DIA 10 DE DEZEMBRO
REINO ANIMAL, David Michôd, Austrália, 2010, 113’, M/16
FICHA TÉCNICA
Título Original: Animal Kingdom!
Realização e Argumento: David Michod
Montagem: Luke Doolan
Fotografia: Adam Arkapaw
Música: Antony Partos
Interpretação: Joel Edgerton,
Ben Mendelsohn, Guy Pearce, Jackie Weaver
Origem: Austrália
Ano: 2010
Duração: 113’
SINOPSE
Que escolhas teria se crescesse numa família de criminosos? Reino Animal, vencedor do Festival de Sundance na categoria de Melhor
Filme do Mundo, responde a esta questão.
Josh é um rapaz de dezassete anos que é atirado para uma situação
complicada entre a sua família de criminosos e um detective de homicídios que
pensa poder salvá-lo. Baseado nos fatos reais do tiroteio de Walsh Street.
Nomeação para o Óscar de Melhor Atriz Secundária 2011 (Jacki Weaver)
PRÉMIOS
Vencedor do “SUNDANCE FILM FESTIVAL 2010”
CRITICA
Houve quem comparasse a estreia na longa-metragem do australiano David
Michôd com os primeiros Padrinhos de Coppola - não por estarem ao mesmo nível,
mas por olharem para o crime pelo prisma da família (ou será para a família
pelo prisma do crime?). O “reino animal” do título é a selva vale-tudo da
família criminosa que se dilacera cruelmente a si própria: no caso, o clã Cody
de Melbourne (inspirado numa família que teve existência real), liderado por
uma matriarca particularmente manipuladora (Jacki Weaver, nomeada para o Óscar
de melhor secundária) e por um filho mais velho que não anda a tomar a
medicação (Ben Mendelsohn, perfeito de inquietação).
No meio do jogo de tensões, cai Josh, o neto adolescente que cresceu
afastado da família (James Frecheville, espantoso de contenção) e que começa
rapidamente a perceber porque é que a mãe recém-falecida fez questão de o criar
longe do ninho - mas que não consegue evitar ser arrastado para o turbilhão. É
aí que reside, aliás, o sucesso desta estreia: o que parece começar como um
jogo tenso do gato e do rato transmuta-se lentamente numa fortíssima tragédia
familiar, mesmo que Michôd ainda deixe o andaime à mostra em excesso e não
resista a sublinhar a traço grosso o que não precisa de o ser. O que não deixa
dúvidas é a excelência do elenco e das interpretações, e a segurança com que
Michôd leva a água ao seu moinho, invulgar para uma primeira longa. "Reino
Animal" chega às salas portugueses com três anos de atraso (completado em
2009, viu estreia mundial em 2010). Se nunca é tarde para descobrir um bom
filme em sala, é legítimo perguntar que distribuidores temos que não hesitam em
despejar semanalmente obras menores ou dispensáveis apenas para cumprir
calendário, enquanto levam três anos para lançar confidencialmente um bom
filme...
Jorge Mourinha, Ípsilon
É uma
revelação que chega das longínquas terras australianas: David Michôd
(realizador e argumentista) consegue, com "Reino Animal", uma fusão
exemplar de drama policial e crónica familiar.
Que
sabemos do cinema australiano? Muito pouco, na verdade... Ou melhor, os filmes
que vão estreando não chegam para conhecer a sua variedade criativa e, por
vezes, somos dominados pelo lugar-comum segundo o qual a Austrália é apenas um
país onde os americanos vão buscar as suas estrelas (Nicole Kidman, hélas!) ou rodar alguns
dos seus filmes...
Daí a
importância da estreia de "Animal Kingdom" — entre nós, felizmente, com a tradução justa:
"Reino Animal" —, além do mais um objecto pleno de emoções e
subtileza narrativa que nos revela o talento de David Michôd, argumentista e
realizador.
Michôd tomou
como ponto de partida a história verídica de uma família, de Melbourne, que na
década de 1980 protagonizou uma série de assaltos violentos. Quer isto dizer
que estamos no interior de uma matriz mais ou menos policial. Em todo o caso, o
que conta é menos a "acção" (no sentido banal do termo) e mais a
tensão interior do próprio espaço familiar.
E há um efeito
bizarro e perturbante que confere a "Reino Animal" uma certa
respiração de western mais ou menos
contemporâneo: por um lado, tudo acontece num território dominado por uma
violência masculina e machista; por outro lado, a organização desse território
tem no contundente poder da figura da mãe, interpretada pela notável Jacki
Weaver (nomeada para o Oscar de melhor actriz secundária), uma decisiva força
simbólica.
Aliás, importa
sublinhar que, sem esquecer o rigor da mise en scène, este é um
cinema intensamente enraizado no traabalho específico dos actores. Para além de
Weaver, o elenco inclui o nosso bem conhecido Guy Pearce ("Memento"),
o hiper-versátil Ben Mendelsohn (vimo-lo, recentemente, em "Como um
Trovão") e ainda o jovem James Frecheville (um dos protagonistas de
"Paixões Proibidas"). Tudo razões de peso para dizermos que há, de
facto, um genuíno cinema made in Australia.
João Lopes, rtp.pt//cinemax/