ESCOLHA DANIEL ALMEIDA
DIA 15 ABRIL
TEMPORÁRIO 12, Destin
Cretton, EUA, 2013, 96’, M/16
FICHA TÉCNICA
Realização: Destin Cretton
Interpretação: BrieLarson, Franz Turner, John
Gallagher Jr.
Ano:2013
Duração:
96’
Origem:
E.U.A.
SINOPSE
Num
centro de acolhimento para adolescentes problemáticos, o dia-a-dia é vivido
entre dramas, traumas e também algumas vitórias. A acompanhá-los está Grace
(Brie Larson), uma supervisora dedicada e comprometida com a sua missão. No
entanto, debate-se com os seus próprios fantasmas e, apesar de contar com o
apoio incondicional de Mason (John Gallagher Jr.), seu colega e namorado, tem
extrema dificuldade em confiar nos outros. Um dia, dá entrada na instituição
Jayden (Kaitlyn Dever), uma jovem tão dotada quanto potencialmente violenta. A
força da ligação que se cria entre elas, associada a um acontecimento
inesperado na vida de Grace, vai desencadear a libertação de que ela tanto
precisa para se pacificar com o passado e, assim, conseguir abraçar o que o
futuro lhe reserva.
Escrito
e realizado pelo norte-americano Destin Cretton, o filme acumulou várias
distinções, incluindo o prémio para Melhor Actriz, para Brie Larson, no 66.º
Festival Internacional de Cinema de Locarno.
CRÍTICA
Um indie americano
intenso e fluido que se esquiva aos lugares-comuns, com uma actriz que merece
passar à “primeira divisão”.
O conceito do “novo cinema independente americano” já teve tantas versões
mais ou menos corporativas desde que Sexo, Mentiras e Vídeo de Steven
Soderbergh lhe abriu as portas há quase 25 anos que, quando nos aparece um
filme genuinamente feito “a desenrascar” que vai lentamente criando uma bola de
neve à sua volta, ainda por cima paredes-meias com a boa intenção da problem
picture sobre os problemas sociais, a desconfiança é quase de rigor. No caso
de Temporário 12, contudo, pode-se perfeitamente ir à vontade; a segunda
longa do americano Destin Daniel Cretton, expandido a sua aclamada curta de
2009, contorna inteligentemente todos os obstáculos e armadilhas que o seu
assunto lhe atira para o caminho.
O filme acompanha alguns dias no quotidiano de um centro de acolhimento para
adolescentes em dificuldades, através dos olhos de uma supervisora que parece
estar tão à toa como os miúdos que acompanha. Com uma história destas, seria
fácil cair no lugar-comum bem-intencionado do melodrama juvenil e inspirador da
vitória sobre a tragédia ou sobre o destino, mas Cretton, que baseou o filme
nas suas próprias experiências como monitor temporário num destes centros, e
nas de colegas que disto fizeram profissão, recusa-se a ir por aí. Não só
porque filma literalmente “à flor da pele”, com câmara à mão e perto das suas
personagens (mas sem tombar no lugar-comum Dardenniano), mas porque se dá ao
trabalho de lhes dar o espaço e o tempo para elas existirem enquanto gente e
não enquanto símbolos ou arquétipos. É um filme intenso, em constante dispêndio
de energia, como convém a uma história de gente nova mal na sua pele, e
transportado por uma performance luminosa: Brie Larson no papel de Grace, a
supervisora que percebe bem demais o que vai na cabeça destes miúdos. É um daqueles
papéis que faz uma carreira; pela entrega total, lembrou-nos Half Nelson –
Encurralados, de Ryan Fleck, que lançou Ryan Gosling para a “primeira divisão”,
e não nos espantaríamos que Temporário 12 fizesse (merecidamente) o mesmo pela
actriz.
Para lá disso, contudo, há que dizer que, fosse este um dos “falsos indies” em que o cinema americano se tornou pródigo, e não se sentiria a fragilidade e a solidão que vêm ao de cima, tudo seria bem mais certinho para agradar às massas. Temporário 12 não evita tropeções ou convencionalismos, a sua construção narrativa pode ficar arrumadinha, mas pelo meio disso tudo faz uma coisa que a maior parte destes “filmes sociais” não faz: respira. Parecendo que não, é imenso.
Para lá disso, contudo, há que dizer que, fosse este um dos “falsos indies” em que o cinema americano se tornou pródigo, e não se sentiria a fragilidade e a solidão que vêm ao de cima, tudo seria bem mais certinho para agradar às massas. Temporário 12 não evita tropeções ou convencionalismos, a sua construção narrativa pode ficar arrumadinha, mas pelo meio disso tudo faz uma coisa que a maior parte destes “filmes sociais” não faz: respira. Parecendo que não, é imenso.
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