DIA 3 MAIO – IPDJ – 21H30

O ROSTO DA INOCÊNCIA
Michael Winterbottom
Reino Unido,  2014, 101', M/16

FICHA TÉCNICA
Título Original: Face of an Angel
Realização: Michael Winterbottom
Argumento: Paul Viragh, baseado no livro de Barbie Latza Nadeau   
Montagem: Marc Richardson
Fotografia: Hubert Taczanowski    
Música: Harry Escott         
Interpretação: Cara Delevingne, Kate Beckinsale, Daniel Brühl
Origem: Reino Unido
Ano: 2014
Duração: 101’

FESTIVAIS E PRÉMIOS
Festival Internacional de Cinema de Toronto – Selecção Oficial
Festival de Cinema de Londres – Selecção Oficial



NOTA DE INTENÇÕES
Embora este filme seja em grande medida inspirado nas circunstâncias reais em que se ocorreu o homicídio ainda não resolvido da estudante britânica Meredith Kercher em Perugia, em Novembro de 2007, O ROSTO DA INOCÊNCIA não é de modo algum uma história de crime ou uma reconstrução de factos. Não se centra na culpa ou na recriminação, mas sim na tentativa de compreender aquilo que este crime chocante e violento gerou.
É uma história sobre histórias. As histórias das famílias, histórias de pessoas que perderam alguém que amavam, ou porque morreram ou porque ficaram marcadas. As histórias dos media e a complexa multiplicidade das narrativas sobre a qual assenta uma tragédia como esta: histórias de julgamento, de empatia, de hipóteses, histórias que afirmam ser verdadeiras. Histórias de pessoas como nós: pessoas que se habituaram a ver o crime violento ser tratado como uma novela: nas notícias, na literatura, no cinema, no teatro e na música.
Mas, acima de tudo, é um filme sobre alguém que tenta contar aquela que é sempre a última a ser contada: a história da vítima.
Michael Winterbottom


FILMOGRAFIA 
BUTTERFLY KISS (Competição Oficial, Berlim 1995),
JUDE (Quinzena dos Realizadores 1996 e vencedor do Prémio Michael Powell no Festival de Edimburgo),
BEM-VINDO A SARAJEVO (Seleção Oficial, Cannes 1998)
LAÇOS FATAIS (Festival de Berlim 1998)
WONDERLAND (Seleção Oficial, Cannes 1999 e Prémio BIFA para Melhor Filme Britânico)
THE CLAIM (Festival de Cinema de Berlim)
24 HOUR PARTY PEOPLE (Seleção Oficial, Cannes, 2002)
NESTE MUNDO (Urso de Ouro, Berlim 2003)
CÓDIGO 46 (Festival de Veneza 2003)
9 SONGS – 9 CANÇÕES (Melhor Fotografia, Festival de San Sebastián 2004),
A COCK AND BULL STORY (Festival de Toronto 2005)
A CAMINHO DE GUANTÁNAMO (Urso de Prata, Melhor Realizador no Festival de Berlim 2006),
UM CORAÇÃO PODEROSO (Seleção Oficial, Cannes 2007), GÉNOVA (Melhor Realizador, San Sebastián 2008)
THE SHOCK DOCTRINE (Festival de Sundance 2009)
O ASSASSINO EM MIM (em Competição, Berlim 2010)
A VIAGEM (Festival de Toronto 2010, vencedor do BAFTA para Melhor Ator para Steve Coogan, nomeado para o BAFTA Television Award por Melhor Comédia, Vencedor do Prémio para Melhor Novo Programa de 2012, nomeação para os Prémios da Comédia para Rob Brydon)
TRISHNA (Toronto, 2011)
EVERYDAY (vencedor do prémio FIPRESCI para Melhor Filme, Festival de Estocolmo 2012)
O IMPÉRIO DO AMOR (Festival de Sundance 2013 e foi selecionado para a Berlinale)
A VIAGEM A ITÁLIA (Festival de Sundance, 2014)
O ROSTO DA INOCÊNCIA (Festival de Toronto, 2014 -Selecção Oficial e Festival de Cinema de Londres – Selecção Oficial)


NOTAS DA CRÍTICA
"Trata-se de um olhar de relance, esquivo e fantasmagórico, sobre o homicídio da estudante britânica Meredith Kercher em Itália, em 2007, um crime pelo qual, e do qual, os dois colegas estudantes Amanda Knox e Raffaele Sollecito têm sido condenados e ilibados ad infinitum desde então. Mas este é também um filme realizado por Michael Winterbottom (THE LOOK OF LOVE, 24 HOUR PARTY PEOPLE). Por isso, em vez de focar directamente o homicídio, Winterbottom e o argumentista Paul Viragh (SEX & DRUGS & ROCK & ROLL) apresentam-nos um realizador, Thomas (Daniel Brühl), que viaja até à cidade toscana de Siena para fazer uma pesquisa para um filme sobre o caso.Thomas defronta-se com um dispositivo mediático predatório e acaba à beira do esgotamento. Como qualquer esgotamento de um homem de meia-idade, este envolve um encontro (embora casto) com uma bela jovem, uma empregada de mesa inglesa, interpretada com um intenso charme por Cara Delevingne: a sua personagem simboliza a juventude assassinada por esta história, mas revela também o passado familiar algo fracturado de Thomas. As ligações estabelecidas em O ROSTO DA INOCÊNCIA são por vezes subtis. As cenas passadas nas ruas de Londres, quando Thomas se encontra com os produtores e potenciais financiadores, contrastam com o ambiente escuro e fantasmagórico que Winterbottom irá depois esconjurar em Siena. Mas todo o ambiente retratado, de desconhecimento, de confusão, de meias-verdades, encaixa perfeitamente no contexto de uma história real trágica que inspirou todo o tipo de histerias e de opiniões infundadas."
Time Out London




O LIVRO DE BARBIE LATZA NADEAU
Michael Winterbottom ficou chocado com as primeiras notícias dos acontecimentos do dia 1 de Novembro de 2007, quando o corpo da estudante britânica de 21 anos, Meredith Kercher, foi encontrado pela polícia italiana.
Contudo, em poucos dias, o rosto de Meredith foi sendo substituído por outro, nas notícias que vinham de Perugia. Rapidamente, as atenções desviaram-se da vítima para uma das pessoas acusadas do crime: Amanda Knox, uma jovem americana de 20 anos. O rosto de Knox passou então a dominar as manchetes nos dois anos que se seguiram.
Ao ver o desenrolar desta trágica novela nos media, Winterbottom questionava-se por que motivo teria o público ficado agarrado a esta história. Enquanto realizador, a sua atenção sempre se virara para histórias com algum sentido de contemporaneidade e de urgência, com especial destaque para o seu docudrama aclamado de 2006, A CAMINHO DE GUANTÁNAMO, sobre a captura de três muçulmanos britânicos – The Tipton Three – sob as leis anti-terroristas americanas. Curioso por saber mais sobre o caso de Meredith Kercher, Winterbottom pegou num dos primeiros de uma série de livros escritos sobre o assunto: ANGEL FACE de Barbie Latza Nadeau, publicado em 2010.
“O ponto de partida, para mim, foi exactamente esse: porque é que casos como este captam a imaginação do público?”, diz Winterbottom, “E o caso de Meredith Kercher era um exemplo extremo disso mesmo. Penso que há mais de dez livros escritos sobre o tema e, obviamente, toneladas de artigos de jornal e de peças jornalísticas de TV; já se fizeram telefilmes, documentários... É uma versão extrema, mas de certa forma é mesmo só uma versão extrema do que acontece em geral, ou seja, as pessoas passam imenso tempo a ver ou a ler notícias sobre crimes. Sobre crimes violentos, em particular, e sobre crimes sexuais violentos ainda mais. Por isso, penso que talvez o livro de Barbie, e com a Barbie como personagem, fosse uma forma de fazer um filme que, em parte, fosse uma reflexão sobre o motivo pelo qual despendemos todos tanto tempo a ler sobre crimes.”
Winterbottom e a sua assistente de produção, Melissa Parmenter, adquiriram imediatamente os direitos do livro de Nadeau, e o primeiro porto de escala do realizador foi Roma, onde se encontrou com a autora, uma escritora americana instalada em Itália. Isto foi no Inverno de 2011, na altura em que Knox e Sollecito interpuseram recurso.
“Eu diria,” nota Winterbottom, “que o ponto de partida para o filme foi na verdade o mundo que encontrei ali – o mundo que rodeava a investigação e o julgamento, especialmente o dos jornalistas que estavam a fazer a cobertura da história.”
“Quis mostrar que os jornalistas, que por vezes quase se esganam para ter o exclusivo de uma notícia, quase se tornaram numa família ao longo desta história. Isso é muito raro no meio jornalístico em geral. Também somos humanos. Unimo-nos para cobrir uma história que era realmente difícil de cobrir e zelámos uns pelos outros, mesmo estando sempre, basicamente, a competir uns com os outros.”
“Quando conheci o Michael,” recorda Nadeau, “este mostrou-se muito interessado em honrar as vítimas, em garantir que a história de Meredith Kercher não se perdia em nenhum detalhe do filme. Os detalhes do caso acabaram por ser um trampolim para o Michael, uma inspiração para contar uma história mais abrangente, usando aqueles detalhes terríficos como cenário no qual as personagens principais poderiam reflectir sobre a tragédia, em vez de usar a tragédia para contar a história.”
Nadeau, por seu turno, reconhece que esta história teve com um efeito bola de neve rápido e fulgurante. “Num caso vulgar de homicídio, o homicida, a vítima, a arma e os suspeitos são os únicos elementos envolvidos. Mas neste caso, em particular, envolveu-se a família de cada interveniente, os próprios jornalistas tornaram-se parte da história, toda a gente, de alguma forma, se tornou parte da história. E foi assim que a situação escapou ao nosso controlo.”

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