Vanessa Lapa, Áustria/Israel, 2014, 94’, M/14
FICHA TÉCNICA
Realização: Vanessa Lapa
Argumento: Vanessa Lapa, Ori Weisbrod
Montagem Sharon Brook, Noam Amit
Fotografia Hermann Poelking-Eiken
Som: Tomer Eliav
Música Original: Jonathan Sheffer, Daniel Salomon, Gil Feldman
Origem: Áustria/Israel
Ano: 2014
Duração: 94’
CRÍTICA
" (...) Na vida, é preciso ser decente,
corajoso e ter bom coração", escrevia Heinrich Himmler numa das suas
cartas. Palavras sábias que demonstram sobretudo uma humildade de espirito, mas
convém sublinharem que Himmler é o braço-direito de Adolf Hitler. O homem por
trás dos conselhos de decência foi em tempos apelidado como o arquiteto da
"Solução Final", o visionário do extermínio de uma "raça"
que ele próprio considerava prejudicial para a ascensão de uma outra, pura e
soberana (tendo também sido um dos mentores da concretização dos campos de
concentração).
Um Homem Decente, um título irónico e de certa forma
trocista ao legado deste homem de mente indecifrável, é um documentário que nos
reúne um ponto vista único através da leitura de cartas, fotografias e diários
encontrados na casa de família dos Himmler, em 1945. Para além de uma biografia
de um dos rostos das atrocidades cometidas e da proliferação do idealismo Nazi
na Alemanha e noutras partes da Europa, o filme de Vanessa Lapa remete-nos como
um documento sobre os efeitos e réplicas de um regime, descrevendo uma época
fatídica e memorável para a Humanidade do século XX.
A descrença dos alemães pela sua Nação após a
humilhante derrota da Primeira Guerra Mundial, o desejo de uma nova guerra como
uma demonstração de bravura, o realçar dos valores patrióticos que só Adolf
Hitler conseguiu estabelecer no seu povo e a premonição de um novo mundo,
erguido de uma tremenda poça de sangue, são alguns dos fatores que o filme
analisa pelos olhos de Himmler, os quais também avaliam a sua própria figura.
Tal como um feitiço que se vira contra o feiticeiro, Lapa utiliza o seu legado
de forma reflexiva aos seus pensamentos, elaborando não um "monstro",
mas um homem de um poder intelectual invejável, embora, distorcido.
Resumidamente, O Homem Decente é uma
autocrítica póstuma, não deixando de ser impressionante o retrato orquestrado
sem um pingo de maniqueísmo ou manipulação. Eis um registo linear e formalista
que se incorpora como um diário visual de alguém que o Mundo dificilmente
poderá esquecer. Quanto aos julgamentos, só o espectador poderá faze-lo,
obviamente sob advertências.
Hugo Gomes, c7nema.net/
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