Domingo à noite. O que fazer? Ir ao cinema é sempre uma opção. Aliás, domingo é o dia oficial de sair de casa para ver um filme, ou comer pipoca, ou... Enfim. Domingo é também o dia oficial do tédio, dos programas estúpidos na televisão, da inexorável sensação de que a seguir, já é segunda-feira. Por que vou ao cinema?
São quase 8h. Olho no espelho mais uma vez e vejo se a roupa está coerente com a ocasião. Confortável, esperando o frio do cinema e as cadeiras com cheiro de pipoca e gordura. Vou ao cinema porque hoje já não é sábado, porque quero ver algo que me tire de um espaço, às vezes pequeno demais, e que me permita viver outra vida, outras vidas. Uma multiplicidade de sensações. A sala escura é sempre um convite ao mergulho.
E agora, o que quero ver? Posso escolher entre o entretenimento puro ou o prazer mais denso de um filme “de arte”. Um prazer reflexivo (é possível?). Se a minha opção foi a primeira, corro, normalmente, para o cinema americano típico. Um cinema que não se esquece nunca de que, antes de tudo, é pura diversão. Quero sentir e não pensar, ouvir todos os telemóveis que tocam insistentemente a minha volta, ver aquela menina com cara de quem saiu com a roupa de domingo, o outro que não está interessado no filme, mas em quem está ao alcance de suas mãos, aqueles que não param de falar absurdos, o que faz você pensar que deveria existir um medidor de QI a entrada do cinema.(Alguém que não entende Piratas das Caraíbas 3, só pode sair de casa acompanhada de enfermeiros e com a medicação em dia. Tarja preta é claro).
Há quem fale contra o cinema-diversão, aquele tipo sessão da tarde, para ver e esquecer. Rir, chorar, gritar de susto ou prazer e, ao sair da sala, não levar nada consigo. Como bem disse um personagem de Fassbinder: as pessoas infelizes acham as pessoas felizes vulgares. O prazer instantâneo é negado, mas dele não devemos abrir mão.
Há o outro cinema, aquele que é considerado arte e que passa correndo pelas salas locais. Certa vez estava vendo um filme de Bergman. Lá pelo meio da sessão uma moça perguntou a outra: Você está entendendo alguma coisa? A outra respondeu: não. Mas isto é um filme de arte, não é para entender. Profunda definição. Podemos até não entender, mas não podemos deixar de sentir. Sentir um prazer profundo de partilharmos um segredo. Eu rio das piadas que aquele sentado ao meu lado passa meia hora para perceber. O prazer de reconhecer traços, marcas, estilos. O prazer de me sentir renovada, movimentada, respeitada enquanto um ser pensante.
Hoje é domingo. Preferia que fosse uma terça-feira chuvosa, um cinema vazio, sem cheiro, com uma história para contar. Hoje é domingo, não chove, vou ao Shopping. Mesmo assim, o repetido prazer de me entregar à escuridão acolhedora e sensual da sala de cinema faz com que eu dê uma última olhada no espelho e corra para não perder a última sessão.
São quase 8h. Olho no espelho mais uma vez e vejo se a roupa está coerente com a ocasião. Confortável, esperando o frio do cinema e as cadeiras com cheiro de pipoca e gordura. Vou ao cinema porque hoje já não é sábado, porque quero ver algo que me tire de um espaço, às vezes pequeno demais, e que me permita viver outra vida, outras vidas. Uma multiplicidade de sensações. A sala escura é sempre um convite ao mergulho.
E agora, o que quero ver? Posso escolher entre o entretenimento puro ou o prazer mais denso de um filme “de arte”. Um prazer reflexivo (é possível?). Se a minha opção foi a primeira, corro, normalmente, para o cinema americano típico. Um cinema que não se esquece nunca de que, antes de tudo, é pura diversão. Quero sentir e não pensar, ouvir todos os telemóveis que tocam insistentemente a minha volta, ver aquela menina com cara de quem saiu com a roupa de domingo, o outro que não está interessado no filme, mas em quem está ao alcance de suas mãos, aqueles que não param de falar absurdos, o que faz você pensar que deveria existir um medidor de QI a entrada do cinema.(Alguém que não entende Piratas das Caraíbas 3, só pode sair de casa acompanhada de enfermeiros e com a medicação em dia. Tarja preta é claro).
Há quem fale contra o cinema-diversão, aquele tipo sessão da tarde, para ver e esquecer. Rir, chorar, gritar de susto ou prazer e, ao sair da sala, não levar nada consigo. Como bem disse um personagem de Fassbinder: as pessoas infelizes acham as pessoas felizes vulgares. O prazer instantâneo é negado, mas dele não devemos abrir mão.
Há o outro cinema, aquele que é considerado arte e que passa correndo pelas salas locais. Certa vez estava vendo um filme de Bergman. Lá pelo meio da sessão uma moça perguntou a outra: Você está entendendo alguma coisa? A outra respondeu: não. Mas isto é um filme de arte, não é para entender. Profunda definição. Podemos até não entender, mas não podemos deixar de sentir. Sentir um prazer profundo de partilharmos um segredo. Eu rio das piadas que aquele sentado ao meu lado passa meia hora para perceber. O prazer de reconhecer traços, marcas, estilos. O prazer de me sentir renovada, movimentada, respeitada enquanto um ser pensante.
Hoje é domingo. Preferia que fosse uma terça-feira chuvosa, um cinema vazio, sem cheiro, com uma história para contar. Hoje é domingo, não chove, vou ao Shopping. Mesmo assim, o repetido prazer de me entregar à escuridão acolhedora e sensual da sala de cinema faz com que eu dê uma última olhada no espelho e corra para não perder a última sessão.
7 comentários:
Recomendo vivamente o visionamento do filme "Sullivan's Travels" de Preston Sturges! Diz tudo sobre o cinema arte e entretenimento :)
Este sim, é um grande texto. Pura emoção, inteligência emocional e de uma coragem pura e genuína. Obrigada pela(s)lição(ões). :)
Sturges, como tantos outros clássicos, aliaram como poucos, diversão e arte. e subtextos e entrelinhas... mas temo sempre que quando se fala de entretenimento, pense-se que se está a falar mal. Sou daquelas que adora cinema tout court! Que vai ao cinema ver bons e maus filmes, porque sempre se aprende. E cinema só se aprende de verdade mesmo, vendo.
Obrigada, anonimo (a). sou hedonista, confesso. Depois de anos de teorizações e reflexões puras e duras, creio que também tenho o direito (que nunca me neguei) do prazer e ponto. Há um texto genial da Pauline Kael onde ela diz que o problema dos intelectuais com o "lixo" (o cinema industrial de uma maneira geral) é que ao invés de desfrutá-lo com prazer pelo o que eles são e oferecem, querem elevá-lo a categoria de arte, pois jamais admitiriam sentir prazer com algo "menor". Mas não me furto ao outro przer, o que me provoca e instiga. Que venham os dois!
Caros Senhores,
estou a desenvolver um trabalho sobre os antigos cine-teatros e cine-esplanadas na região do Algarve. Possuo pouquíssimos elementos sobre esta situação em Faro.
Caso exista possibilidade ficaria extremamente grato se me pudessem orientar com sugestões para obter historial e fotografias.
Cordialmente, André Neves Bento
Miriam:
Como tu também costumo ir ver quase tudo o que sai ao cinema, e apoio-me no Kubrick que também o fez quando vivia em NY e era ainda apenas um fotógrafo e disse mais tarde que mesmo um filme mau tem sempre alguma coisa de interessante e que ficou com mais vontade de fazer filmes ao ver os filmes mais que os bons :)
Continua a escrever!
mirian, sim, que venham os 2. :-)
caro andré neves bento, antes de mais bem vindo.
por favor contacte-nos via email.
está ali na barra lateral mas eu digo desde já:
ccf@cineclubefaro.com
obrigada.
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