BANDO DE RAPARIGAS
Céline Sciamma
França, 2014, 113’, M/14
FICHA TÉCNICA
Título Original: Bande de Filles
Argumento e Realização: Céline Sciamma
Fotografia: Crystel Fournier
Montagem: Julien Lacheray
Produção - Bénédicte Couvreur
Interpretação: Assa Sylla, Karidja Touré, Lindsay Karamoh, Mariétou Touré
Ano: 2014
Origem: França
Duração: 113´
Festival de Cannes 2014 – Quinzena dos Realizadores
Prémios César 2015 – 4 nomeações, incluindo Melhor Realizadora
Finalista do Prémio LUX da Comissão Europeia
Festival de San Sebastián – Prémio TVE Outro Olhar
CRÍTICAS
A
terceira longa de Sciamma instala-se num subúrbio de Paris, para seguir uma
adolescente negra que vive sufocada pelo seu contexto. O início do filme limita-se,
aliás, a situar a personagem no seu meio, conduzindo-nos pelas ruas (dominadas pelos rapazes),
pela escola (que nada lhe promete) e pelo apartamento da sua família (liderada
pelo seu tirânico irmão mais velho). Haveria aqui terreno para o lugar-comum
sociológico, mas, felizmente, Sciamma despacha a descrição do contexto (sempre
presente em fundo) num par de pinceladas. O que cativa a câmara é, ao invés, a
possibilidade de mostrar como a protagonista tenta libertar-se do seu mundo.
Trata-se de um desejo que cedo a levará a juntar-se ao bando de raparigas do
título, formado por três though girls
(todas interpretadas por não-atrizes) que à escola preferem a evasão
(vaguear pelos centros comerciais...). A partir daqui, o filme encetará um
constante movimento de vaivém entre o pessoal e o coletivo, para verificar como
a protagonista depressa encontra no universo paralelo do gangue uma nova amarra
à sua liberdade. Mas, mais do que a história, o que é sublime, aqui, é o modo
como Sciamma fica sempre à altura das personagens, nunca caindo na tentação de
trair os seus pontos de vista. É uma
exigência de fidelidade que se nota, em especial, na construção dos diálogos,
que, no caso, primam pela sua vitalidade (como se cada palavra saísse em estado
bruto da boca das raparigas). Uma bela
surpresa, portanto.
Vasco Baptista Marques,
Expresso, 29/8/15
Costuma dizer-se “à terceira é de vez”. E, ao
terceiro filme, a francesa Céline Sciamma arranca uma das obras mais
inteligentes e certeiras que vemos este ano, naquela que é também a sua estreia
em salas portuguesas (às quais Naissance des Pieuvres, de 2007, e Maria-Rapaz, de 2011, nunca chegaram, o último tendo ido directo para video).
Subversão
procurada e inteligentíssima do “filme-manifesto social”, Bando de Raparigas recusa
toda e qualquer condescendência no seu retrato de uma adolescente dos subúrbios
parisienses cuja timidez esconde uma determinação brutal a escapar à condição a
que o “sistema” parece querer condená-la — condição feminina, condição
africana, condição de cidadã “de segunda classe” sem futuro nem saída.
Bando de Raparigas é um filme de descoberta e de criação
de uma identidade, de uma miúda que se faz mulher à nossa frente, contado com
uma energia e uma sensibilidade que viram de cabeça para baixo todos os
lugares-comuns a que o cinema social costuma prestar-se. Bastaria a célebre
cena do hotel ao som de Rihanna para nos convencer, mas este é um filme que faz
sentido como um todo inesgotável.
Jorge Mourinha, publico.pt
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