Um Dos Filmes do Ano!!!!!! 30.10.12 IPDJ 21:30



DIA 30 DE OUTUBRO
ELENA, Andrei Zvyagintsev, Rússia, 2011, 109’, M/12


Ficha Técnica
Título original: Elena
Realização:  Andrei Zvyaguintsev
Argumento: Oleg Negin e Andrei Zvyaguintsev
Fotografia: Mikhail Krichman
Música: Philip Glass
Interpretação: Nadezhda MarkinaAndrey SmirnovAleksey Rozin , Elena Lyadova , Evgenia Konushkina
Origem: Rússia
Ano: 2011
Duração: 109’

SINOPSE
Elena e Vladimir (Nadezhda Markina e Andrey Smirnov) já passaram dos 60 e, apesar de um passado tão díspar, mantêm um casamento estável. Ele é um homem frio e distante, que nunca conseguiu manter um bom relacionamento com Katerina (Elena Lyadova), a filha de um casamento anterior. Ela, uma mulher simples, de temperamento doce, está sempre preocupada com o futuro de Sergey (Aleksey Rozin), o seu único filho, que luta com graves dificuldades financeiras e mal consegue sustentar a mulher e os seus dois filhos. Certo dia, depois de um ataque cardíaco que o leva ao hospital, Vladimir decide reatar com a filha e fazê-la herdeira de toda a sua fortuna. Uma decisão que compromete as esperanças de Elena em ajudar o filho e os netos a terem uma vida melhor. Porém, algo parece ter ateado nela uma capacidade de luta que nada deixava adivinhar.
Terceira longa-metragem do russo Andreï Zvyaguintsev, depois de "O Regresso" (Leão de Ouro no Festival de Veneza de 2003) e "The Vanishment" (Prémio de Interpretação no Festival de Cannes de 2007), uma história dramática sobre a sobrevivência e a solidão. O filme foi seleccionado para o Festival de Cinema de Toronto e para Sundance, arrecadando o Prémio Especial do Júri na edição de 2011 do Festival de Cannes. 



NOTA DE INTENÇÕES
“ELENA permitiu-me explorar uma ideia central dos nossos tempos: a sobrevivência do mais apto, a sobrevivência a qualquer preço. O meu filme é um drama contemporâneo que procura expor o espectador a questões eternas sobre a vida e a morte. No fundo, cada ser humano está devastadoramente sozinho. A solidão é o início, o fim, e a barreira invisível que percorre a vida de todos os seres humanos. Os valores humanitários encontram-se a ser desvalorizados num piscar de olhos, levando a que as pessoas se voltem para si mesmas, gravitando em direcção aos seus instintos remotos. Uma mulher gentil, doce e feminina, plena de amor e carinho que se transforma numa homicida e que depois se arrepende num templo… Que tal, como imagem do Apocalipse?”
Andrey Zvyagintsev

 


"ELENA é uma obra que trabalha magistralmente em muitos níveis. Pontuado por uma atenção aos gestos do quotidiano (os primeiros minutos descrevem uma mecânica doméstica imutável), pelos longos planos-sequência que registam, na ilusão do seu comprimento, as deslocações dos protagonistas (Elena a viajar de comboio para visitar a família, Vladimir a conduzir o seu carro em direcção ao clube desportivo, o neto vagueando pelas ruas da sua cidade com os amigos para lutar contra outro gangue), suportado pela música repetitiva de Philip Glass, o filme está estruturado de modo a consciencializar o espectador para uma evolução fatal. As questões piscológicas e sociais são evidentes, testemunham agora uma divisão implacável da sociedade em classes que se desprezam e que já não coexistem, senão acidentalmente e para o pior (o casamento da enfermeira com o plutocrata é a condição do homicídio).
A questão da exigência por parte dos homens, e da sociedade, de uma submissão quase natural das mulheres confinadas a tarefas domésticas poderia igualmente explicar um gesto letal encarado como uma vingança. Mas ficar apenas pelas determinações de classe, ou de géneros, como única explicação do encadeamento de acontecimentos descritos pelo filme seria arriscar não compreender a natureza do pessimismo filosófico do cineasta. Aquilo que é descrito em ELENA é desde logo a «despiritualização» de um mundo pelo dinheiro bem como pela consciência, agora adquirida pelos habitantes deste mundo, de
uma ausência de sentido do mesmo, de um triunfo do absurdo.
Ao niilismo dos ricos opoõe-se o materialismo sórdido dos pobres, e é na recusa de toda a escatologia, de todo o advento possível, quer seja religioso ou social, metafísico ou terrestre, na desintegração de toda a moral em proveito da busca imediata de gratificação individual, que se situaria a origem do Mal moderno.
O hedonismo é também equiparado ao egoísmo, e as indústrias culturais que moldam a vida dos  humanos (a televisão é omnipresente neste mundo abandonado por Deus e por Marx) participam deste desencanto. Este conservadorismo desesperado e místico (a tomada de posse do apartamento do homem rico pela família e proletários é vista como uma forma de barbárie) é aqui tanto a marca de um cineasta que não pode render-se à banal indiferença das coisas como também o desaparecimento de toda a moral humana."
Jean-François Rauger, Le Monde





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