LISBON REVISITED
Edgar Pêra, Portugal, 2014, 66’
VERSÃO 2D
Apresentação
por Ana Soares
Ficha Técnica
Shot & Edited by Edgar Pêra
Words by Fernando Pessoa
Production Rodrigo Areias / Bando À Parte
Voices:
Keith Esher Davis – Bernardo Soares
Nuno Melo – Ricardo Reis/ Álvaro de Campos
Maya Booth – Margareth Mansell
Miguel Borges – Pessoa / Barão de Teive
Jonathan Weightman – Alexander Search
Marina Albuquerque – Ofélia/ Neera
Rui Santos – Alberto Caeiro
Amarante Abramovici – Lídia
Claudia Clemente – Chloé
Henrique Clemente Pêra – Íbis
Soundscape – Artur Cyanetto, Pedro Góis
Music – Hector Berlioz, Robert Schumann, Gustav Mahler, Kino-Orquestra Alfacinha
Harper – Ana Isabel Dias
Sound Mix – Pedro Góis, Sunflag Studios
Image Consultant – Luis Branquinho
Additional Cameras – Miguel Pereira, Miguel Tavares, Vera Marques, João Moutinho, Cláudio Vasques
Associate Producer – Amândio Coroado
Line Producer – Miguel pereira
Assistant Director – Vera Marques
Post-Production Assistant – Miguel Tavares
Letter to Fernando – Ophelia Queiroz
Music – Hector Berlioz, Robert Schumann, Gustav Mahler, Kino-Orquestra Alfacinha
Harper – Ana Isabel Dias
Sound Mix – Pedro Góis, Sunflag Studios
Image Consultant – Luis Branquinho
Additional Cameras – Miguel Pereira, Miguel Tavares, Vera Marques, João Moutinho, Cláudio Vasques
Associate Producer – Amândio Coroado
Line Producer – Miguel pereira
Assistant Director – Vera Marques
Post-Production Assistant – Miguel Tavares
Letter to Fernando – Ophelia Queiroz
“Pensar é
estar doente dos olhos”, disse Alberto Caeiro, o mais sensorial dos heterónimos
de Pessoa. Lisbon Revisited vive através desta doença, mostrando formas
alternativas de ver (a cidade) e ouvir (Pessoa). O título vem de um poema do
seu heterónimo futurista, Álvaro de campos. Este filme é numa cine-liturgia e
um kino-exorcismo de Lisboa e dos fantasmas de Fernando Pessoa. Poliglota,
polifónico e tridimensional, Lisbon Revisited é falado nas três línguas em que
Pessoa escreveu: Português, Inglês e Francês." in cinequanonline
EDGAR PÊRA SOBRE O FILME
Como surgiu o projecto Lisbon Revisited?
Lisbon Revisited é um filme de investigação plástica e poética e decorre de um levantamento visual dos espaços verdes de Lisboa, no formato tridimensional, feito entre 2011 e 2014. Mal comecei a filmar em 3D, apercebi-me que era o formato ideal para filmar a natureza e as suas irregularidades, pela múltiplas perspectivas e níveis de profundidade que proporcionam. Foi a partir desses foto-diários e cine-diários 3D que comecei a imaginar um filme centrado no universo vegetal lisboeta, sem (imagens de) pessoas.
Como surgiu o universo pessoano num filme sobre a natureza?
Lisbon Revisited é uma cidade polifónica e poliglota habitada pelas múltiplas vozes e línguas de Fernando Pessoa. Não sei bem como fui parar aos textos de Pessoa, porque é uma obsessão intermitente. “Pensar é estar doente dos olhos” escreveu Alberto Caeiro, a persona mais “metafísica sem metafísica” de Pessoa. Lisbon Revisited é um filme que vive através dessa doença dos olhos: um esforço por pensar apenas com imagens e sons, uma experiência imersiva, uma percepção transmutada da realidade. E penso que não há nada melhor para habitar esse mundo fantasmático que as vozes do mais carismático poeta-fantasma de Lisboa, Fernando Pessoa. Os seus múltiplos heterónimos garantem a multiplicidade dessas vozes fantasmas.
Alguns paralelos se foram estabelecendo durante a escrita do filme: o epitáfio de Alexander Search e o cemitério dos Prazeres, as odes de Ricardo Reis e as rosas do jardim botânico da ajuda, o misterioso dragoeiro da Estrela e o Livro do desassossego, as atormentadas estátuas do Jardim Tropical e as comunicações mediúnicas entre Pessoa e espíritos do além, as suas recriminações e frustrações sexuais, o mundo dos felinos e “Regra de Vida”... E também os textos cinematográficos e divinatórios escritos em francês pelo poeta e a fantasmagoria da tragédia simbolizada pelas estátuas de grávidas e crianças do Cemitério dos Prazeres, a relação impossível entre Ofélia e Pessoa, e os cenários espinhosos do jardim de cactos do Jardim das Necessidades...
Como definiria a estética de Lisbon Revisited? Surrealista? Psicadélica?
Não me parece que sejam os termos mais adequados, embora entenda as comparações que alguns críticos fizeram - prefiro a definição de Rudy Rucker de trans-realismo: “uma percepção fantástica da realidade”. Quando filmei parti sempre do real, o processo de transformação dá-se durante a montagem do filme, e aí o som e a imagem são manipulados de um ponto de vista trans-realista. A estética foto-realista irrompe apenas à noite, nos jardins da cidade. São formas alternativas de representar o mundo, dando ao espectador uma oportunidade de olhar de outra maneira para a presença do (imprescindível) universo vegetal na sua cidade.
CRÍTICA
O filme do desencontro entre o cineasta e o poeta
Edgar Pêra filma Fernando Pessoa na colagem audiovisual Lisbon Revisited...
Prosseguindo com o 3D que começou a explorar com Cine-Sapiens, a sua contribuição para o projecto colectivo de Guimarães3x3D, Lisbon Revisited é um filme-colagem à volta da obra de Fernando Pessoa. Como o cineasta explicou na introdução à primeira das duas projecções do filme em Locarno, Pessoa é para ele o poeta que melhor define o século XX “mas também os nossos dias”, de uma contemporaneidade omnipresente.
A partir de uma selecção de escritos dos seus vários heterónimos (e de uma das cartas de Ofélia Queirós), Pêra constrói uma absorvente e inquietante paisagem sonora de vozes, fragmentos de texto, música pré-existente (Berlioz, Schumann, Mahler) e construções abstractas, o todo ilustrado por imagens de Lisboa manipuladas ao extremo.
Lisbon Revisited é imediatamente visível como mais um dos múltiplos “kino-diários” de Pêra/“homem-câmara”, outra das suas experiências formais não-lineares que têm composto a maioria da sua obra, com a sua aposta num experimentalismo sensorial amplificada pelas possibilidades da imagem em relevo. Mas esbarra num problema de raiz que não era necessariamente previsível: este parece ser, não um, mas antes dois filmes, que correm em paralelo sem nunca se encontrarem verdadeiramente. Um, sonoro, é um portento de inquietação e sugestão que pedia um trabalho de imagem que estivesse ao mesmo nível. Mas o outro, visual, não está; e rapidamente se torna cansativo e redundante, devido ao (ab)uso da imagem invertida. Não é exactamente uma surpresa que assim seja - Pêra nunca foi, apenas, um cineasta da imagem e a sofisticação do seu trabalho sonoro tem sido uma constante na sua obra. A surpresa é que, desta vez, seja pelo som que recordamos um filme do cineasta.
Jorge Mourinha, público
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