Dia
28 de Dezembro diz-lhe alguma coisa?
A
28 de dezembro de 1895 – exactamente há 121 anos -, a invenção dos irmãos
Lumière, o Cinematógrafo, via “a luz da noite”, numa primeira sessão em que 33
pessoas pagaram bilhete atraídos por um cartaz que anunciava a nova invenção e
10 “ temas atuais”. Foram assim os primeiros espetadores de cinema – deslocação
à sala escura, pagando um bilhete para descobrir o “ milagre” das imagens em
movimento.
É
esse “milagre” da invenção do cinema que o Cineclube de Faro comemora pelo
segundo ano consecutivo, homenageando a História do cinema num dia repleto de
sessões.
Escolher
4 filmes para 4 sessões ao longo do dia não é tarefa fácil, tal a profusão de obras
que nos ocorrem, ao longo de 121 anos de História.
A
nossa seleção pretendeu diversificar a proveniência dos filmes e incidir na
autoria. É missão de um Cineclube divulgar cinema e formar públicos e a
história do CCF teve sempre essas balizas. Daí os 4 filmes que escolhemos:
De
manhã, para público de todas as idades, As sete ocasiões de Pamplinas de Buster
Keaton, o cómico que nunca se ria e por isso, ao não modificar a sua expressão, permitia que o
espectador pudesse projetar nele tudo o que ele estava a viver.
Depois
do almoço, A noiva estava de luto do agitador da Nouvelle Vague François
Truffaut, a revisitar o género do “ film noir” e a influenciar Tarantino no
futuro Kill Bill.
Ao
fim da tarde, o cinema Italiano e o mestre Michelangelo Antonioni com o
primeiro filme em que se utilizou o vídeo - O Mistério de Oberwald, a retomar um
argumento e o filme A águia de duas cabeças de Jean Cocteau.
À
noite, o grande cinema soviético com um filme que não teve estreia comercial em
Portugal - À beira do mar azul de Boris Barnet, apelidado de poeta cinema russo
e mencionado como um dos grandes autores do século XX de que esta terna comédia
é expoente máximo.
Finalmente,
depois deste último filme, espaço para uma tertúlia onde debateremos o papel do
Cineclubismo – ontem, como hoje e amanhã.
Numa
análise mais pormenorizada constatamos algumas semelhanças nas escolhas destes
4 filmes: o tema do “eterno feminino”, o cinema como vanguarda, as novidades
tecnológicas. E também diferenças: 4 nacionalidades, diversificação de géneros e
tipos – da comédia, ao “ film noir” e também ao melodrama, do cinema não sonoro
ao cinema sonoro, da fotografia a “ preto e branco” à cor, das adaptações
literárias aos argumentos originais, para além de autores que trabalharam no
sistema (Buster Keaton) ou foram eles próprios vanguarda (Truffaut, Antonioni)
ou incompreendidos no seu tempo (Barnet). Do cinema mais visto, ao que circulou
principalmente para os cinéfilos, até ao mais secreto e quase invisível (À
beira do mar azul).
Apresentamos
o cinema na sua multiplicidade e constatamos traços de continuidade.
Há
121 anos, os Irmãos Lumière inventavam o cinematógrafo, que consideraram “uma
invenção sem futuro”.
O futuro revelou que o cinema foi inventado para ser
eterno.
11h – AS 7 OCASIÕES DE PAMPLINAS, Buster Keaton. US: 1925. 56’ (M/6)
Uma das mais
perfeitas obras-primas de Buster Keaton, que leva um dos temas narrativos
centrais do cinema burlesco, a perseguição, à altura da grande arte. Buster é
um jovem que recebe a notícia que tem de se casar antes das sete horas da noite
daquele mesmo dia, para herdar uma grande fortuna. Mas a sua namorada acaba de
romper com ele. Buster põe um anúncio no jornal, explicando a situação e vai
para a igreja. Surgem centenas de mulheres (quinhentas, segundo os
especialistas), todas decididas a casar-se com ele. Buster desata a correr,
perseguido pela multidão de mulheres, de todos os tamanhos e feitios, todas
vestidas de noiva, (as "noivas enlouquecidas" do título francês do
filme), pelas ruas da cidade e depois pelos campos.
14:30 – A NOIVA ESTAVA DE LUTO, François Truffautt. FR: 1967. 107’ (M/12)
Adaptação do
romance "The Bride Wore Black", de um dos autores policiais favoritos
de Truffaut, Cornel Woolrich/William Irish, "La Mariée Était En Noir"
é a história da vingança de uma mulher sobre vários homens responsáveis pela
morte do seu noivo no dia do casamento.
EVENTO
17h – O MISTÉRIO DE OBERWALD, Michelangelo Antonioni. IT: 1981. 129’ (M/16)
Adaptação de Antonioni da peça
"L''Aigle à Deux Têtes" de Jean Cocteau, que este último já filmara
em 1947. A história de uma rainha viúva, que recolhe nos seus aposentos um
jovem anarquista perseguido pela guarda, devido à sua prodigiosa semelhança com
o defunto rei, e que vão viver três dias de um amor impossível.
21:30 – À BEIRA DO MAR AZUL, Boris Barnet. URSS: 1933. 71’ (M/12)
Este filme é, como a generalidade da obra deste cineasta soviético, um melodrama aparentemente "leve", de um lirismo magistral: dois jovens pescadores de um kholkoze apaixonam-se pela mesma rapariga, tornando-se rivais até um desconcertante final. Uma sequência imortal: a "ressurreição" da protagonista. Um autor a descobrir e a festejar.
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