Ciclo do mês
Encantos e
desencantos conduzem o ciclo do mês de fevereiro, no Cineclube de Faro.
Começamos pelo
amor e os que o procuram incessantemente. Em O Meu Belo Sol Interior, Juliette Binoche veste a pele de uma
pintora parisiense, culta e sofisticada, cujo divórcio conduz a aventuras
várias com homens muito diferentes – dela e entre si. A indecisão da
protagonista Isabelle sobre o que
realmente sente em cada um destes encontros pode ser entendida à luz de Fragmentos de um Discurso Amoroso, o
ensaio de Roland Barthes sobre os mitos que definem historicamente o amor e o
tornam inspiração para a arte. Filosofar em filme a partir de obras escritas é,
de resto, uma constante na obra da cineasta francesa Claire Denis – autora de Beau Travail (1999) e 35 Shots of Rum (2008) –, um nome
promissor do cinema europeu, dividido entre a marginalidade das bilheteiras e
os aplausos da crítica.
Olhares Lugares é o encontro feliz entre o documentário de
Agnès Varda e a fotografia de Jean René. Separados por gerações mas unidos na
paixão pela imagem e tudo o que lhe diz respeito, a dupla provável de autores
decide cruzar experiências nas artes visuais – Agnès é um dos nomes maiores da nouvelle vague francesa, enquanto JR
cria instalações ao ar livre e tem milhões de seguidores virtuais no
Instangram. O filme acompanha a viagem de ambos pelas obras de cada um, bem
como o nascimento de uma bonita amizade.
Pelos olhos de uma
criança, Sean Baker conta-nos a estória de The
Florida Project. A longa-metragem dramática do realizador de Tangerine (2015) estreou na última
edição do Festival de Cannes e garantiu a Willem Dafoe mais de 15 prémios e uma
nomeação para Óscar de melhor ator secundário. O filme contém partes gravadas
em iPhone e aborda, de forma humanizada, o lado menos turístico de Orlando (Florida),
através das peripécias de uma família disfuncional.
Vencedor do prémio
de melhor atriz para Diane Kruger, em Cannes, e Globo de Ouro para melhor filme
estrangeiro, Uma Mulher Não Chora
fala de luto e vingança, em plena Turquia. O realizador Fatih Akin,
turco-germânico, evoca a sua dupla identidade nacional num thriller intenso, em que uma mulher alemã se vê obrigada a vingar a
morte do marido, turco, assassinado por um grupo de neonazis.
A emoção das
descobertas nucleares em pleno auge soviético – eis Nove Dias de Um Ano. O clássico de Mikhail Romm, mentor de Andrei
Tarkovsky e Grigory Chukhray, foi rodado em 1962 e é o próximo título do
ciclo Ventos de Leste, dedicado ao
centenário da Revolução Russa. Trata-se de um dos mais importantes filmes de
regime, considerado (à época) inovador pela cenografia e pelo som.
Um jovem pássaro
ensina aos mais novos o verdadeiro significado de família. Richard é um pardal que, por engano, nasce num ninho de cegonhas e
é criado por estas. Quando os pais e irmãos percebem que chegou o momento de
voar para África, para fugir do frio iminente, o pequeno herói decide contrariar
a sua natureza e acompanhá-los na viagem.
O filme de animação de Toby Genkel e Reza Memari é uma co-produção internacional e estreou-se em 2017 no Festival
de Berlim.
Aos sábados à tarde, uma vez por
mês, o Cineclube de Faro cruza as artes do espectáculo. A escolha de fevereiro
é Bruscamente, no Verão Passado – uma
adaptação da peça de Tennessee Williams por Joseph L. Mankiewicz, na qual uma
viúva rica tenta fazer uma lobotomia à sobrinha, como vingança pela morte do
filho amado. O trabalho do realizador não agradou o dramaturgo, mas brindou o
público com as interpretações memoráveis de Elizabeth Taylor e Katharine Hepburn
nos principais papéis.
O ciclo de
cine-concertos nas igrejas do Algarve tem a sua próxima soirée na Igreja de Santiago, em Tavira, com a projecção de O Vento.
Realizado pelo mestre sueco Victor Sjorstorm, em1928, é um dos últimos
filmes mudos produzidos pela Metro-Goldwyn-Mayer. Será acompanhado ao piano por
Filipe Raposo, quem tem no seu currículo colaborações musicais com Sérgio
Godinho, Fausto e Ana Moura.
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