DIA 20 DE NOVEMBRO
BONSAI, Cristián
Jiménez, Chile/ Argentina/ Portugal/ França, 2011, 95’
FICHA
TÉCNICA
Título original: Bonsái
Realização: Cristián Jiménez
Fotografia: Inti Briones
Montagem: Soledad Salfate
Origem: Chile/ Argentina/ Portugal/ França
Ano:2011
Duração:
95’
SINOPSE
Julio e Emilia (Diego Noguera e Natalia
Galgani) são dois estudantes de literatura que se conhecem numa festa em
Valdivia, no Sul do Chile. Julio diz a Emilia que leu Marcel Proust. Emilia diz
a Julio que também o leu. Apesar de ambos serem apaixonados por literatura,
mentiram. Com o tempo vivem uma intensa relação de amor e sexo, sempre
precedido por longas leituras. Um dia deparam-se com o conto "Tantalia",
de Macedonio Fernández, sobre um casal apaixonado que usa um bonsai como
símbolo da sua relação. Essa comovente história deixa-os profundamente abalados
pois é exactamente nesse momento que pressentem o fim da sua própria relação.
Oito anos passaram. Julio conhece Blanca (Trinidad Gonzalez)...
Realizado por Cristián Jiménez depois de "Optical Illusions" (2009), um filme dramático inspirado no livro "Bonsai", a aclamada primeira obra do chileno Alejandro Zambra.
Realizado por Cristián Jiménez depois de "Optical Illusions" (2009), um filme dramático inspirado no livro "Bonsai", a aclamada primeira obra do chileno Alejandro Zambra.
TRAILER
Uma mise en scène da memória, cheia de rock''n''roll e tudo, mas nada
pateta.
Amável e, para além da amabilidade, muito bem conseguido filme que nos chega do Chile. Cristian Jiménez varia sobre um tema clássico: o coming of age, a despedida da adolescência e a entrada na idade adulta. Com um tempero que, neste caso, faz toda a diferença: as suas jovens personagens são bibliófilos furiosos, os livros e a literatura fazem parte do dia-a-dia, são um instrumento da relações de uns com os outros e de todos com o mundo - à semelhança, e não parece exagero dizer isto, de certas personagens da nouvelle vague (em Rohmer, em Godard, em Truffaut, em Eustache), onde os livros (ou, o que vai dar ao mesmo, os filmes, os quadros, a música) apareciam como expressão de uma espécie de lust for life. Na sua estrutura cronologicamente diferida - oito anos para a frente, oito anos para trás, alternadamente de capítulo em capítulo -, Bonsai filma o tempo do primeiro amor e o tempo da reflexão sobre o primeiro amor, através do destino (anunciado logo na primeira frase da narração off, ao mais puro estilo spoiler) do jovem casal protagonista: há oito anos conheceram-se e namoraram, oito anos depois perderam o contacto, por razões de que o filme avança apenas algumas dicas cifradas, particularmente através da literatura.
Amável e, para além da amabilidade, muito bem conseguido filme que nos chega do Chile. Cristian Jiménez varia sobre um tema clássico: o coming of age, a despedida da adolescência e a entrada na idade adulta. Com um tempero que, neste caso, faz toda a diferença: as suas jovens personagens são bibliófilos furiosos, os livros e a literatura fazem parte do dia-a-dia, são um instrumento da relações de uns com os outros e de todos com o mundo - à semelhança, e não parece exagero dizer isto, de certas personagens da nouvelle vague (em Rohmer, em Godard, em Truffaut, em Eustache), onde os livros (ou, o que vai dar ao mesmo, os filmes, os quadros, a música) apareciam como expressão de uma espécie de lust for life. Na sua estrutura cronologicamente diferida - oito anos para a frente, oito anos para trás, alternadamente de capítulo em capítulo -, Bonsai filma o tempo do primeiro amor e o tempo da reflexão sobre o primeiro amor, através do destino (anunciado logo na primeira frase da narração off, ao mais puro estilo spoiler) do jovem casal protagonista: há oito anos conheceram-se e namoraram, oito anos depois perderam o contacto, por razões de que o filme avança apenas algumas dicas cifradas, particularmente através da literatura.
Apesar de alguns momentos um pouco
corny (“Escrever é como tratar de um bonsai”) aparentemente sem antídoto,
Jiménez domina muito bem o contraponto - que é o segredo para o tom do filme,
perfeitamente doseado: nunca demasiado melancólico, nunca demasiado alegre,
nunca completamente grave, nunca completamente irrisório. O olhar sobre as
personagens - são mais maduros do que parecem? são só miúdos? - segue as mesmas
linhas, perfeitamente de acordo com o estilo inexpressivo (no melhor sentido da
palavra), e portanto aberto a toda a ambiguidade, dos seus jovens actores. E
com isto o filme chega muito bem, provavelmente até melhor do que a encomenda,
aonde queria chegar: a uma evocação, a curta escala, do “tempo perdido”
proustiano, uma mise en scène da memória, frágil mas não etérea, pelo contrário
sempre dependente de coisas físicas, sons e palavras, gestos e movimentos dos
corpos. Um pequeno Proust adolescente, cheio de rock and roll e tudo. Um
“teenage Proust”, mas nada pateta.
Luís Miguel Oliveira, Ípsilon
“E
no final, Emília morre e o Júlio fica sozinho”. Pronto. Para o seu segundo filme (depois de Optical Illusions,
de 2009), o chileno Cristián Jiménez corta pela raiz a curiosidade do final da
novela que adapta. É, de resto, com esta frase em off que começa Bonsai,
curiosamente, um filme em que o protagonista, Julio (Diego Noguera), usa a
mentira como forma de superar a timidez e depois até para alimentar a vida a
amorosa. Servindo-se de alguma liberdade e até sentido de humor, Jiménez mostra
dominar a arte ao tornar concisa a adaptação da novela de estreia de Alejandro
Zambra, já de si com menos de 100 págs. Tal como um Bonsai, este é um filme que
merece o cuidado de o apreciar, saborear, absorver. Depois das imagens, foi o
que fizemos com as palavras deste promissor realizador durante a conversa a céu
aberto, há pouco menos de um ano, no festival de Cannes.
É interessante a forma como funde neste
filme a realidade e a ficção, a verdade e a mentira. Foi algo que ficou claro
logo a partir da novela que adaptou?
Sim, a ficção como tema também faz
parte da novela. Para mim, como realizador, isso é um elemento decisivo. Aliás,
eu vejo este filme como colocando-se ao lado da ficção. E logo num momento em
que, digamos, nos últimos cinco anos, a ficção tem adquirido uma conotação
pejorativa, por oposição a algum excesso de espontaneidade, naturalismo ou
realismo. Eu prefiro usar a estrutura e a forma.
Já conhecia há muito tempo o
livro de Alejandro Zambra?
O livro foi publicado em 2006, é
bastante contemporâneo. E o autor é da minha idade. É, no fundo, um livro de
geração. Por acaso, na primeira vez que o li não vi logo o filme. Gostei muito,
mas não vi essa possibilidade de o adaptar para o cinema.
Achou-o muito pessoal, foi
isso?
É um livro muito baseado na
presença do narrador. Normalmente, este tipo de narração costuma ser muito
discreta. Mas aqui tudo voa, dois anos passam no mesmo parágrafo. É
extremamente minimalista. Tem menos de 90 páginas. Mais como se fosse um resumo
de um livro. Uma espécie de anti-Proust. Mas na segunda vez que o li, um ou
dois anos mais tarde, já tinha feito o meu primeiro filme e estava à procura de
ideias novas. Nessa altura, o autor era completamente contra a ideia de fazer a
adaptação...
Porquê?
Acho que ele tinha receio de que
se fizesse um filme pretensioso. Algo que o pudesse envergonhar. Por sinal,
essa era também uma das minhas maiores preocupações. Felizmente, acabou por
ficar convencido com a minha abordagem. E juntou-se mesmo à nossa equipa.
Qual é para si a metáfora de
Bonsai?
Para começar, eu não respeitei
totalmente a narrativa do filme, mas retirei alguns elementos do livro e
desenvolvi-os. Tal como a presença do bonsai no final. No fundo, uma história
dentro de outra história.
Quando leu o livro da segunda
vez, já percebeu onde se encontrava a sua ferramenta cinematográfica?
Acho que me seduziu o lado
geracional da história. Mas também a solidão, um tipo de solidão que não era
muito habitual. Seguramente não no tempo dos meus pais, em que existia mais um
projecto colectivo de mudar a sociedade, de combate à ditadura. No nosso caso,
chegámos aos 20 anos e percebemos que estávamos sozinhos. E para essa solidão
acho que não estávamos preparados. Os livros acabaram por ser o nosso refúgio.
Ao mesmo tempo, o livro Bonsai tem a sua estrutura e forma. Mais do que uma história,
existe um objecto formal. Isso era algo importante para mim.
Por falar nos seus pai,
lembra-se de quando sentiu despertar em si a vontade de escrever?
Comecei a escrever na minha
adolescência. Poesia, pequenos contos. Entretanto, com os meus 20 anos, quando
ainda estudava Sociologia, comecei a interessar-me pelo cinema. Tinha amigos na
escola de cinema e comecei a ajudá-los com guiões. Entretanto, comecei também a
fazer curtas metragens, mas tudo muito amador. Foi depois fazer a minha
pós-graduação em Londres em Sociologia e acabei por trabalhar na televisão, o
que me deu alguma bagagem para perceber como funciona esta cadeia de produção.
Foi aí que decidi passar a fazer cinema.
Depois de Optical Illusions, achou que
queria fazer algo diferente?
Essa era uma experiência muito
mais social e colectiva. O espaço das personagens era totalmente diverso. Aqui
é mais a experiência de uma pessoa que analisamos de perto. Por vezes, perto
demais. Este é mais um filme sobre pessoas que vivem dentro do seu corpo.
Podemos encontrar algo de si próprio na
personagem de Júlio?
... Talvez, um pouco... (risos)
Tem uma abordagem da minha geração, da nossa geração. O amor perdido. Não é
tanto uma experiência pessoal."
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