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Cinatrium, 21h30
FEVEREIRO
Dia 4
TROPA DE ELITE, José Padilha, Brasil, 2007, 117’, M/16
Baseado na experiência de 19 anos de Pimentel como oficial da polícia militar e capitão da Batalhão de Operações Policiais (BOPE). Tropa de Elite foi o filme mais visto no Brasil em 2007 e vencedor do Urso de Ouro no Festival Internacional de Berlim em 2008. Apesar do fantasma dos esquadrões da morte, José Padilha não demoniza o BOPE pelas suas tácticas. Num estilo pseudo-documental, ele aponta o dedo à má formação profissional dada no passado à força policial, expondo, no processo, a apatia de uns e a hipocrisia de uma classe alta que simultaneamente consome a droga vinda da favela e se insurge contra as injustiças sociais. Gostava de acreditar que o Brasil não está preso a este círculo de combate da violência com uma violência ainda maior. As consequências só podem ser devastadoras. Para todos.
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Dia 11
EU QUERO VER, Joana Hadjithomas e Khalil Joreige, Líbano / França, 2008, 75’, M/6
A ideia aqui é surrealista: fazer algo como um documentário com a estrela francesa Catherine Deneuve e com o reconhecido actor/artista libanês Rabih Mroué, numa viagem desde Beirute até às ruínas do Sul do Líbano causadas pela investida israelita em 2006. O casal de realizadores Hadjithomas e Joreige, que já demonstraram as suas capacidades criativas com a ficção libanesa A Perfect Day de 2005, conseguiram
fazê-lo. E de forma brilhante. Estes co-realizadores politicamente activos desbravaram novo território na discussão da fusão documentário/ficção.
Howard Feinstein, Screen Daily
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Dia 19, 5ª FEIRA
CAOS CALMO, Antonello Grimaldi, GB/Itália, 2008, 107’, M/16
Não é exactamente um filme de Nanni Moretti, apesar da sua presença no papel principal e da sua co-autoria no argumento, mas podia ser, porque é impossível não ver nele o Moretti que nos habituámos a ver em filmes anteriores. Porque, enfim, "Caos Calmo" é uma variação sobre o sublime "O Quarto do Filho" que se podia chamar "O Banco do Pai". Um melodrama elegante em tom levemente efabulatório, transportado pela interpretação soberba de um Moretti que revela ser actor de muitos mais recursos do que os seus próprios filmes muitas vezes lhe pedem.
Jorge Mourinha, Público
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Dia 25
O SILÊNCIO DE LORNA, Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne, Alemanha/Bélgica/França/Itália, 2008105’, M/12
Os irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, que já foram os vencedores do Festival de Cannes em duas ocasiões, com "Rosetta" (1999) e "A Criança" (2005), ganharam o prémio de melhor argumento, este ano, no mesmo festival, com "O silêncio de Lorna". Os realizadores apostam muitas vezes num cinema quase neo-realista, retratando, desta feita, as migrações e as redes criminosas criadas a seu redor. "O silêncio de Lorna" traça o retrato de uma jovem mulher que tem os sonhos delapidados pela culpa e que se agarra a uma esperança longínqua. Simples, directo e muito humano é certo que "O Silêncio de Lorna" não deixará nenhum espectador indiferente.
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MARÇO
DIA 4
A ONDA, Dennis Gansel, Alemanha, 2008, 101’, M/16
O fascismo e a contribuição de comportamentos individuais para o desastre colectivo são temas que o realizador Dennis Gansel já tinha abordado em ‘A Queda’ (2004). Em ‘A Onda’ (2008) também parte de acontecimentos reais. Num liceu em Palo Alto (Califórnia), nos anos 60, um professor, em vez de teorizar sobre a ditadura, criou na turma um microcosmos totalitário. Começou por construir um forte espírito de disciplina e grupo. Ao fim de poucos dias, já estava assustado com os resultados, que extravasavam o ‘laboratório’.
Joana Amaral Dias, correiodamanha.pt
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DIA 11
QUATRO NOITES COM ANNA, Jerzy Skolimowski, França/Polónia, 2008, 87’, M/12
Um dia, ele desapareceu. Jerzy Skolimowski entrou no silêncio. E aí ficou durante 17 anos. Poeta desconcertante, cineasta desconcertado, deixou a
Polónia e assim perdeu o seu país natal, apagado pelas últimas convulsões do comunismo. Skolimowski entrega hoje QUATRO NOITES COM ANNA, um filme excepcional, soberbo, sobre a ilusão, o amor, o olhar, a loucura. Cada imagem, cada movimento de câmara, cada resposta é a expressão de uma
urgência, de uma necessidade, de uma mestria absolutas.
François Forestier, Le Nouvel Observateur
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DIA 18
VALSA COM BASHIR, Ari Folman, Israel/ Alemanha/ França, 2008, 90’, M/16
Mal vão os filmes de imagem real quando é o cinema de animação que pega de frente temas que aquele não quer, já não sabe ou evita olhar olhos nos olhos. A Valsa com Bashir, do israelita Ari Folman, que fez sensação este ano no Festival de Cannes, é uma longa-metragem de animação mais “adulta”, “séria” e política do que muitos filmes de imagem real que por aí andam a querer mostrar serviço de preocupação com a realidade. Nos seus 90 minutos canónicos, A Valsa com Bashir consegue ser o veículo autobiográfico de um difícil processo de terapia, a denúncia política das arbitrariedades cometidas pelo Estado de Israel através da sua política belicista, e uma demonstração de que a animação não serve apenas para inventar bonecos simpáticos ou antropomorfizar bicharada digitalmente.
Sérgio Abranches, Timeout
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DIA 25
VENENO CURA, Raquel Freire, Portugal, 2007, M/16, presença da realizadora
Três histórias de mulheres, presas em relações amorosas e em situações familiares extremas. À beirado inferno ou da redenção. A estrutura é fragmentária. Raquel Freire não conseguiu os laços unificadores para cerzir as histórias-limite de três mulheres a quem o corpo, a líbido e a vida conduziram a vertigens e a abismos. E, porque quis tocar as cordas últimas onde se enforcam os desesperos, não há que esperar uma fácil digestão para algo que, evidentemente, tem mais riscos que arrimos. Por isso, "Veneno Cura" não é um filme equilibrado - mas é um filme com verdade dentro. Quer dizer: eu acredito naquela gente (que actrizes, meu Deus!), acredito e comovo-me, mesmo quando vejo ritualizações de deboche que me parecem periclitantes. Digamos que o sangue que corre nas veias desta fita é quente e contagiante. E é sobretudo isso que devemos pedir a um filme.
Jorge Leitão Ramos, Expresso
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