CAROL
Todd Haynes
EUA/FRA/GB, 2015, 118’, M/12
FICHA TÉCNICA
Realização:Todd Haynes
Realização:Todd Haynes
Argumento: Phyllis Nagy, baseado na obra “O Preço do Sal”, de Patricia Highsmith
Fotografia: Edward Lachman
Montagem: Affonso Gonçalves
Música: Carter Burwell
Montagem: Affonso Gonçalves
Música: Carter Burwell
Interpretação: Cate Blanchett, Rooney Mara, Kyle Chandler, Sarah Paulson, Jake Lacy
Origem: EUA/FRA/GB
Origem: EUA/FRA/GB
Ano: 2015
Duração: 118’
PRÉMIOS E FESTIVAIS
PRÉMIOS E FESTIVAIS
Globos de Ouro - 5 Nomeações
Óscares – 6 Nomeações
CRÍTICA
Adaptando
Patricia Highsmith, Todd Haynes encontra um equilíbrio feliz entre o seu
formalismo fetichista e a solidez de uma história feita à medida de duas
actrizes em estado de graça.
Logo na
primeira cena de Carol, o ombro de Rooney Mara é tocado por duas vezes: a
primeira por uma mulher, Cate Blanchett, a segunda por um homem, Trent Rowland.
A câmara de Todd Haynes concentra-se no modo como as mãos tocam no ombro de
Mara e como ela lhes reage, e ao fazê-lo explicam como Carol vai ser um filme de
detalhes que simbolizam algo de maior, que definem uma personalidade; uma
história de subtis tremores que têm de ser mantidos escondidos, íntimos, para
não perturbar a sociedade americana dos anos 1950. Curiosamente, Carol é uma produção inglesa
– e nem é assim tão surpreendente que o seja, visto que esta adaptação de um
romance de Patricia Highsmith é a história de uma paixão proibida que subverte
o status quo
social, patriarcal, classista, entre uma mulher mais velha, bem casada e
afluente, e uma mulher mais jovem de classe trabalhadora.
Nesse
mesmo movimento, contudo, Carol inscreve-se de armas e bagagens na linhagem do
cinema fetichista do americano Todd Haynes, que regressa aqui à lógica da women’s picture dos anos
1950 depois do delírio Sirkiano de Longe
do Paraíso (2002) e da sua remake
televisiva de Mildred Pierce
(2011). Haynes é um glorioso formalista para quem o estilo foi sempre a “porta
de entrada” para a essência do seu cinema. Deleita-se na reconstituição
perfeita da Nova Iorque e dos subúrbios americanos dos anos 1950 com um
impressionismo que não raras vezes remete para Hopper (a fotografia de Ed
Lachman é um mimo), delicia-se com a obliquidade de ver as suas personagens
prisioneiras ou observadoras, impotentes ou transgressoras, por trás de
janelas, vidraças, arcadas, espelhos, mas sempre à distância. A diferença é
que, em Carol,
esse formalismo, sendo central para um filme onde as fachadas constrangem e
aprisionam as personagens, não é o seu centro nem afoga tudo o resto. São os
olhares, os gestos, as expressões que dizem tudo.
Haynes
sempre foi um excelentíssimo director de actores e, sobretudo, de actrizes
(basta lembrar Julianne Moore em Seguro
e Longe do Paraíso),
e Carol vê esse
talento atingir o seu zénite. São as actrizes quem dá o embalo a este “amor que
não ousa dizer o seu nome”: Cate Blanchett é absolutamente imperial no papel de
Carol, prisioneira das aparências de uma sociedade patriarcal, simultaneamente
sedutora predatorial, mãe-coragem, vítima; Rooney Mara talvez nunca tenha
estado tão bem como na sua Thérèse tacteante, hesitante, entre o desejo e a
segurança. Acima de tudo, é por elas e pela atenção que Haynes dá à sua
presença física que Carol
tem uma gravitas,
um peso que os seus anteriores filmes, demasiado conceptualizados ou
estilizados, nem sempre atingiam. É um caso feliz de encontro entre um cineasta
e um filme que lhe pede o que ele tem de melhor – e que ele dá, sem problemas.
Jorge Mourinha , publico.pt
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