamanidou, Aliki Georgouli,
Vasilis Kolovos, Vasilis Bouyiouklakis
Origem: Itália/Grécia/França
Ano: 1988
LEGENDAS EM CASTELHANO
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