Com o apoio da Reitoria da Universidade do Algarve
FILME DO DESASSOSSEGO, de João Botelho
PRESENÇA DO REALIZADOR (mesmo!) e do protagonista CLÁUDIO DA SILVA
Preços: Sócios e Estudantes - 4€ / Restantes casos - 5€
Bilhetes já à venda (sede ao lado da Zara, 2ªf, 3ªf e 4ªf, 10h30-12h30 / 14h30-17h30, e sessões IPJ às 2ªf 21h30)
Às 18h, no Clube Farense, encontro com Richard Zenith e João Botelho. Organização da UAlg. Entrada livre.
NOTAS DO REALIZADOR
O LIVRO DO DESASSOSSEGO, “composto” por um misterioso e modesto ajudante de guarda livros de nome Bernardo Soares, heterónimo de Fernando Pessoa, está traduzido em 37 idiomas e espalhado pelo mundo inteiro. É o livro mais lido e divulgado do poeta, essa labiríntica e inigualável aventura literária. Nunca houve um génio criador que se identificasse tanto com o coração da cidade que o viu nascer, que coincidisse quase em absoluto com o emaranhado de ruas que calcorreou e descreveu como ninguém, com a infinidade de gentes com quem se cruzou e que descreveu com “o olhar de Deus”, numa Lisboa centro de um mundo sem centro. Não é assim o mundo hoje?
“A minha pátria é a língua portuguesa.”. Esta frase do LIVRO DO DESASSOSSEGO que é “a nossa maior invenção desde as Descobertas”, levou-me a enfrentar um mar de textos transformado numa obra universalmente conhecida, armadilha de um génio, puzzle perfeito e genial porque todas as soluções são diferentes e nenhuma é definitiva. “É impossível filmar O LIVRO DO DESASSOSSEGO”, diziam-me todos. “Talvez”, disse eu, mas a partir de um texto que não tem tempo, não tem fim e não tem igual, foi-me possível criar um FILME DO DESASSOSSEGO que não pretende ser o livro (outra coisa é o cinema, que não arte literária); não em nome da experimentação ou da artística diletância, mas em nome do cinema que eu amo acima de tudo, e da língua, que é também a minha pátria. Há no LIVRO DO DESASSOSSEGO dois pequenos e preciosos textos que foram decisivos para estruturar o filme e o modo de filmar. Um sobre a autonomia grandiosa do som dos textos que, quando são lidos em voz alta ou voz baixa, se elevam muito para cima do seu criador, tornando a escrita maior que o sujeito que a criou; E, outro, sobre a noção de tempo, a sua distorção, ideias que se ajustam na perfeição à noção do tempo cinematográfico. Há ainda uma pequena frase maravilhosa sobre a luz: “ A mesma luz que ilumina a face dos santos e os sapatos do homem comum.” Não foi preciso mais nada para eu ficar contente. Alcançar o grão da voz, encontrar os ritmos de música verdadeira e grandiosa dos fragmentos do livro. Leiam-no em voz alta ou voz baixa, como diz Pessoa. O aperto que sentem no peito não é de gloriosa felicidade? Os olhos não ficam rasos de lágrimas e o cérebro efervescente? Distorcer o tempo e as imagens, pôr em causa o modo de as ver (utilização de diferentes velocidades, ralentis, acelerações e até lentes anamórficas, embaciadas, desfocadas) pintar o espaço com cores excessivas, não realistas, mas também fazê-las esmorecer, quase desaparecer, chegar aos tons secos, e até à pureza da gama de cinzentos, do preto e do branco. Bernardo Soares, um homem contemporâneo, de aspecto normal, indecifrável do comum dos mortais, mas com a angústia e o tédio desesperado de um funcionário modesto, e Lisboa uma cidade misteriosa, labiríntica e profunda, de inquestionável beleza e luminosidade. “Oh, Lisboa meu lar!”. Todos os outros personagens e todos os incidentes que os envolvem são, na vertigem dos sons das frases que os fazem existir, parte do desassossego do ano 2010 da nossa era.
O LIVRO DO DESASSOSSEGO, “composto” por um misterioso e modesto ajudante de guarda livros de nome Bernardo Soares, heterónimo de Fernando Pessoa, está traduzido em 37 idiomas e espalhado pelo mundo inteiro. É o livro mais lido e divulgado do poeta, essa labiríntica e inigualável aventura literária. Nunca houve um génio criador que se identificasse tanto com o coração da cidade que o viu nascer, que coincidisse quase em absoluto com o emaranhado de ruas que calcorreou e descreveu como ninguém, com a infinidade de gentes com quem se cruzou e que descreveu com “o olhar de Deus”, numa Lisboa centro de um mundo sem centro. Não é assim o mundo hoje?
“A minha pátria é a língua portuguesa.”. Esta frase do LIVRO DO DESASSOSSEGO que é “a nossa maior invenção desde as Descobertas”, levou-me a enfrentar um mar de textos transformado numa obra universalmente conhecida, armadilha de um génio, puzzle perfeito e genial porque todas as soluções são diferentes e nenhuma é definitiva. “É impossível filmar O LIVRO DO DESASSOSSEGO”, diziam-me todos. “Talvez”, disse eu, mas a partir de um texto que não tem tempo, não tem fim e não tem igual, foi-me possível criar um FILME DO DESASSOSSEGO que não pretende ser o livro (outra coisa é o cinema, que não arte literária); não em nome da experimentação ou da artística diletância, mas em nome do cinema que eu amo acima de tudo, e da língua, que é também a minha pátria. Há no LIVRO DO DESASSOSSEGO dois pequenos e preciosos textos que foram decisivos para estruturar o filme e o modo de filmar. Um sobre a autonomia grandiosa do som dos textos que, quando são lidos em voz alta ou voz baixa, se elevam muito para cima do seu criador, tornando a escrita maior que o sujeito que a criou; E, outro, sobre a noção de tempo, a sua distorção, ideias que se ajustam na perfeição à noção do tempo cinematográfico. Há ainda uma pequena frase maravilhosa sobre a luz: “ A mesma luz que ilumina a face dos santos e os sapatos do homem comum.” Não foi preciso mais nada para eu ficar contente. Alcançar o grão da voz, encontrar os ritmos de música verdadeira e grandiosa dos fragmentos do livro. Leiam-no em voz alta ou voz baixa, como diz Pessoa. O aperto que sentem no peito não é de gloriosa felicidade? Os olhos não ficam rasos de lágrimas e o cérebro efervescente? Distorcer o tempo e as imagens, pôr em causa o modo de as ver (utilização de diferentes velocidades, ralentis, acelerações e até lentes anamórficas, embaciadas, desfocadas) pintar o espaço com cores excessivas, não realistas, mas também fazê-las esmorecer, quase desaparecer, chegar aos tons secos, e até à pureza da gama de cinzentos, do preto e do branco. Bernardo Soares, um homem contemporâneo, de aspecto normal, indecifrável do comum dos mortais, mas com a angústia e o tédio desesperado de um funcionário modesto, e Lisboa uma cidade misteriosa, labiríntica e profunda, de inquestionável beleza e luminosidade. “Oh, Lisboa meu lar!”. Todos os outros personagens e todos os incidentes que os envolvem são, na vertigem dos sons das frases que os fazem existir, parte do desassossego do ano 2010 da nossa era.
João Botelho, Julho de 2010
Título Original: O Filme do Desassossego
Realização e Argumento: João Botelho
Adaptado de Livro do Desassossego de Bernardo Soares/Fernando Pessoa
Interpretação: Cláudio da Silva, Alexandra Lencastre, Ana Moreira, André Gomes, António Pedro Cerdeira,
Realização e Argumento: João Botelho
Adaptado de Livro do Desassossego de Bernardo Soares/Fernando Pessoa
Interpretação: Cláudio da Silva, Alexandra Lencastre, Ana Moreira, André Gomes, António Pedro Cerdeira,
Carlos Costa, Catarina Wallenstein, Dinis Gomes, Filipe Vargas, José Eduardo, Luísa Cruz,
Manuel João Vieira, Marcello Urgeghe , Margarida Vila-Nova, Miguel Guilherme , Miguel Moreira,
Mónica Calle, Paulo Filipe, Pedro Lamares, Ricardo Aibéo, Rita Blanco, Rui Morrison, Sofia Leite, Suzana Borges
Fotografia: João Ribeiro
Montagem: João Braz
Música: Caetano Veloso, Carminho, Lula Pena, Ricardo Ribeiro
Fotografia: João Ribeiro
Montagem: João Braz
Música: Caetano Veloso, Carminho, Lula Pena, Ricardo Ribeiro
e Ópera “Marcha fúnebre para o rei Luís Segundo da Baviera” de Eurico Carrapatoso,
com interpretação de Angélica Neto e Elsa Cortez
Origem: Portugal
Ano de Estreia: 2010
Duração: 104’
Origem: Portugal
Ano de Estreia: 2010
Duração: 104’
Sem comentários:
Enviar um comentário