100 melhores filmes de sempre
http://throughablogdarkly.blogspot.com/2007/06/films-that-afi-forgot-twice.html
The ladies man
Quando os franceses, mais precisamente Truffaut, lançam a famosa "política do autor", onde tentam separar o joio do trigo no que dizia respeito ao cinema clássico, deixaram escapar este grande realizador, que para mim fica muito bem ao lado de outros nomes, tão mais reconhecidos, como Billy Wilder ou John Ford. Talvez por só ter feito comédias, um género menos respeitado, em certo sentido, Lewis nunca foi considerado um génio pela grande maioria da crítica. Seu filme de 1961, The Ladies Man, é talvez a obra surrealista mais bem realizada fora do âmbito do movimento. Aliás os surrealistas, que adoravam o cinema e viam nele uma arma eficaz para revolucionar a arte, não realizaram muita coisa. Mesmo Buñuel, que permaneceu surrealista toda a vida, saiu do clube do Breton ainda na altura dos seus primeiros filmes. Dalí acreditava que o que tornava um filme surrealista era o tipo de visionamento - todo e qualquer filme que fosse visto seguindo os preceitos do seu método, a paranóia crítica, converter-se-ia numa obra absolutamente surreal. E todos eles adoravam os cómicos dos anos 20. Animal Crackers, dos Irmãs Marx, era uma obra-prima! E, para mim, o filme de Lewis de que falo aqui, também o é. Um dos grandes problemas dos filmes que "tentaram" ser surrealistas foi o de "esquecerem" um dos princípios fundamentais do movimento: o maravilhoso não surge das sombras da noite, quando dormimos. Mas convive connosco à luz do dia. Não há separação entre o mundo do possível e o do impossível. O sonho frequenta a sala de jantar, não apenas o quarto de dormir. Quem não viu o filme, e gosta de cinema, tem obrigação de fazê-lo porque está tudo lá: desde o metacinema (a cena com George Raft é impagável!); passando pelas delícias do absurdo temperado com pitadas freudianas (um leão que vive numa casa só de mulheres, ideia actualizada por Almódovar em Entretinieblas, onde um tigre vivia num convento) até à convivência pacífica com a televisão, que começava a se tornar uma grande concorrente do cinema. Se não podia vencê-la, não a ignorava, trazia-a para dentro do filme e desmascarava os seus procedimentos. Ando a rever quase tudo dele que saiu em DVD e confesso que cada dia encontro mais motivos para elevá-lo ao meu patamar de realizadores de eleição.
Não esquecer!
Amanhã, em duas sessões, o CCF passa o filme de Regina Pessoa, História Trágica com Final Feliz (complementado por uma longa-metragem, Inland Empire, de David Lynch). Será às 18h e às 21h30. O filme tem sido muito premiado e, quanto a mim, cada um dos prémios que recebeu foi merecidíssimo. Não percam - é uma experiência que vale mesmo a pena, pela técnica utilizada na animação, pela história que se conta, pela beleza dos desenhos e pela voz magnífica da narradora (seja na versão portuguesa, a Manuela Azevedo dos Clã, seja na versão inglesa, a Elina Löwensohn, mítica actriz de Hal Hartley).
Listas de filmes
com a promessa de que vou escrever sobre
(mas mai' logo, tenho uma vigilância de exame - oh! estimulante tarefa! - à minha espera daqui a pouquinho)
nova musiquinha a tocar ao lado
E Deus criou a mulher...
Juliete Hardy: That's my favorite song!
Antoine Tardieu: It's the first time I ever heard it.
Juliete Hardy: Me too.
Momento cine-umbilical (ou uma das minhas experiências épico-hípicas)
"Western"
(para a Mirian)
Olha para a janela - o que faz um cavalo no meio do quarto de um palacete vazio?
George Stubbs desenhou cavalos. Autopsiava-os, ele e a mulher; depois pintava o desenho dos membros, da silhueta, do pêlo, dos olhos. Fixava os olhos.
O cinema começa no cavalo. Num momento do galope, as quatro patas soltam-se do chão. Eleva-se o cavalo, o corpo rijo e pesado. A imagem fixa o peso no ar.
Com o deserto por detrás, as montanhas de topos brancos, o desenho do dorso recorta outro movimento. O cavalo conduz a morte - aos homens de coldre, aos homens de rostos pintados - conduz à morte despejada na nuvem de pó, escangalhado na queda e na vertigem da nuvem. O olhar do cavalo não se move.
interrompendo o fluxo da escrita mais um nikito
rita hayworth e glenn ford em gilda, de charles vidor, 1946
(pus mais pequenino... :-((( fica tãooooo pequenino... snif....
Soundtracks - From Her to Eternity
(post a pedido)
No seguimento da "Nouvelle Vague", esta vem a propósito do texto da miriam lá em baixo e do desafio lançado pela marina, para além do filme e da música, brilhantes claro. pena que o video não inclua o fabuloso diálogo que se segue no bar do hotel entre o Bruno Ganz e a Solveig Dommartin...
ps-tb n sou dos maiores fãs d youtubes grandões e pesadões nos blogs, mas acho k fazem sentido neste caso, desde k n abusemos...
Put the blame on me
Gilda: I can never get a zipper to close. Maybe that stands for something, what do you think?
A Laura Mulvey que me perdoe, mas o que teria sido do cinema clássico sem as femme fatale? Outro dia estava a folhear uma espécie de guia de leitura do cinema, feito para se utilizar em escolas, e nele, de forma esquemática, aparecia um quadro que descrevia como a mulher era representada no cinema hollywoodiano: dona de casa, mãe ou femme fatale. Havia mais dois ou três rótulos, dos quais não me recordo. De qualquer forma, caíam todos na dicotómica fórmula: mulheres boas e mulheres más. É claro que o cinema clássico, demasiadas vezes, reproduziu ideias e valores que representavam o que havia de mais conservador na cultura. O que deu azo as leituras das Mulveys e companhia, que acusam este cinema de sexista. E o Hitchcock de tarado (o que não está longe da verdade! Mas que não o invalida como génio!!!). Hoje em dia questiono até que ponto houve um cinema clássico, no pior sentido do termo, quando penso em uns quantos realizadores e mesmo géneros, que pervertiam o sistema o tempo inteiro. E não falo apenas daqueles que a política do autor consagrou. Muitos mais, que eram considerados apenas realizadores competentes, cuja obra ainda necessita de uma revitalizadora exegese. O cinema noir, que funciona quase como um metagénero, instala, confortavelmente, a perversão e o mal no seio das boas famílias. Nas sombras, tudo é permitido. Are you the shadow? No, I'm lost. E das sombras surge Gilda. Um dos mais sensuais strip teases de toda a história é protagonizado pela Hayworth quando tira…uma luva. Diz-se que um das principais armas de sedução do cinema é a pulsão escópica que nos move a todos. A relação, na pulsão escópica, repousa na ausência do objecto percebido, daí o carácter imaginário do seu significante, que se torna uma miragem perceptiva. Apesar dos excessos cometidos, um dos grandes achados da teoria feminista do cinema foi a leitura da imagem da femme fatale a partir da tensão entre o fluxo narrativo e o close up e, consequentemente, o seu papel na erotização do rosto feminino. O rosto, destacado do fluxo narrativo, provoca stasis e cria uma retórica do não-movimento, uma pequena morte, um instante de prazer. Que justifica o impulso à escopofilia e reitera o ponto de vista marcadamente masculino deste tipo de cinema. A femme fatale revela e oculta. Seu rosto, despido no ecrã, ainda esconde segredos. Segredos que irão aguçar o desejo do desvelamento, imbricação de epistemofilia com escopofilia: desejo de conhecer e de ver, mas ao mesmo tempo reconhecer que o visível não está ao alcance da mão, mas está ou esteve ali. Porque é antes de mais nada fotografia em movimento, com carácter ontológico que nos relembra uma presença, agora ausente. O isso foi do Barthes. Na foto, como no filme, a presença fica impressa pela luz, no fotograma. E esta presença emana provocando o desejo. E é do desejo que falamos, quando falamos de mulheres como Gilda.
e eis senão quando uma sugestão dá um belo de um post!
sugestão do miguel na caixa de comentários a 'mais um tema em cineclubando':
acho fantástico o facto de a banda se chamar Nouvelle Vague e o filme utilizado ser um grande emblema do grande movimento cinematográfico (nouvelle vague)
o filme é 'bande à part', jean-luc godard, 1964. a música original é dos Lords of the New Church, interpretada pelos Nouvelle Vague no seu álbum Bande à part, 2006.
Do inefável ;-)
O ARCO-ÍRIS E A CATAPLASMA
Quantos maristas cabem numa passadeira?
Quatro ou cinco?
Quantas colcheias tem um tenório?
1.230.424.
Estas perguntas são fáceis.
Uma tecla é um piolho?
Vou constipar-me para os braços da minha amante?
Excomungará o Papa as embaraçadas?
Sabe um polícia cantar?
Os hipopótamos são felizes?
Os pederastas são marinheiros?
Estas perguntas - também são fáceis?
Dentro de instantes virão pela rua
duas salivas de mão
conduzindo um colégio de surdo-mudos,
Seria indelicado vomitar-lhes um piano
desde a minha janela?
mais um tema em 'cineclubando'
(é para ver se se sentem espicaçados e também nos enviam as vossas sugestões de músicas para cinema / usadas no cinema...)
O passeio de Buster Keaton ou a poesia e o cinema
El Paseo de Buster Keaton (Lorca, 1925)
(Sale Buster Keaton con sus cuatro hijos de la mano.)
BUSTER K. ¡Pobres hijitos míos!
(Saca un puñal de madera y los mata.)
GALLO. Quiquiriquí.
BUSTER K. (Contando los cuerpos en tierra.) Uno, dos, tres y cuatro.
(Coge una bicicleta y se va.
Entre las viejas llantas de goma y bidones de gasolina,
un negro come su sombrero de paja.)
BUSTER K. ¡Qué hermosa tarde!
(Un loro revolotea en el cielo neutro.)
(…)
BUSTER K. Es emocionante. (Pausa.)
(Buster Keaton cruza inefable los juncos y el campillo de centeno.
El paisaje se achica entre las ruedas de la máquina. La bicicleta
tiene una sola dimensión. Puede entrar en los libros y tenderse en
el horno de pan. La bicicleta de Buster Keaton no tiene el sillón de
caramelo, ni los pedales de azúcar, como quisieran los hombres
malos. Es una bicicleta como todas, pero la única empapada de
inocencia. Adán y Eva correrían asustados si vieran un vaso lleno
de agua, y acariciarían en cambio la bicicleta de Keaton.)
(…)
BUSTER K. (Levantándose.) No quiero decir nada. ¿Qué voy a decir?
UNA VOZ. Tonto.
BUSTER K. Bueno. (Sigue andando.)
(Sus ojos infinitos y tristes como los de una bestia recién nacida,
sueñan lirios, ángeles y cinturones de seda.
Sus ojos que son de culo de vaso. Sus ojos de niño tonto. Que son
feísimos. Que son bellísimos. Sus ojos de avestruz. Sus ojos humanos
en el equilibrio seguro de la melancolía.
A lo lejos se ve Filadelfia.
Los habitantes de esta urbe ya saben que el
viejo poema de la máquina Singer puede circular entre las grandes
rosas de los invernaderos, aunque no podrán comprender nunca
qué sutílisima diferencia poética existe entre una taza de té caliente
y otra taza de té frío.
A lo lejos, brilla Filadelfia.)
BUSTER K. Esto es un jardín.
(Una Americana con los ojos de celuloide viene por la hierba.)
AMERICANA. Buenas tardes.
(Buster Keaton sonríe y mira en gros plan los zapatos de la dama.
¡Oh qué zapatos! No debemos admitir esos zapatos. Se necesitan
las pieles de tres cocodrilos para hacerlos.)
(…)
BUSTER K. (Suspirando.) Quisiera ser un cisne. Pero no puedo aunque quisiera. Porque
¿dónde dejaría mi sombrero? ¿dónde mi cuello de pajaritas y mi corbata de moaré?
¡Qué desgracia!
(Una Joven, cintura de avispa y alto cucuné, viene montada en
bicicleta. Tiene cabeza de ruiseñor.)
JOVEN. ¿A quién tengo el honor de saludar?
BUSTER K. (Con una reverencia.) A Buster Keaton.
(La joven se desmaya y cae de la bicicleta. Sus piernas a listas
tiemblan en el césped como dos cebras agonizantes. Un gramófono
decía en mil espectáculos a la vez: «En América, no hay
ruiseñores».)
BUSTER K. (Arrodillándose.) Señorita Eleonora, ¡perdóneme que yo no he sido!
¡Señorita! (Bajo.) ¡Señorita! (Más bajo.) ¡Señorita! (La besa.)
(En el horizonte de Filadelfia luce la estrella rutilante de los
policías.)
Teorias
"Se muitas vezes falamos de poesia em termos tão abstractos é que, de ordinário, todos somos maus poetas. No fundo, o fenómeno estético é simples; so é poeta o homem que possui a faculdade de ver os seres espirituais que vivem e brincam em torno dele; só é dramaturgo o homem que sente o impulso irresistível de se transformar e de falar mediante outros corpos e outras almas."
Os Novíssimos Americanos
O Desporto Favorito dos Italianos
Interessante contudo analisar a forma como Moretti representa Berlusconi ao longo do filme, nma progressão inédita e surpreendente em termos de escolhas e decisões de como representar uma figura real e actual num filme de ficção: começa com um actor parecido com o original; a meio do segundo acto passa a ser apenas através de imagens de arquivo do próprio Berlusconi (e não volta a apresentar cenas com o actor); e por fim, é o próprio Moretti que o incarna, um volte-face de uma perversidade genial -- com o Moreti a incarnar o seu próprio diabo e a dar voz à sua liturgia "satânica"...
Cinema
Nani Moretti, 2007
Já tinha tentado ir ver este filme numa das minhas obrigatórias idas a Lisboa, mas agora que o tinha aqui à mão no cine-clube de Faro, era imperdível. Pareceu-me que Nani cineasta, quiz mostrar que é possível driblar e ultrapassar o sarrafeiro Berlusconi, cuja história de esperto milionário que chegou a PM se confunde com a actual realidade italiana. Contudo não leva Berlusconi ao tapete porque não desmonta, nem pelo diálogo nem por imagens, os artifícios subterrâneos do poder de compra e arregimentário dum esperto subitamente surgido milionário armado de poderosos meios mediáticos. Também se absteve de mexer no futebol que, lá como cá, é por onde começa o branqueamento do passado e a entrada, imaculada e intocável, em cena na novela de novos-ricos da alta roda.
Também a burlesca história familiar do produtor com os amores pessoais, a desfazerem-se com a mulher e levemente insinuados com a realizadora, contados por peripécias de conduta e atitudes lamechas (salva-se a irresistível invasão do palco quando a mulher cantava Bach no coro), que se pretende seja uma história paralela ao assunto berlusconiano para o reforçar, afinal contribuem para a fragilização da mensagem final do filme.
No fim, o filme que pretende demolir Berlusconi, ou melhor, os métodos berlusconianos de tomada de poder, não atinge de morte o seu objectivo porque utiliza formas e conteúdo semelhantes aos martelados diáriamente na cabeça do público pela televisão e que já se habituou a vê-los como entretenimento. O filme "A Vida é Bela", que a partir de uma história de amor familiar paternal nos convida a repugnar o horror da guerra, acaba por ser mais eficaz politicamente que este Caimão que, no final ainda nos deixa a dúvida, sob ameaça, da legitimidade entre o direito e o eleito.
José Neves
(recebida por mail a proposta de que disponibilizássemos aqui este texto de um nosso sócio publicado no seu blog pessoal. com todo o prazer!)
ideias de génio
mas também auditivas. no caso, musicais.
após uma cena de divórcio no notário - divórcio amigável, mas divórcio -, enquanto os protagonistas conduzem cada um o seu carro de regresso cada qual a sua casa, numa espécie de campo-contracampo em movimento, linhas paralelas e cruzadas, um ultrapassando o outro e se colocando ao lado dele, e vice-versa, sorrisos cúmplices pela brincadeira, 'I can't take my eyes of you': 'the blower's daughter' de damien rice como fundo musical.
a dor a estalar no peito do espectador. só podia.
génio moretti.
.
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(é n'O Caimão. a propósito, a Atalanta já pediu muita desculpa pelo não-envio de História Trágica com Final Feliz, que ficou então programado para dia 17, juntamente com o Lynch.)
Pontes
the bridge
Directed by | Eric Steel |
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Produced by | Eric Steel |
Release date(s) | October 27, 2006 |
Running time | 93 min. |
Saio de casa embrenhada na azáfama mental já recorrente, depois de um jantar em amena cavaqueira.
O que nos espera na Sala Polivalente da Fundação Calouste Gulbenkian é um documentário sobre suicídios na Golden Gate. Uma ponte que tem tanto de magnânimo e austero como de tétrico, desprovida de margem alguma.
Algures, uma mente inquieta e devastada com o mito, decide acompanhar a par e passo a mais ínfima sombra deste local, não sei se de libertação, se de turismo trágico.
Imagens fugidias que passeiam na ponte, em busca de romantismo, simples acto de celebração da vida, ou corpos que têm vindo a planear racionalmente e maquinalmente a conexão entre a vida e o absurdo, onde só o suicídio tem sentido.
Do lado de quem fica, encontra-se reconforto na dor pela dor, ou tão simplesmente se captam movimentos de desespero e determinação como se de uma névoa se tratasse e ansiasse pela clarividência que este acto irreal tem. Afinal não passa de um simples salto letal que surpreende a objectiva da máquina fotográfica.
Dos que saltam, apenas conhecemos a morbidez dos dias cansados... para quem o sofrimento(vida) é atroz e para quem a perspectiva do nada os empurra para a inapelável vertigem do abismo...
Sandra Mendo, 30 de Maio de 2007,
Lisboa
esclarecimentos :)))))
Artur, em caixa de comentário ali abaixo.
Por partes:
1. para o caso de não ter ficado claro, eu estive ali a inventar uma série de frases sem sentido nenhum. o meu propósito era gozar com a ideia de que 'isto tem de subir de nível' e poder rematar com o que me interessava enfatizar: que ela é boa como o milho.
2. donde, artur, sim, quantas vezes, olhamos para a teoria mais complexa e ficamos atrofiados e incapazes de acção (sem ser a de dizer 'olha que gaja mais boa / olha que até o comia todo'. essa, espera-se, manteremos sempre).
3. com a tua observação voltamos ao post da marina e respectivos comentários... até que ponto é a teoria necessária ou mesmo útil para usufruir um filme? responderei de uma maneira apressada: provavelmente, não é. mas para usufruir o cinema, é, sim.
4. depois, há teorias e teorias. umas insuportavelmente herméticas e que se deleitam em sê-lo (caso do deleuze) e outras tão claras, cristalinas e transparentes que o cinema passa a sê-lo ainda mais (sei lá, bazin).
5. por último, a mim que não ocorre, nunca ocorreu ou ocorrerá fazer cinema, é absolutamente adorável a teoria mais teórica, obscura, pura e dura (mesmo deleuze, mesmo que eu discorde dele, até talvez por isso mesmo). nado nela como o tio patinhas na piscina das moedas (quero eu dizer, o meu prazer em nadar nela é semelhante ao do tio patinhas etc). e tal nunca afectou minimamente o prazer que retiro em ver um filme, seja de entretenimento hollywoodiano seja do mais instransigente bergman. mas aceito que, para um aluno de uma escola de cinema que leve a teoria demasiado a sério, ela possa ser castrante ou pelo menos desorientante (sei que não existe a palavra, foi só para rimar :D ...
pelo que, como em tudo, imagino que seja uma questão de bom senso. e bom gosto. para ambos os lados.
bora lá aos contraditórios! :-)
Tive a oportunidade, e o prazer, de acompanhar (e contribuir) em momentos da construção deste trabalho.
Pode pensar-se o processo SAAL como uma reflexão 3D (a quente) sobre o sentido e forma da democracia.
Um lugar de experiência pouco hermético ou asséptico onde as partes envolvidas inverteram os papéis, trocaram, misturaram e voltaram a dar as cartas no jogo de fazer cidade.
É bonito e precioso o olhar que se oferece neste documentário, porque vive daquela alegria e vontade de rir que sai das confusões das ideias e dos contadores de ideias que se jogam, livremente – cara a cara na montagem do filme – sem possibilidade de consenso quanto a razões, motivações, crenças ou princípios.
O trabalho do João Pedro Dias tem a virtude de viver de uma grande curiosidade, passeou-se pelos“locais do crime” para devolver à realidade dos dias deste novo século, ainda, outra vez, a inquietude das incertezas.
Depois do filme haverá debate com arquitectos e urbanistas envolvidos na história do SAAL.
frases de engate memoráveis (é isto, não é?)
"Famous Pick-up Lines"
(Isto em português tanto dá "Frases Famosas de Engate" como "Linhas Famosas de Carrinhas de Caixa Aberta" - acho deliciosas as duas. Seria um gozo tremendo traduzir estes postais, para poderem ser usados também fora do "All-garve", ó Artur.)
Vamos lá ao concurso que a Mirian sugeriu num comentário ao seu post anterior. Para mim, é a da Mae West. (Atenção: não funciona quando a arma se transforma em coelho.)
Johnny Guitar - Série "Memorable quotes"
Vienna: As many women as you've remembered.
Johnny: Don't go away.
Vienna: I haven't moved.
Johnny: Tell me something nice.
Vienna: Sure, what do you want to hear?
Johnny: Lie to me. Tell me all these years you've waited. Tell me.
Vienna: [without feeling] All those years I've waited.
Johnny: Tell me you'd a-died if I hadn't come back.
Vienna: [without feeling] I woulda died if you hadn't come back.
Johnny: Tell me you still love me like I love you.
Vienna: [without feeling] I still love you like you love me.
Johnny: [bitterly] Thanks. Thanks a lot.
João César Monteiro e o Algarve
1ª-Por causa dos filmes Sophia de Mello Breyner Andresen e À Flor do Mar, que João César rodou no Algarve (respectivamente em Cacela e Lagos) e onde o Algarve é tratado não como cenário mas como uma verdadeira personagem. Mais tarde a trilogia do João de Deus veio associar João César Monteiro a um imaginário eminentemente lisboeta, mas para mim é o cineasta do Algarve.
2ª- Devido ao facto de ser através do Cineclube que eu comecei a olhar a sua obra com outros olhos, nomeadamente a partir do momento em que vi o À Flor do Mar. Já conhecia as Recordações da Casa Amarela e a Comédia de Deus mas nunca pensei que o João César pudesse ter feito filmes como o À Flor do Mar. Para mim foi uma revelação total na altura em que o vi pela primeira vez na sala do IPJ e ainda o é a cada nova visão. Apesar dos filmes do António Reis e do Pedro Costa, apesar do Dia do Desespero e do Vale Abraão do Manoel de Oliveira, apesar dos outros filmes do João César, o À Flor do Mar é o meu filme português favorito e um dos filmes da minha vida.
(Em baixo pode ver-se o final de À Flor do Mar e o filme Sophia de Mello Breyner Andresen na integra).
À Flor do Mar (1986)
Sophia de Mello Breyner Andresen (1969) Integral em 2 partes
Parte 1 de 2
Parte 2 de 2