CANÇÕES DO
SEGUNDO ANDAR
Roy
Andersson
Suécia/Noruega/Dinamarca, 2000, 98’
FICHA TÉCNICA
Título
Original/Internacional: Songs From The Second
Floor/ Sånger från andra
våningen
Realização,
Argumento e Montagem: Roy Andersson
Fotografia: István Borbás, Jesper Klevenås, Robert
Komarek
Interpretação: Lars
Nordh, Stefan Larsson e Bengt C.W. Carlsson
Origem: Suécia/Noruega/Dinamarca
Ano:
2000
Duração: 98'
FESTIVAIS E PRÉMIOS
Prémio do Júri - Festival de Cannes
CRÍTICA
ONDE
O DRAMA E A FARSA SE ENCONTRAM COMO SE FOSSEM VELHOS AMIGOS
Dois
anos atrás, a hipnoticamente divertida comédia absurdista CANÇÕES DO SEGUNDO
ANDAR foi apresentada no Festival de Cannes, e cenas desse filme continuam a
vir-me à cabeça. (O filme recebeu um Prémio Especial do Júri do festival).
O
argumentista e realizador Roy Andersson usa o écrã panorâmico para compor
planos glacialmente belos, e prende a câmara ao chão enquanto a ação, muitas
vezes bem-humorada, tem lugar.
Essa
quietude ligeiramente incomodativa e os enquadramentos estáticos dão a estes
quadros cómicos a força da arte, e isso reforça o humor: é uma combinação de
Bergman e Feydeau. Ou, para aqueles com sensibilidades pop, Jacques Tati
revisto pelo cartoonista Gary Larson, criador da tira “The Far Side”.
Toda
a ação decorre dentro do enquadramento estático, numa série de episódios
aleatórios. O filme evita a narração convencional, preferindo explorar, ao
longo de momentos discretos, a revelação horrivelmente hilariante que o Destino
não poupa ninguém.
Nas
cenas onde um homem desesperado que não quer perder o emprego se agarra aos
tornozelos do seu chefe que joga golfe, estamos praticamente à beira do
melodrama insuportável. Mas Andersson compreende como a linha entre a comédia e
o pathos tem a espessura de uma membrana.
Cria
tensão com o seu enquadramento, sabendo que a mesma lenha que cria drama ao
arder também pode dar energia à comédia. A sua decisão de garantir a secura do
humor – a câmara fica a ver tudo como um observador passivo ou charrado – é uma
opção de um realizador astuto que usa a contenção como um ato deliberado. A
compulsão de Andersson manter sempre a câmara à mesma distância e capturar cada
ato num take único dá ao filme a ressonância fantasmagórico de um sono
inquieto.
Damos
por nós a admirar a determinação de Andersson. O próprio espectador pode
sentir-se angustiado com a recusa insistente de mudar de ângulo durante um
engarrafamento enlouquecedor e calamitoso. Cenas como esta, dirigidas à
distância, dão ao filme uma sensação de acaso quase pós-apocalíptico.
O tom
mordaz e quase fúnebre do filme sugere Odin a observar os fracassos da
sociedade moderna – e os seus efeitos alienantes na raça humana – através de um
globo de neve. Ninguém aqui é capaz de comunicar: Andersson laminou o seu
elenco, e o selo antisséptico que os impede de gerar a fricção que torna a vida
digna de ser vivida coloca cada um deles a viver numa bolha de plástico.
... CANÇÕES DO SEGUNDO ANDAR, exemplo de um género insuficientemente
discutido, é um clássico menor, pensativo e comovente,
obra de um artista genuíno e singular.
Elvis
Mitchell, New York Times
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