ANABAZYS
Joel Pizzini e Paloma
Rocha
Brasil, 2007, 98’
SINOPSE
Inventário da génese, erupção e ressonância de A Idade
da Terra (1980), de Glauber Rocha. Composto por cenas inéditas das 60 horas de
material bruto encontrado, é mais do que um tributo ou um relato histórico.
Narrado na primeira pessoa pelas vozes de Glauber: o realizador expõe-se
inteiramente anos luz à frente do seu tempo, inventa uma narrativa
cinematográfica que, 30 anos depois, está finalmente a ser assimilada pelas
novas gerações.
CRÍTICA
Um corpo na tela e uma voz ecoando no cinema. Anabazys surge
como um monstro cinematográfico a se postar como grande obra de arte, obra
sobre cinema, sobre criação, genialidade, linguagem, significantes e
significados. O filme é sobre Glauber Rocha e A Idade da Terra (1980),
mas antes de tudo é um filme com Glauber Rocha. É o corpo, o movimento, a
impetuosidade, a ousadia, a polêmica de Glauber, que estão em cena. Joel
Pizzini e Paloma Rocha parecem deixar que o cineasta se manifeste no seu
máximo, surja imponente na imagem projetada como o grande agitador que
era.
A forma de Anabazys, antes de ser
"glauberiana", de buscar semelhanças com a linguagem da figura
retratada, é controladamente anárquica, ou anarquicamente controlada. Pizzini e
Paloma buscaram em 60 horas de material bruto não só o que achavam relevante
inserir no documentário, mas de que jeito isso entraria no manancial de imagens
expostas a nós, espectadores. Tanto é que existem repetições de cenas, como as
que havia em A Idade da Terra, e isso apenas reforça o caráter
libertário e libertador do filme da dupla. Há forte coerência entre o discurso
de Glauber e o tipo de filme buscado pelos diretores. Acima de tudo, eles
realizaram um projeto que guarda em si ideais do cineasta baiano, sem que, para
isso, rendam-se a eles.
[...] emblemático que, em festivais que buscam
ousadias temáticas ou estéticas (o primeiro, via trabalhos de mais
experimentação; o segundo, na homenagem a Glauber e Sganzerla), Anabazys surja
como defesa aberta de Glauber Rocha por um cinema desgarrado de questões
sociológicas/ideológicas. Acima de tudo, é preciso atentar para a linguagem,
para as construções formais e estéticas, os desencadeamentos dos sentidos, e só
a partir daí iniciar as discussões off-cinema.
Ouvimos ali Glauber bradar que não lhe cobrem
posicionamentos ideológicos dentro de seus filmes e abram mente e ouvidos para
ver e ouvir, um grito de independência do cinema diante de questões externas
que não deveriam se sobrepor a ele. Nisso,Anabazys avaliza na sua
própria construção, naquela estrutura que mais parece um delírio de Glauber em
pessoa, do artista Glauber, do criador, do mobilizador. Um filme ainda a ser
degustado, pensado, discutido, que está muito além de sua figura central, mas
absolutamente (e não poderia deixar de ser) ligado a ela.
Marcelo
Miranda, filmespolvo.com.br
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