MOVIMENTOS PERPÉTUOS - CINE-TRIBUTO A CARLOS PAREDES - 4ªF - 21H30 - SEDE - ENTRADA LIVRE
Documentário em 17 movimentos, em que os testemunhos e a guitarra definem o génio, a bravura e a modéstia de Carlos Paredes, Movimentos Perpétuos – estabelece um diálogo entre uma guitarra e uma câmara de Super8, numa estética que evoca a memória dos velhos filmes de família, plena de intimidade, revelada na partilha de pequenas histórias da vida. O concerto de Carlos Paredes no Auditório Carlos Alberto, no Porto, em 1984, é o ponto de partida para o desenrolar de histórias de prisão, resistência, sucessos e amadorismo, relatos marcados pela simplicidade e pela paixão.
PRÉMIOS
IndieLisboa, Portugal (2006) – Melhor Longa-metragem Portuguesa, Melhor Fotografia para Longa-metragem Portuguesa e Prémio do Público
Famafest, Portugal (2006) – Grande Prémio da Juventude
NOTA DE INTENÇÕES
A primeira imagem: um daqueles prodigiosos polvos dos desenhos animados a executar uma música apenas possível de ser tocada com múltiplos tentáculos. A primeira vez. Foi na primeira Festa do Avante. Lamento, mas essas memórias foram soterradas por outras mais extravagantes.
Só me recordo dos contrastes flagrantes: uma concentração inédita de hippies e a intempestiva actuação dos Area, aos quais fui mais tarde buscar o LP Arbeit Macht Frei para o título e ponto de partida do filme O Trabalho Liberta?.
Mais tarde, vi-o tantas vezes em tantas festas, comícios e sessões de esclarecimento que, quando chegaram os anos 80, já era o fastio. Inflação total: aproveitamento constante das músicas de Paredes. Propaganda política e a utilização até à exaustão de trechos seus nas bandas-sonoras de documentários e ficções dos pobrezinhos. Sobrava o respeito pelo talento desmedido. Mas nunca, jamais em tempo algum, faria um filme com música do gigante.
Flashforward.
Um século passa. Convidaram-me para participar nos Movimentos Perpétuos de homenagem a Carlos Paredes. A minha relutância não estava vencida e recusei-me a utilizar a música do «nosso guitarrista». Usei uma maquete dos Dead Combo como banda-sonora de Guitarra (Com Gente Lá Dentro).
O filme, inspirado no western-fado, consistia num tributo autónomo. A voz do guitarrista Charlie Walls (Paredes, antes do concerto com Charlie Haden assim se apelidou) serviu de narrador de outros tempos. Abria e fechava com uma cine-moldura de imagens de Paredes (que registei nos idos 90), nos bastidores de um espectáculo dos Madredeus no qual ele era convidado.
Edgar Pêra
Apaixonado e lírico documentário dividido em 17 partes que enquadram a vida e obra de Carlos Paredes. Esta divisão empresta clareza na aproximação do filme ao tema. Mas Edgar Pêra mantém-se também fiel à sua estética de manipulação da imagem e do som. Uma pesquisa formal que pode ser resumida neste axioma: mexer na matéria audiovisual como coisa concreta e abstracta à qual pode ser dada expressividade. Não é um processo racional ou até racionalizável, nem na obra de Brakhage nem na do cineasta português. O cinema de Pêra não tem a limpidez e a nudez da música de Paredes, mas ambas têm essa intuição artística. E «Movimentos Perpétuos» contém momentos da mais pura simbiose (e do mais fértil diálogo) entre a fluência das notas tocadas pelo músico e o movimento das imagens criadas pelo realizador.
Sérgio Dias Branco
O concerto que o guitarrista deu no Auditório Carlos Alberto, no Porto, em 1984 – onde antecedia cada interpretação com longas explicações sobre o seu método de trabalho – é o ponto de partida para o desenrolar de histórias de prisão, resistência, sucessos e amadorismo, todas elas relatos marcados pela simplicidade e pela paixão.Imagens, sons de arquivo e depoimentos (de Rui Vieira Nery, José Jorge Letria, Paulo Rocha, Malangatana e José Carlos Vasconcelos), contextualizam a importância do músico, não se sobrepondo nunca à própria voz de Paredes. Obviamente que falando-se de Edgar Pêra, tudo isto aparece fragmentado, estilhaçado, multiplicado e reinventado a seu bel-prazer.Como quase sempre faz, o cineasta constrói um “mundo paralelo”, onde o passado e o presente se confundem, como se a portugalidade indefinível que constitui a essência da música de Paredes continuasse presente e não nos tivesse abandonado.Sobre este filme-tributo, confessa-se surpreendido pelas afinidades que encontrou com o músico. “Sinto-me pouco à vontade com ícones como o Carlos Paredes. Não por não gostar do trabalho deles – exactamente por gostar e achar que é uma armadilha prestar homenagens. Mas há ali muitas frases que subscrevo… Ele e os que falam dele levantam questões que afectam qualquer pessoa que tenha um percurso independente em Portugal – que conduz na maior parte das vezes a uma marginalização”, explicou numa entrevista concedida ao ‘Público’. Para além de uma tocante homenagem ao músico, e à pessoa que se escondia por detrás dele, este é também o filme mais bem conseguido e acessível de Edgar Pêra. De resto, o cineasta reconheceu, na mesma entrevista, que a linguagem que habitualmente usa lhe tem tolhido os movimentos. “A realidade é que para fazer ficção em Portugal é complicadíssimo convencer um produtor a investir num filme. As pessoas não me dão dinheiro porque devem ter medo que eu faça uma coisa esquisita. Ora, quando cheguei a 2001 e vi ‘A Janela’, ‘O Homem-Teatro’ [documentário sobre o encenador e actor António Pedro] e ‘Oito, Oito’ a estrear, tudo no mesmo ano, apercebi-me de que podia lidar com matéria ficcional linear com destreza”, diz, acrescentando “mas tenho esbarrado naquela coisa chamada júris…”.Neste momento, está a ultimar “Rio Turvo”, adaptação de um conto de Aquilino Ribeiro, filmado em regime de produção independente, sem subsídio.
(daqui)
Documentário em 17 movimentos, em que os testemunhos e a guitarra definem o génio, a bravura e a modéstia de Carlos Paredes, Movimentos Perpétuos – estabelece um diálogo entre uma guitarra e uma câmara de Super8, numa estética que evoca a memória dos velhos filmes de família, plena de intimidade, revelada na partilha de pequenas histórias da vida. O concerto de Carlos Paredes no Auditório Carlos Alberto, no Porto, em 1984, é o ponto de partida para o desenrolar de histórias de prisão, resistência, sucessos e amadorismo, relatos marcados pela simplicidade e pela paixão.
PRÉMIOS
IndieLisboa, Portugal (2006) – Melhor Longa-metragem Portuguesa, Melhor Fotografia para Longa-metragem Portuguesa e Prémio do Público
Famafest, Portugal (2006) – Grande Prémio da Juventude
NOTA DE INTENÇÕES
A primeira imagem: um daqueles prodigiosos polvos dos desenhos animados a executar uma música apenas possível de ser tocada com múltiplos tentáculos. A primeira vez. Foi na primeira Festa do Avante. Lamento, mas essas memórias foram soterradas por outras mais extravagantes.
Só me recordo dos contrastes flagrantes: uma concentração inédita de hippies e a intempestiva actuação dos Area, aos quais fui mais tarde buscar o LP Arbeit Macht Frei para o título e ponto de partida do filme O Trabalho Liberta?.
Mais tarde, vi-o tantas vezes em tantas festas, comícios e sessões de esclarecimento que, quando chegaram os anos 80, já era o fastio. Inflação total: aproveitamento constante das músicas de Paredes. Propaganda política e a utilização até à exaustão de trechos seus nas bandas-sonoras de documentários e ficções dos pobrezinhos. Sobrava o respeito pelo talento desmedido. Mas nunca, jamais em tempo algum, faria um filme com música do gigante.
Flashforward.
Um século passa. Convidaram-me para participar nos Movimentos Perpétuos de homenagem a Carlos Paredes. A minha relutância não estava vencida e recusei-me a utilizar a música do «nosso guitarrista». Usei uma maquete dos Dead Combo como banda-sonora de Guitarra (Com Gente Lá Dentro).
O filme, inspirado no western-fado, consistia num tributo autónomo. A voz do guitarrista Charlie Walls (Paredes, antes do concerto com Charlie Haden assim se apelidou) serviu de narrador de outros tempos. Abria e fechava com uma cine-moldura de imagens de Paredes (que registei nos idos 90), nos bastidores de um espectáculo dos Madredeus no qual ele era convidado.
Edgar Pêra
Apaixonado e lírico documentário dividido em 17 partes que enquadram a vida e obra de Carlos Paredes. Esta divisão empresta clareza na aproximação do filme ao tema. Mas Edgar Pêra mantém-se também fiel à sua estética de manipulação da imagem e do som. Uma pesquisa formal que pode ser resumida neste axioma: mexer na matéria audiovisual como coisa concreta e abstracta à qual pode ser dada expressividade. Não é um processo racional ou até racionalizável, nem na obra de Brakhage nem na do cineasta português. O cinema de Pêra não tem a limpidez e a nudez da música de Paredes, mas ambas têm essa intuição artística. E «Movimentos Perpétuos» contém momentos da mais pura simbiose (e do mais fértil diálogo) entre a fluência das notas tocadas pelo músico e o movimento das imagens criadas pelo realizador.
Sérgio Dias Branco
O concerto que o guitarrista deu no Auditório Carlos Alberto, no Porto, em 1984 – onde antecedia cada interpretação com longas explicações sobre o seu método de trabalho – é o ponto de partida para o desenrolar de histórias de prisão, resistência, sucessos e amadorismo, todas elas relatos marcados pela simplicidade e pela paixão.Imagens, sons de arquivo e depoimentos (de Rui Vieira Nery, José Jorge Letria, Paulo Rocha, Malangatana e José Carlos Vasconcelos), contextualizam a importância do músico, não se sobrepondo nunca à própria voz de Paredes. Obviamente que falando-se de Edgar Pêra, tudo isto aparece fragmentado, estilhaçado, multiplicado e reinventado a seu bel-prazer.Como quase sempre faz, o cineasta constrói um “mundo paralelo”, onde o passado e o presente se confundem, como se a portugalidade indefinível que constitui a essência da música de Paredes continuasse presente e não nos tivesse abandonado.Sobre este filme-tributo, confessa-se surpreendido pelas afinidades que encontrou com o músico. “Sinto-me pouco à vontade com ícones como o Carlos Paredes. Não por não gostar do trabalho deles – exactamente por gostar e achar que é uma armadilha prestar homenagens. Mas há ali muitas frases que subscrevo… Ele e os que falam dele levantam questões que afectam qualquer pessoa que tenha um percurso independente em Portugal – que conduz na maior parte das vezes a uma marginalização”, explicou numa entrevista concedida ao ‘Público’. Para além de uma tocante homenagem ao músico, e à pessoa que se escondia por detrás dele, este é também o filme mais bem conseguido e acessível de Edgar Pêra. De resto, o cineasta reconheceu, na mesma entrevista, que a linguagem que habitualmente usa lhe tem tolhido os movimentos. “A realidade é que para fazer ficção em Portugal é complicadíssimo convencer um produtor a investir num filme. As pessoas não me dão dinheiro porque devem ter medo que eu faça uma coisa esquisita. Ora, quando cheguei a 2001 e vi ‘A Janela’, ‘O Homem-Teatro’ [documentário sobre o encenador e actor António Pedro] e ‘Oito, Oito’ a estrear, tudo no mesmo ano, apercebi-me de que podia lidar com matéria ficcional linear com destreza”, diz, acrescentando “mas tenho esbarrado naquela coisa chamada júris…”.Neste momento, está a ultimar “Rio Turvo”, adaptação de um conto de Aquilino Ribeiro, filmado em regime de produção independente, sem subsídio.
(daqui)
Realização: Edgar Pêra
Argumento: Edgar Pêra
Produtor: João Pinto Sousa
Elenco:
Edgar Pêra
Carlos Paredes
Luísa Amaro
Fernando Alvim
Origem: Portugal
Ano: 2006
Duração: 70’