já não se fazem heróis como antigamente. pois não. novo ciclo no IPJ a partir de 2ªf. 2 meses, 8 filmes.

(ESTE CICLO TERMINA EM JULHO, com BOBBY CASSIDY de Bruno de Almeida, TONY MANERO de Pablo Larrain, MOTHER – UMA FORÇA ÚNICA de Joon-ho Bong e A NOVA VIDA DO SENHOR O'HORTEN de Bent Hamer)


JÁ NÃO SE FAZEM HERÓIS COMO ANTIGAMENTE

DIA 7
UM PROFETA

Jacques Audiard

França, Itália, 2009, 150’, M/16

O filme conta a história da ascensão social de um SDF (sans domicile fixe), Malik. Árabe e analfabeto, ele vai parar a uma prisão dominada pela máfia corsa, e será dentro de quatro paredes que passa de zé-ninguém a 'padrinho' do tráfico de droga e do crime organizado. Podia falar-se do contorno psicológico de tal situação; de uma reacção sociológica ("um racismo latente”) a que Audiard se referiu; ou de um filme que, ficcionando tudo à sua volta naquela prisão de estúdio, consegue ser retrato do tecido social francês contemporâneo como poucos o foram. Mas o que mais impressiona não são estas 'consequências'. O que mais impressiona em "Um Profeta" é a permeabilidade operática que tudo aquilo atinge, e logo num filme que, curiosamente, e tal como todos os de Audiard, volta a dar provas da sua modéstia. Porque "Um Profeta", no fundo, jamais se coloca acima da realidade que está à sua frente. Tem uma fidelidade incondicional por esse princípio.
Francisco Ferreira



Título Original: Un Prophète
Realização: Jacques Audiard
Argumento: Jacques Audiard e Thomas Bidegain
Interpretação: Tahar Rahim, Niels Arestrup, Adel Bencherif, Reda Kateb
Hichem Yacoubi, Jean-Philippe Ricci
Direcção de Fotografia: Stéphane fontaine
Música: Alexandre Desplat
Montagem: Juliette Welfling
Origem: França/Itália
Ano de Estreia: 2009
Duração: 154’



DIA 14
O MEU AMIGO ERIC

Ken Loach

Reino Unido/ França/ Itália/ Bélgica/ Espanha, 2009, 116’, M/12

Quando me disseram que o último realizador marxista do hemisfério ocidental - Ken Loach, como se sabe - ¬fizera um filme com Eric Cantona e por ele co-produzido, a minha primeira reacção foi de desalento. Seria que, cumprido o cabo dos 70 anos, Loach se deixara, enfim, seduzir pela mundaneidade e pelo futebol? Teria ele trocado a denúncia das injustiças pelos golos do Manchester United (os Reds, mas mesmo assim...), teria traficado a luta de classes pelo pontapé no hooligan (gesto que fez quase tanto pela notoriedade de Cantona quanto as jogadas geniais, pois não há maior fama que a infâmia)? Confesso que a bizarria atraiu a minha curiosidade e, se essa foi a estratégia de Loach - bingo! Ken Loach consegue tecer uma ficção tonificante e surpreendente, onde há uma aguda atenção social, uma comédia romântica e um genuíno amor pelo futebol - daquele que faz olhar uma jogada de Cantona como um ballet ao sol.
Jorge Leitão Ramos


Título Original: Looking For Eric
Realização: Ken Loach
Argumento: Paul Laverty
Interpretação: Steve Evets, Eric Cantona, Stephanie Bishop, Gerard Kearns
Julie Brown, John Henshaw
Direcção de Fotografia: Barry Ackroyd
Música:
Montagem: Mark Wright
Origem: Reino Unido/ França/ Itália/ Bélgica/ Espanha
Ano de Estreia: 2009
Duração: 116’



DIA 21
FANTASIA LUSITANA

João Canijo

Portugal, 2010, 64’, M/6

Um filme todo feito de colagens de documentários do Estado Novo, embora com a inteligente intromissão de uma textualidade exterior, que o recontextualiza de modo contemporâneo, poderá possuir limites evidentes, mas o resultado é estimulante, porque Canijo entende os materiais com que trabalha e se apercebe da sua desgarrada eloquência. Por isso, Fantasia Lusitana ultrapassa a soma das duas partes constituintes e traça um dos olhares mais negros sofre o fascismo português e, sem sombra de demagogia, mostra como os anos 40, neste “jardim à beira mar plantado”, podem funcionar enquanto chave para entender a nossa presente “apagada e vil tristeza".
Mário Jorge Torres
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Título Original: Fantasia Lusitana
Realização: João Canijo
Textos: Alfred Döblin, Erika Mann, Antoine de Saint-Exupéry
Vozes: Hanna Schygulla, Rüdiger Vogler, Christian Patey
Montagem: João Braz
Origem: Portugal
Ano de Estreia: 2010
Duração: 64’


DIA 28
ANTI CRISTO

Lars Von Trier

Dinamarca/ Alemanha/ França/ Suécia/ Itália/ Polónia, 2009, 109’, M/18

Lars Von Trier é, possivelmente, o mais perverso realizador da História do Cinema. Não tem ética nem escrúpulos, é moralmente repugnante. Absolutamente odioso. Contudo, genial. É esse génio maléfico que faz com que o odiemos tanto sem que consigamos deixar de gostar dele. Se tudo isto se aplica a Ondas de Paixão, Os Idiotas e Manderlay, o que dizer de Anticristo, o primeiro filme catalogado no género de terror? Pois, poupem as vossas mentes sãs e não vão ver este filme. Contudo, não deixem de o fazer, pois é uma experiência totalmente nova de cinema (ainda que plausivelmente traumática) sem recurso à tridimensionalidade.
Manuel Halpern




Título Original: Antichrist
Realização: Lars Von Trier
Argumento: Lars Von Trier
Interpretação: Willem Dafoe, Charlotte Gainsbourg, Storm Acheche Sahlstrøm
Direcção de Fotografia: Anthony Dod Mantle
Montagem: Åsa Mossberg e Anders Refn
Origem: Dinamarca/ Alemanha/ França/ Suécia/ Itália/ Polónia
Ano de Estreia: 2009
Duração: 109’



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