SINOPSE
Nejat desaprova que o seu pai, viúvo, viva com a
prostituta Yeter, a sua nova amiga. Tudo muda quando descobre que ela manda
dinheiro para a Turquia, para a faculdade da filha. Quando subitamente Yeter
morre, a distância entre pai e filho aumenta. Nejat viaja então para Istambul
para tentar encontrar Ayten, a filha de Yeter. Ayten é uma activista política
que foge para a Alemanha, para escapar à polícia turca. Torna-se amiga de
Lotte, uma jovem estudante que a convida para ficar em sua casa, um gesto que
não agrada à sua conservadora mãe. Mas Ayten é presa, vê negado o seu pedido de
asilo e é deportada e enclausurada na Turquia. Lotte viaja para a salvar, e é
apanhada numa desesperada situação…
Apesar
das reticências do filho Nejat, Ali, viúvo, decide viver com Yeter, uma
prostituta de origem turca. Mas Nejat, professor de alemão, acaba por começar a
afeiçoar-se a Yeter quando descobre que ela manda dinheiro para a Turquia, para
ajudar a pagar os estudos universitários da filha. A morte acidental de Yeter
afastará pai e filho e Nejat decide viajar para Istambul para tentar encontrar
a filha dela, Ayten. Activista política, Ayten fugiu da polícia turca e já se
encontra na Alemanha, onde se torna amiga de Lotte. Mas o pedido de asilo de
Ayten é negado e ela é deportada e enclausurada na Turquia. Num acto
irreflectido, Lotte decide partir para a Turquia para ajudar a amiga.
PRÉMIOS
Cannes 2007- Melhor
Argumento e Nomeado para a Palma de Ouro
European Film Awards 2007 -
Melhor Argumento e Nomeado para Melhor Realizador e Melhor Filme
GoldenOrange Filmfestival
Antalya 2007 - Melhor Realizador, Melhor Montagem e Prémio Especial do Júri
Óscares 2007 - Nomeado para
o de Melhor Filme Estrangeiro
Prémio
LUX 2007, Parlamento Europeu
NORDDEUTSCHER FILMPREIS 2007
Grande
Prémio LINO BROCKA 2007, Manila, Filipinas
TRAILER
FICHA
TÉCNICA
Título Original: Auf der anderen Seite
Realização: Fatih
Akin
Argumento:
Fatih Akin
Montagem:
Andrew
Bird
Fotografia: Rainer Klausmann
Música: Shantel
Interpretação: Nurgül Yesilçay, Baki Davrak, Tuncel Kurtiz
Origem: Alemanha/Turquia
Ano: 2007
Duração:
116’
Um reformado turco que vive na Alemanha e o seu filho
professor universitário em Hamburgo. Uma prostituta turca em Bremen que se
finge balconista de uma sapataria para que a filha universitária que ficou na
Turquia não saiba o que a mãe tem de fazer para a sustentar, só que a filha
universitária tornou-se activista política sem a mãe saber. Uma estudante alemã
de espírito (e amor) livre e a sua mãe aberta mas mais convencional.
Posto desta maneira, o que se esperará de "Do Outro
Lado" será um panfleto em forma de mosaico-"Magnolia" sobre
fronteiras, choques culturais, questões de identidade, globalização, política,
sociedade. Tirem, então, desde já o cavalinho da chuva, porque não é nada
disso. Ou antes: é um pouco disso, mas bastante pouco. Claro que sim, há
política, há sociedade, há identidade, há fronteira, há globalização a
trabalhar ao longo do filme de Fatih Akin. Mas a essência de "Do Outro
Lado" está muito menos nas nacionalidades do que nas universalidades: mais
do que questionar posições ou atitudes, Akin conta uma história, ou antes, três
histórias que se reflectem e se iluminam mutuamente sem nunca se cruzarem
realmente para lá da mera coincidência.
O filme começase a ganhar aí, nessa aparente submissão à
mecânica do filmemosaico para logo a seguir a desarmar com uma elegância
extraordinária que, ao mesmo tempo, evita olhar para os lugarescomuns da mesma
maneira de sempre: estes três pares de pais e filhos, mães e filhas, não se
cruzam apenas porque seria conveniente à estrutura narrativa, e podem gravitar
naturalmente em direcção uns aos outros, mas nunca passam de cometas em órbita
fugaz que usam essa gravidade para reembalarem no seu trajecto.
Depois, "Do Outro Lado" torna-se numa peculiar
abordagem do velho "conflito de gerações" que estão mais próximas
umas das outras do que pensam, gente que compreende à custa da sua própria
experiência o que "ser filho/a de" ou "ser pai/mãe de" quer
dizer, gente que se chega perigosamente perto do fim de tudo e aí encontra a
energia para recomeçar.
Flutuando em animação suspensa entre a Alemanha e a
Turquia, sempre "em viagem" por entre comboios, aeroportos, (auto-
)estradas, "Do Outro Lado" está permanentemente em movimento; e esse
movimento visível, físico, traduz-se igualmente no próprio movimento interno
das personagens, sempre divididas entre assumir e renegar (um passado, um
presente), entre aceitar e recusar (uma atitude, uma decisão), entre a fúria de
viver de quem ainda acredita e o cansaço vacinado de quem já não tem ilusões.
Akin, percebe-se, não quer que este filme dividido, ele
também, entre duas margens de um mesmo mundo, impecável jogo de espelhos
elegantemente construído onde cada personagem tem o seu duplo/ reflexo "do
outro lado" (a Alemanha e a Turquia, a vida e a morte, o passado e o
futuro), seja "apenas" político ou "apenas" social. Ele
quer é que este seja um filme sobre gente, e que tudo decorra daí. E é isso que
ele faz, de modo pontualmente convencional mas sempre sincero - e a sinceridade
desarmante, a exposição pessoal, é algo que nem sempre resulta no grande écrã.
Aqui, não só resulta como transporta o que é, no seu centro, uma história de
luto e perda, transformada através destas personagens numa celebração da vida;
numa oportunidade de recomeçar e de descobrir aquilo que nos faz mexer.
"Do Outro Lado" é um dos grandes filmes que vimos cá em 2008, para
guardar bem juntinho ao lado de "Wall-E", "O Segredo de um
Cuscus" e "Gomorra". Falhá-lo não é uma opção.
Jorge Mourinha,
Público, 1-11-2008
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