DIA 05 DE NOVEMBRO
FICHA TÉCNICA
Título Original: Dans la
Maison
Realização: François Ozon
Argumento: Juan Mayorga,
François Ozon
Montagem: Laure Gardettte
Música: Philippe Rombi
Interpretação:
Fabrice Luchini, Kristin Scott Thomas, Vincent Schmitt, Ernst Umhauer,
Emanuelle Seigner, Denis Ménochet
Origem: França
Ano: 2012
Duração : 105’
TRAILER aqui!
SINOPSE
Claude Garcia, um jovem estudante de 16
anos, imiscui-se em casa de um colega de turma com intenção de observar a sua
família e usá-la como inspiração para a sua escrita. Quando o ano lectivo se
inicia, Germain, o professor de literatura francesa, percebe, através dos
trabalhos que pede aos alunos, que aquele rapaz é possuidor de um dom raro.
Apesar de introvertido e solitário, a sua personalidade cativa o professor, que
considera que as obras literárias por ele criadas possuem uma força fora do
comum, que vai muito além da sua idade ou maturidade. Porém, com o passar do
tempo, os textos começam a revelar o seu lado "voyeurista" e
perverso, com detalhes cada vez mais explícitos sobre a vida privada da família
em questão. Dividido entre a decisão de o denunciar ou de o encorajar a
continuar, o professor entra num perigoso jogo que porá em causa algo mais do
que a sua carreira ou reputação.
CRÍTICA
"O que é, afinal, uma
narrativa? Interrogação antiga que, nos tempos que correm, conduz a uma
imediata problematização da "transparência" da televisão. Porquê?
Porque as linguagens dominantes no espaço televisivo tendem a produzir uma
máscara de ingenuidade: não haveria narrativa (entenda-se: responsabilização
pelas imagens e sons) porque a televisão não seria mais do que uma
"transcrição" passiva do mundo à nossa volta... Faz sentido, por
isso, aconselhar o filme Dentro de Casa, do francês François Ozon, a todos os
que, dentro ou fora da televisão, tentam promover uma noção pueril, não apenas
do labor televisivo, mas de todo e qualquer dispositivo narrativo.
Dentro de Casa é um dos
filmes mais subtilmente divertidos que, em meses recentes, chegou às salas
portuguesas: uma espécie de perverso teatro de vaudeville sobre os prós e contras
da arte narrativa. E, para mais, colocando em cena as vicissitudes da escola
contemporânea. Tudo se passa, então, a partir da experiência de Claude (Ernst
Umhauer), um aluno de 16 anos cuja qualidade de escrita começa a impressionar o
seu professor de Francês, Germain (Fabrice Luchini). Empenhado em desenvolver o
talento de Claude, Germain incita-o a uma observação cada vez mais apurada da
realidade por ele escolhida. Acontece que essa realidade é nada mais nada menos
que o quotidiano familiar de um outro aluno... Claude entrega-se com tal
dedicação à sua tarefa que, a pouco e pouco, Germain começa a ficar algo
perturbado (ainda que sempre seduzido) pelas componentes voyeurísticas da prosa
do seu pupilo.
O ponto de partida de
Dentro de Casa é a peça O Rapaz da Última Fila, do espanhol Juan Mayorga (já
encenada entre nós pelos Artistas Unidos), que o próprio Ozon transformou em
argumento cinematográfico. Assumindo-se como discípulo de uma radiosa tradição
que passa por autores como o francês Jean Renoir ou o alemão Ernst Lubitsch, o
cineasta consegue criar uma contagiante vertigem que, em última instância,
discute as alianças entre realidade e desejo, percepção e imaginação, que
qualquer narrativa envolve. O génio de Ozon passa pela forma como contorna a pergunta
mais básica: afinal, aquilo que Claude conta nos seus textos é
"verdade" ou "mentira"? Germain vai descobrindo (e nós
vamos descobrindo com ele) que tal dicotomia é francamente insuficiente para
lidar com o que está a acontecer. Porquê? Porque a escrita emerge como uma nova
forma de poder no interior da realidade em que é lida.
Daí a espantosa
atualidade política de Dentro de Casa. Através das suas peripécias,
reencontramos o trabalho do narrador como um gesto primordial do próprio ser
humano. Contar/escrever/partilhar uma história não é uma
"transcrição" do mundo, antes o seu alargamento para novos parâmetros
da realidade. Delicioso escândalo: na civilização das imagens, um filme que
celebra o poder das palavras."
João Lopes, dn.pt/
"(...)Mais uma vez Ozon
consegue juntar um bom leque de atores e atrizes. Os enquadramentos e os
movimentos dos atores levam-nos para o lugar de uma peça de teatro. “Dentro de
Casa” é um filme imperdível que nos envolve por completo na intriga. É também o
melhor do cinema francês a estrear nas nossas salas de cinema, pelo menos até
agora."
Tiago Resende, Cinema7arte.com/
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