UMA FAMÍLIA RESPEITÁVEL| Massoud Bakhshi| 2012 | 15.10.13 | Auditório do IPDJ, 21:30

DIA 15 DE OUTUBRO
UMA FAMÍLIA RESPEITÁVEL, Massoud Bakhshi, Irão/França, 2012, 90’

FICHA TÉCNICA
Título Original: Yek Khanévadéh-e Mohtaram
Realização: Massoud Bakhshi
Argumento: Massoud Bakhshi
Interpretação: Babak Hamidian, Mehrdad Sedighian, Mehran Ahmadi
Origem: Irão/França
Ano:2012
Duração:90’

SINOPSE
Arash é um jovem académico que vive no Ocidente. Regressa ao Irão para dar aulas em Shiraz, uma cidade longe de Teerão onde a mãe vive. Arrastado para uma série de dramas familiares e financeiros, enfrenta um país que agora lhe é estranho. Na sequência da morte do pai e ao descobrir aquilo em que a sua “família respeitável” se transformou, vê-se forçado a fazer escolhas.


TRAILER

NOTAS DOS REALIZADOR
Pertenço à geração que sobreviveu aos oito longos e mortíferos anos da guerra Irão-Iraque.
Atualmente, esta geração representa três quartos do país. O Irão tem uma das populações mais jovens do mundo – jovens formados, cheios de curiosidade e desejo de viver. Jovens que sonham com um Irão tolerante e aberto ao resto do mundo.
Para mim, o Irão é incompreensível se não levarmos em conta a sua história dos últimos 30 anos. Não inventei a história de UMA FAMÍLIA RESPEITÁVEL, a história é verdadeira – é a história da minha infância após a revolução de 1979, da minha adolescência durante a guerra e da minha experiência em Teerão dos dias de hoje.


(…)O cinema iraniano cada vez mais produz filmes que, em lugar de exibirem um certo apaziguamento, demonstram, sem cólera nem rancor, o rosto tenso do Irão. Mostram o desejo de fazer de um país que ganhámos o hábito de estereotipar excessivamente o terreno para grandes histórias universais. UMA FAMÍLIA RESPEITÁVEL faz parte disso. É, antes de mais, um filme de máfia construído com rigor, e filmado num ritmo espantosamente meditativo. Sob o olhar de Arash, desenvolve-se a ascensão do seu sobrinho sem escrúpulos. Arash acredita na simpatia de Hamed e afeiçoa-se a ele, enquanto que a única motivação do jovem é impedi-lo de tocar na herança do pai.
Além do interesse pela mecânica do poder, sente-se a preocupação do realizador por uma dissolução dos valores morais que vêem uma jovem geração afastar-se daquilo que era sagrado há uma ou duas gerações sacrificando-o pelo dinheiro – o único novo valor. Mas, mais uma vez, a observação crítica de um capitalismo devorador é apenas uma pista entre muitas, e o dinheiro é um sintoma horrível de uma degenerescência bem maior.
Filme de máfia, metáfora social, UMA FAMÍLIA RESPEITÁVEL lê-se como mito contemporâneo. À semelhança das antigas grandes dinastias, encena a falha de um homem transferindo o peso de uma maldição para as gerações seguintes. Aqui, é a fractura da célula familiar – o pai de Arash engravida uma outra mulher – que cinde toda a descendência em dois ramos malditos. De um lado, as vítimas (Arash e o seu irmão mártir), e do outro, os torcionários (Jafar, o filho ilegítimo, e o seu filho Hamed). Como o herói persa de onde retira o seu nome, como Édipo ou Orestes, Arash recusa submeter-se ao destino que lhe impõem. Esse destino, todavia, já não é testemunha das inquietudes originais do mundo, mas antes da sua evolução em sentido contrário ao de toda a mística.
O derradeiro refúgio, a última referência de Arash com valor, são as mulheres que o rodeiam. Bem antes de ele conseguir perceber a armadilha, elas já adivinharam. Elas continuam a lutar por aquilo que os homens parecem ter desistido de defender: a integridade, o respeito pelo outro, a família. Desejoso de mostrar que já não se trata de trabalhar um arquétipo feminino, é às mulheres do seu país que Massoud Bakhshi dedica o seu filme. Mas esta discrição fundamental faz sentido: é preciso colocar a esperança naquelas e naqueles usam as palavras e os gestos com parcimónia, mas que estendem o braço para impedir a queda daqueles que caminham em frente e falam alto.
Noémie Luciani – Le Monde





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