CANÇÕES DO 2º ANDAR | 8 DEZEMBRO | IPDJ | 21H30

CANÇÕES DO SEGUNDO ANDAR

Roy Andersson
Suécia/Noruega/Dinamarca, 2000, 98’


FICHA TÉCNICA
Título Original/Internacional: Songs From The Second Floor/ Sånger från andra våningen
Realização, Argumento e Montagem: Roy Andersson
Fotografia: István Borbás, Jesper Klevenås, Robert Komarek
Interpretação: Lars Nordh, Stefan Larsson e Bengt C.W. Carlsson
Origem: Suécia/Noruega/Dinamarca
Ano: 2000
Duração: 98'

FESTIVAIS E PRÉMIOS
Prémio do Júri - Festival de Cannes





CRÍTICA

ONDE O DRAMA E A FARSA SE ENCONTRAM COMO SE FOSSEM VELHOS AMIGOS
Dois anos atrás, a hipnoticamente divertida comédia absurdista CANÇÕES DO SEGUNDO ANDAR foi apresentada no Festival de Cannes, e cenas desse filme continuam a vir-me à cabeça. (O filme recebeu um Prémio Especial do Júri do festival).
O argumentista e realizador Roy Andersson usa o écrã panorâmico para compor planos glacialmente belos, e prende a câmara ao chão enquanto a ação, muitas vezes bem-humorada, tem lugar.
Essa quietude ligeiramente incomodativa e os enquadramentos estáticos dão a estes quadros cómicos a força da arte, e isso reforça o humor: é uma combinação de Bergman e Feydeau. Ou, para aqueles com sensibilidades pop, Jacques Tati revisto pelo cartoonista Gary Larson, criador da tira “The Far Side”.
Toda a ação decorre dentro do enquadramento estático, numa série de episódios aleatórios. O filme evita a narração convencional, preferindo explorar, ao longo de momentos discretos, a revelação horrivelmente hilariante que o Destino não poupa ninguém.
Nas cenas onde um homem desesperado que não quer perder o emprego se agarra aos tornozelos do seu chefe que joga golfe, estamos praticamente à beira do melodrama insuportável. Mas Andersson compreende como a linha entre a comédia e o pathos tem a espessura de uma membrana.
Cria tensão com o seu enquadramento, sabendo que a mesma lenha que cria drama ao arder também pode dar energia à comédia. A sua decisão de garantir a secura do humor – a câmara fica a ver tudo como um observador passivo ou charrado – é uma opção de um realizador astuto que usa a contenção como um ato deliberado. A compulsão de Andersson manter sempre a câmara à mesma distância e capturar cada ato num take único dá ao filme a ressonância fantasmagórico de um sono inquieto.


Damos por nós a admirar a determinação de Andersson. O próprio espectador pode sentir-se angustiado com a recusa insistente de mudar de ângulo durante um engarrafamento enlouquecedor e calamitoso. Cenas como esta, dirigidas à distância, dão ao filme uma sensação de acaso quase pós-apocalíptico.
O tom mordaz e quase fúnebre do filme sugere Odin a observar os fracassos da sociedade moderna – e os seus efeitos alienantes na raça humana – através de um globo de neve. Ninguém aqui é capaz de comunicar: Andersson laminou o seu elenco, e o selo antisséptico que os impede de gerar a fricção que torna a vida digna de ser vivida coloca cada um deles a viver numa bolha de plástico.
... CANÇÕES DO SEGUNDO ANDAR, exemplo de um género insuficientemente discutido, é um clássico menor, pensativo e comovente, obra de um artista genuíno e singular.
Elvis Mitchell, New York Times

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