SE EU FOSSE LADRÃO...
ROUBAVA
Paulo Rocha, Portugal, 2012, 87’, M/14
FICHA
TÉCNICA
Realização: Paulo Rocha
Guião: Regina
Guimarães, João Carlos Viana, Paulo Rocha
Argumento e Diálogos: Regina Guimarães, João Carlos Viana, Paulo Rocha
Montagem: Edgar Feldman
Fotografia: Acácio de Almeida
Interpretação: Isabel Ruth, Luís Miguel Cintra, Márcia Breia, Chandra Malatitch, Raquel Dias, Carla Chambel, Joana Bárcia, Miguel Moreira, Norberto Barroca
Origem: Portugal
Argumento e Diálogos: Regina Guimarães, João Carlos Viana, Paulo Rocha
Montagem: Edgar Feldman
Fotografia: Acácio de Almeida
Interpretação: Isabel Ruth, Luís Miguel Cintra, Márcia Breia, Chandra Malatitch, Raquel Dias, Carla Chambel, Joana Bárcia, Miguel Moreira, Norberto Barroca
Origem: Portugal
Ano:
2012
Duração: 87’
Partindo da
memória familiar e da matéria dos seus filmes, Paulo Rocha revisita as suas
origens e as referências maiores da sua vida e obra, numa construção fluida e
complexa, que é conscientemente testamental embora só indirectamente
autobiográfica (ele filma-se através do pai e dos personagens da sua obra). O
motor inicial do filme é a evocação da infância e juventude do pai do autor, em
particular o sonho obsessivo deste, na altura partilhado por muitos, de emigrar
para o Brasil, para onde partiu efectivamente em 1909 (embora a cronologia
verdadeira, tal como os factos e os nomes, sejam alterados, ou por vezes
deslocados, em função das rimas com os outros filmes). Mas este tema familiar
cruza-se desde o início com o grande mundo da obra de Rocha, num puzzle de
raccords temáticos que se dirige para dentro e para trás (a busca do centro, ou
da origem…) tanto quanto para fora (a constante ampliação de sentido, a
identidade de um país). Paulo Rocha fala portanto da sua própria necessidade de
partir, e da interrogação de Portugal através da distância – o tempo formativo
em Paris, depois a longa estada no Japão -, assim como fala da morte, mas
também da doença e de um medo tornados endémicos, corrosivos de um país. Em
paralelo, vão surgindo, nos excertos dos seus filmes, grandes referências da
sua obra: homens como o escritor radicado no Japão Wenceslau de Moraes
(1854-1929), o poeta Camilo Pessanha (1867-1926) ou o pintor Amadeo de Souza
Cardoso (1887-1918) – todos representantes de um fulgor criativo dos inícios do
século tanto quanto justamente, de uma relação problemática com o país de
origem. Por outro lado Se eu fosse ladrão… é ainda um repositório de um outro
diálogo estruturante da obra de Paulo Rocha – neste caso, particularmente
associado a Amadeo – em que a inspiração na cultura universal se funde com um
trabalho genuíno, dir-se-ia antropológico, sobre a cultura popular portuguesa,
em especial centrada na região norte do país (os pescadores do Furadouro, o
vale do Douro…). Cinemateca Portuguesa
São muitas as
obsessões do cinema de Paulo Rocha. No seu filme testamento, mescla entre jogo
de colagem de raccords do seu próprio filme e ficção que recria a juventude do
seu pai, ainda encontra muitas outras, em especial uma reflexão antropológica
do que era ser português. O resultado é um objeto raríssimo, um ensaio poético
sobre a essência do que filmou durante décadas. Curiosamente, a escrita de
Regina Guimarães contamina de forma muito pueril todo este olhar interior.
Tanto que até pensamos estar dentro do cinema desta escritora e cineasta
nortenha.
Metade assombração
trágica, metade tese elaborada sobre a impossibilidade de um filme
(desmontam-se sempre os formatos convencionais do cinema narrativo, nem que se
recorra à própria voz do cineasta a dizer corta), o último Rocha é coisa séria.
Rui
Pedro Tendinha, dn.pt/
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