na SEDE. entrada LIVRE. chá, café e BOLINHOS. e 25 cadeiras! AMOR CÃO, de Iñarritu é 4ªf, dia 9, 21h30.

Uma revisitação da obra de Alejandro González Iñárritu a propósito do seu recente Biutiful – a qualidade dos três primeiros filmes devia-se aos argumentos de Guillermo Arriaga ou Iñarritu vale por si mesmo?


Sinopse
Três histórias. Três mundos ligados por um brutal acidente de carro. Octávio deseja fugir com Susana, mulher de seu irmão. O seu cão Cofi é o meio mais cruel de conseguir dinheiro para a fuga. Uma fuga onde o amor proibido é um caminho sem regresso. Daniel, um homem de 42 anos, deixa as mulheres e as filhas para ir viver com Valeria, uma bela modelo. No dia em que celebram a nova vida juntos, Valeria envolve-se num brutal acidente, que leva o casal a descer ao seu Inferno pessoal, onde o amor é o desespero. El Chivo, um vagabundo, aproxima-se do acidente e resgata Cofi, de quem trata e cura. Um assassino profissional libertado de um passado doloroso e da sua amargura. Três histórias, três mundos, uma pergunta... O que é o Amor?


Iñarritu parece ter colhido a capacidade de subjugar todos os aspectos técnicos a um objectivo máximo e arriscado: retratar uma realidade, dura e crua, à luz dos mais profundos valores, aqui liderados pelo princípio do amor. O primeiro índice de sucesso deste mútuo compromisso, de realidade e transcendência, revela-se em Cannes onde, não obstante os protestos levantados pela extrema violência exposta nas cenas de luta de cães - uma tradição e um negócio profundamente enraizados na cultura mexicana - lhe é atribuído o Prémio Canal +, sagrando-se também Melhor Filme da Semana da Crítica. a «Amor Cão» foram já atribuídos os Prémios Hugo de Ouro para Melhor Filme e e Hugo de Prata para Melhor(es) Actor(es) em Chicago, a que se juntam a eleição como Melhor Filme e Melhor Realização nos festivais de Edimburgo, Flandres, Havana, Tóquio, e mais recentemente em Portugal, no Fantasporto. Foi ainda nomeado para o Oscar na categoria de Melhor Filme de Língua Estrangeira.
.
Margarida Neves, netc.pt


Três contos interligam-se na Cidade do México. O primeiro capítulo, “Octávio e Susana”, mostra um jovem apaixonado pela cunhada, a qual quer salvar da brutalidade do marido, irmão dele, à conta do dinheiro ganho em lutas de cães. A segunda história, “Daniel e Valéria”, relata o relacionamento de um homem que deixa a mulher para ir viver com a amante, uma modelo famosa. A casa está ainda em obras e um buraco onde o seu cachorrinho cai, começa por ter uma presença algo humorística e um pouco surreal, evoluindo posteriormente para as complicações de uma relação conjugal que parecia perfeita. A última história, “O Vadio e Maru”, centra-se num ex-revolucionário que trabalha como assassino contratado e que recolhe cães abandonados. O Vadio procura agora reatar contacto com a família que abandonou. As três histórias cruzam-se num violento acidente automóvel.

A primeira longa metragem de González Iñárritu é muito específica quanto ao cenário e às suas personagens, mantendo-se, simultaneamente, como uma obra que poderia ter sido produzida em qualquer outro continente. O estilo narrativo não é, de todo, original, nem isso tem que ser apontado como defeito. Ultimamente temos assistido a um certo recrudescimento de filmes de duas horas e meia ou três horas, recheados por uma multitude de personagens e integrados num argumento relativamente complexo. Tal é o caso de «Magnolia» (1999) ou «Traffic» (2000), em exibição comercial ao mesmo tempo que o filme mexicano (e, por coincidência, onde o país sul-americano também tem uma grande importância). Estas obras exigem maior dedicação dos cineastas no que toca ao texto e ao trabalho com os actores (quantos mais personagens, mais difícil se torna o trabalho de interessar o espectador pelos seus destinos) ou à montagem, e, por outro lado, talvez resultem em menos stress noutros departamentos (por exemplo, efeitos especiais não costumam ser uma componente muito relevante).

O texto de Guillermo Arriaga não se esforça por se “armar em inteligente”. A estrutura permite a interacção dos três segmentos, com algumas quebras da linha temporal, necessárias a recuperar o fluxo dos acontecimentos, sempre que se transita de um para o outro, mas não há um recurso abusivo de revelações e resoluções, através de elementos presentes numa história, que remetem para outra, ou de subversões da continuidade narrativa, de que pode ser exemplo o final de «Pulp Fiction» (1994) de Tarantino.

A estruturação não procura assim ser revolucionária. O realizador coloca o acento tónico nas personagens e no impacto das diversas histórias. Apresentando indivíduos em campos sociais opostos, várias faces de um México moderno, González Iñárritu, dedica-se de igual modo a todos eles, permitindo que a estratificação de «Amores Perros» não resulte numa quebra do nosso interesse.

A utilização de cães, como pano de fundo da(s) história(s), não passa de um “McGuffin”. São os cães, e a dedicação dos seus donos, que despoletam acontecimentos trágicos, violentos; que aproximam casais ou que provocam o desagregar das suas relações. Estes “amores” manifestam-se das formas mais peculiares, como no caso de Octavio que usa Cofi em combates, que movimentam vastas somas de dinheiro em apostas, e onde o final é frequentemente a morte do canídeo derrotado. Estas cenas são filmadas de modo extremamente brutal, tendo sido assegurado pela produção de que a violência foi simulada. Se nos EUA a idoneidade da entidade que supervisiona a participação de animais no cinema (American Humane Association) foi recentemente posta em causa, por uma reportagem da ABC, já no Reino Unido a dúvida quanto a esses procedimentos pode levar a cortes automáticos, impostos por lei.
.
cinedie

Uma pequena grande proeza: uma primeira obra mexicana que chega à nomeação para o Oscar de melhor filme estrangeiro. O dispositivo — três histórias cruzadas a partir de uma cena comum (o acidente de automóveis) — não é propriamente original e há, obviamente, no cinema recente, exemplos maiores da sua aplicação («Magnolia», of course...). Seja como for, há no trabalho de Alejandro Gonzalez Iñarritu uma paixão realista que empresta a «Amor Cão» uma invulgar vibração física e dramática, em especial na primeira das histórias. Sublinhe-se, em particular, a apresentação da Cidade do México como um labirinto gigantesco de acontecimentos que, quando «ampliados», exprimem um radical sentido trágico. Alguns grandes actores são complemento vital para o impacto do filme.
João Lopes, cinema2000



Título Original: Amores Perros
Realização: Alejandro González Iñárritu
Argumento: Guillermo Arriaga
Interpretação: Emilio Echevarría, Gael García Berna, Goya Toledo, Alvaro Guerrero, Vanessa Bauche,
Jorge Salinas, Marco Pérez, Rodrigo Murray, Humberto Busto, Gerardo Campbell
Direcção de Fotografia: Rodrigo Prieto
Montagem: Luis Carballar, Alejandro González Iñárritu e Fernando Pérez Unda
Música: Gustavo Santaolalla
Origem: México
Ano de Estreia: 2000
Duração: 147’
.

Sem comentários: