IDA
Pawel
Pawlikowski, Polónia/Dinamarca, 2013, 82’, M/14
FICHA TÉCNICA
Realização: Pawel
Pawlikowski,
Argumento: Pawel Pawlikowski e Rebecca Lenkiewicz
Montagem: Jarosław Kamiński
Imagem: Łukasz Żal e Ryszard Lenczewski
Música Original Kristian Selin Eidnes Andersen
Interpretação: Agata Kulesza, Agata Trzebuchowska, Joanna Kulig
Argumento: Pawel Pawlikowski e Rebecca Lenkiewicz
Montagem: Jarosław Kamiński
Imagem: Łukasz Żal e Ryszard Lenczewski
Música Original Kristian Selin Eidnes Andersen
Interpretação: Agata Kulesza, Agata Trzebuchowska, Joanna Kulig
Origem: Polónia/Dinamarca
Ano: 2013
Duração: 82’
FESTIVAIS E PRÉMIOS
Londres –
Melhor Filme
Toronto – Prémio da Crítica Internacional
Varsóvia – Grande Prémio
Gijón – Melhor Filme, Actriz, Argumento
Toronto – Prémio da Crítica Internacional
Varsóvia – Grande Prémio
Gijón – Melhor Filme, Actriz, Argumento
CRÍTICA
Um
dos mais belos filmes que vamos ver em sala este ano é minimalista e discreto
nas formas e palavras, mas intenso nos sentidos que transporta e assombroso nas
imagens que nos mostra. Ida assinala um regresso à Polónia de Pawel
Pawlikowski, realizador que há alguns anos se mudara para o Reino Unido, onde
assinou filmes como Amor de Verão ou A Última Oportunidade. O regresso destapa
memórias e ecos silenciosos de tempos passados mas que todavia habitam ainda a
consciência da Polónia dos nossos dias. E releva um cinema cuidado e muito
pessoal, que já mereceu em alguns textos críticos alusões a possíveis heranças
de um Bresson.
É através dos silêncios e do que fica por dizer que Ida nos transporta, a partir de uma ação que decorre na Polónia dos anos 60, a memórias vividas nos tempos da II Guerra Mundial e, também, do tempo que se lhe seguiu, quando um regime comunista ali foi instituído sob a força presente dos soviéticos (então sob o consulado de Estaline).
Ida
é a protagonista. Uma jovem noviça que cresceu num convento – de onde nunca
saiu – e a quem a Madre Superiora manda que visite a sua única familiar viva:
uma tia que, em tempos, foi violenta força na justiça que cimentou o poder do
regime comunista. Se junto da tia fica clara, mesmo que nunca muito falada, uma
inquietude perante atos passados, em Ida uma revolução silenciosa e interior
brota quando lhe é dito que, afinal, é filha de judeus mortos durante a guerra.
Se em 2013 vimos dois filmes que nos colocaram perante pontos de vista
diferentes sobre a II Guerra Mundial – Lore, de Cate Shortland, observando a
alma de um povo derrotado através de cinco irmãos que tudo perderam e No
Nevoeiro, de Sergei Loznitsa, que nos deu um conto de ética num tempo em que
muitos optam pelo salve-se-quem-puder – Ida, mesmo sem recuar a esses tempos,
acaba por representar mais uma expressão no cinema atual de ecos da II Guerra
Mundial, cuja memória convoca implicitamente.
Além
desse confronto com o passado e a sua própria identidade, a jovem Ida observa e
desperta para sinais de uma vida contemporânea, reparando sobretudo na presença
de um jovem saxofonista que toca Coltrane (a presença do jazz sublinhando aqui
sinais de uma abertura que, sobretudo pela música, fez da Polónia um dos países
do lado de lá do muro nos quais houve sinais de alargamento de horizontes e
curiosidade pela cultura ocidental antes mesmo da queda do muro).
Aos
gritos mudos, tanto nas memórias de um país que se evoca como no conflito
interior da protagonista, Ida junta um dos mais belos trabalhos de direção de
fotografia a preto e branco que o cinema tem visto nos últimos tempos,
merecendo também atenção o olhar que enquadra figuras e lugares, muitas vezes
deslocando os atores dos focos habituais do olhar, por vezes reduzindo-os a
parte de composições onde outras linhas e espaços desenham um todo, como que a
lembrar que somos parte pequena de algo maior.
Nuno
Galopim,
sound—vision.blogspot.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário