O QUADRADO | 5 DEZ | IPDJ | 21H30



O QUADRADO
Ruben Östlund
SE/DE/FR/DK, 2017, 142’, M/14

FICHA TÉCNICA
Título Original: The Square
Realização e Argumento: Ruben Östlund
Montagem: Jacob Secher Schulsinger e Ruben Östlund
Fotografia: Fredrik Wenzel
Interpretação: Claes Bang, Elisabeth Moss e Dominic West
Origem: Suécia, Alemanha, França, Dinamarca
Ano: 2017
Duração: 142'
 

FESTIVAIS E PRÉMIOS
Festival de Cannes - Palma de Ouro
Festival de San Sebastián - Selecção Oficial
 

  
CRÍTICA
Ruben Östlund filma os seus filmes com uma certa intenção, uma provocação no qual tenta debater-se com a consciência moral do espectador. Se em Força Maior, especificaria o medo como uma catarse ao rompimento de uma relação, em O Quadrado somos ainda levados ao extremos nessa encruzilhada de decisões. “E se fosse consigo?” - mais do que um programa pedagógico, Östlund perpetua uma tragédia cómica minada de experiências que vai de encontro aos nossos próprios medos, provavelmente o maior dos medos sociais, o de agir na altura certa.
Em paralelo com a avalanche de Força Maior, em O Quadrado assistimos a uma particular sequência de uma arte performativa levada ao extremo, a besta que encarna no homem-artista e a manada indefesa que encarna numa multidão intelectualmente homogénea. A situação torna-se tão drástica que nós próprios [espectadores] questionamos a nossa experiência, a impotência nos nossos ativismos, e o desprezo pelo próximo como um mecanismo de defesa. Nessas ditas situações, O Quadrado envolve-nos com uma tese psicológica desafiadora, um filme revoltante … silenciosamente revoltante que poderá dizer mais de nós que qualquer divã. E esse quadrado, engenho simetricamente perfeito que reflete a igualdade de quem o penetra, um produto de museu no qual Östlund manipula como objeto de estudo a outra das questões da sua obra. Até que ponto a arte pode ser considerada arte? Ou simplificando, o que é a arte?
E toda essa arte tem consequências, assim como os atos do protagonista, Christian (Claes Bang), que concentram todos esses confrontos invocados numa só persona. Aquele, e já referido, medo social, âncora das nossas relações afetivas assim como comunicativas, que elevam a um certo grau de passividade. Até porque existe dentro de nós um certo Christian, que se esconde em plataformas para expressar os seus sentimentos mais primários, no sentido em que essas emoções são eventualmente subvalorizadas por uma comunidade artística, pensante que anseia atingir o pedestal da racionalidade, quer do real, quer do abstrato.
O Quadrado é um exemplar de um filme subjugado ao debate dele próprio, pronto para o dialogo com o espectador, entre espectadores e sobretudo depois do seu visionamento. São as questões sugeridas pela obra que nos tornam aptos para as suas interpretações; porém, Östlund tenta acima de tudo obter essa função, fugindo da pedagogia infantil e da essência solipsista que invade a comunidade arthouse, mas foge, também, da objetividade.
O Quadrado prolonga-se até não possuir mais uma questão nova a indicar, torna-se com o tempo obtuso, fácil e previsivelmente moralista, como se toda esta galeria resumisse a uma fábula, citadina e moderna que exorciza a realidade como a vemos. Depois vem a obsessão de Östlund pelas escadas, a técnica e como filmá-las, uma tese na qual não procuramos aqui dar respostas, mas que preenche em demasia uma obra sobretudo comunicativa que oscila pelo simples ilustrativo.
Hugo Gomes, c7nema.net

  


A arte e as suas ambivalências
Foi com "O Quadrado" que o sueco Ruben Östlund arrebatou a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2017: uma crónica, entre o sério e o irónico, sobre as nossas relações com a arte e os objectos artísticos.
De que falamos quando falamos de arte contemporânea?... A acreditar no filme "O Quadrado", falamos de uma grande confusão, tanto no plano individual como institucional. Ou seja: o filme do sueco Ruben Östlund, vencedor da Palma de Ouro de Cannes (no passado mês de Maio) lança uma série de pistas, umas realistas, outras mais ou menos burlescas, para nos confrontar com as ambivalências do nosso mundo mediatizado.
Tudo se passa em torno da personagem do director (Claes Bang) de um museu de Estocolmo que se descobre assombrado pelos mais variados incidentes, desde a carteira que lhe roubam na praça do próprio museu até à conservação de algumas insólitas peças que tem em exposição... Isto sem esquecer a presença insólita, misto de sedução e ameaça, de uma jornalista (Elizabeth Moss) que o quer entrevistar.
Östlund combina tudo isso numa teia a que não podemos deixar de reconhecer agilidade e alguns efeitos desconcertantes. Não parece que o seu filme esteja muito empenhado em "dizer" algo de muito consistente sobre aquilo que coloca em cena (a integração do tema dos refugiados soa mesmo a demagogia fácil). O certo é que, por vezes, em grande parte através dos actores, "O Quadrado" consegue expor a falsidade intrínseca de tantas relações do nosso tempo, supostamente construídas em nome da transparência e do "progresso".
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João Lopes, rtp.pt/cinemax/


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