Máscara de Aço Contra Abismo Azul | 23 Maio | IPDJ | 21h30



MÁSCARA DE AÇO CONTRA ABISMO AZUL 
Paulo Rocha, 
Portugal, 1989, 64’, M/12

FICHA TÉCNICA

Realização e Argumento: Paulo Rocha
Montagem: Manuel Mozos
Fotografia: Daniel Del-Negro
Música: Paulo Brandão
Com: Fernando Heitor, Inês de Medeiros, Vítor Norte, Miguel Guilherme, José Viana, e Henrique Viana
Origem: Portugal
Ano: 1989
Duração: 64’


Quase vinte anos depois de "Pousada das Chagas", Paulo Rocha regressou a uma surpreendente "colagem" sobre o modernismo português, centrado em Amadeo de Sousa Cardoso. Se "Máscara de Aço" e "Abismo Azul" são títulos de quadros de Amadeo, o que o filme propõe é uma oposição entre a afirmação e o apagamento, entre os princípios masculino e feminino. Entre a reconstituição dos anos do Orfeu e do manifesto futurista, a montagem de uma exposição na Gulbenkian e um onirismo jugulado, Paulo Rocha propôs uma das mais singulares e fascinantes visões desse mundo de cores e metais, tão saudosista quanto anarquizante, tão altaneiro quanto inseguro.
Cinemateca Portuguesa


  
"Tentei filmar esse período da sua pintura com um estilo diferente, como se a câmara fosse um pincel na mão do próprio Amadeo, com a suas cores e as suas formas", escreveu o cineasta Paulo Rocha, sobre o documentário, num texto citado pela Midas.
O filme - criado por ocasião do centenário do nascimento de Amadeo de Souza-Cardoso, em 1988, e da exposição na Fundação Calouste Gulbenkian dedicada ao artista - estreou-se no Festival de Pesaro, em Itália, em 1989, após apresentação na Cinemateca Portuguesa, em Lisboa, no ano anterior.
"Máscara de Aço" e "Abismo Azul" surgem no filme como símbolos do casal primordial que o realizador abordou em filmes como "A Ilha dos Amores", mas também personagens de banda desenhada criadas pelo próprio Amadeo, após o regresso a Portugal quando a Grande Guerra de 1914-1918 o afastava de Paris, recorda a Cinemateca Portuguesa.
Surgem no filme datas e factos concretos da vida pessoal de Amadeo, a família numerosa, a importância de Manhufe, a sua terra natal, a passagem por Lisboa, a partida para Paris, em 1906, as exposições na Europa e em Nova Iorque, os contactos e a amizade com o casal de artistas Robert e Sonia Delaunay, os contactos com o artista Santa-Rita e as correspondências com o escritor Teixeira de Pascoaes.
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Lusa



[...] Máscara de Aço Contra Abismo Azul [...] são nomes de quadros de Amadeo e também entidades que o filme liberta e transfigura, a partir da sua materialização em corpos de actores. São, sobretudo, duas presenças, dois princípios, duas vibrações que contaminam todo o espaço da memória (e o território do próprio filme).
O confronto de Amadeo-personagem-do-filme com as personagens saídas dos seus quadros acaba por adquirir uma dimensão que está muito longe de se esgotar na relação tradicional de causa e efeito entre “modelo” e “obra”. No fundo, o que Máscara de Aço Contra Abismo Azul propõe é uma igualização delirante do pintor e das suas matérias dos seus quadros, num jogo a um tempo metódico e perverso em que tudo se insere num mesmo plano, plano esse que já não é ilustrativo ou psicológico, mas contraditório e teatral.
[...] Em Máscara de Aço Contra Abismo Azul o que mais surpreende é a vitalidade (renovada pelo labor do próprIo filme) da atitude criativa de Amadeo. Não estamos perante um pintor à procura de um lugar mais ou menos nítido, ou eventualmente consagrado, na evolução da pintura e das artes deste século. Bem pelo contrário. Amadeo sacrifica a estabilidade de qualquer código conhecido à irrissão (que é uma forma de espectáculo) de um novo código que se quer sempre disponível para o seu contrário – um verdadeiro princípio de comédia, se não esquecermos que o riso se apresenta aqui como o rosto simétrico da angústia.

João Lopes, Expresso, 24/9/1988
 

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