LUMINITA
André
Marques, Portugal, 2013, 20’
LEVIATÃ
Andrey
Zvyagintsev, Federação Russa, 2014, 140’, M/14
FICHA
TÉCNICA
Título
Original: Leviafan / Leviathan
Realização: Andrey Zvyagintsev
Argumento: Oleg Negin, Andrey Zvyagintsev
Imagem: Mikhail Krichman
Som: Andrey Dergachev
Realização: Andrey Zvyagintsev
Argumento: Oleg Negin, Andrey Zvyagintsev
Imagem: Mikhail Krichman
Som: Andrey Dergachev
Interpretação: Alexey Serebryakov, Roman Madyanov , Vladimir
Vdovichenkov, Elena Lyadov, Sergey Pokhodaev
Ano:
2014
Origem: Federação Russa
Duração: 140´
Origem: Federação Russa
Duração: 140´
FESTIVAIS E
PRÉMIOS
Festival de Cannes – Prémio Melhor Argumento
Golden Globes – Nomeado para Melhor Filme Estrangeiro
Oscars – Candidado da Rússia na categoria de Melhor Filme Estrangeiro
European Film Awards – Nomeado para Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento e Melhor Actor
Festival de Cinema de São Paulo – Prémio da Crítica Internacional
Festival Internacional de Sevilha – Prémio de Melhor Fotografia
Golden Globes – Nomeado para Melhor Filme Estrangeiro
Oscars – Candidado da Rússia na categoria de Melhor Filme Estrangeiro
European Film Awards – Nomeado para Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento e Melhor Actor
Festival de Cinema de São Paulo – Prémio da Crítica Internacional
Festival Internacional de Sevilha – Prémio de Melhor Fotografia
CRÍTICA
Grande filme de Andrey Zvyangintsev: uma parábola
filosófica numa cidade russa onde a fragilidade do Bem depara com a insídia do
Mal.
É bem
verdade que muitas experiências cinematográficas dos nossos dias, enraizadas
nos mais diversos contextos geográficos e culturais, apostam na revalorização
de algumas formas de realismo. [...] Leviatã, distinguido na
competição oficial com o prémio de melhor argumento, é mais um exemplo
brilhante do trabalho do russo Andrey Zvyagintsev, autor que, apesar das
limitações de oferta do nosso mercado, não deixa de ser um nome conhecido dos
espectadores portugueses — duas das suas anteriores três longas-metragens (O
Regresso e Elena, respectivamente de 2003
e 2011), foram vistas nas nossas salas.
A
dimensão realista de Leviatã provém da minúcia obsessiva com que
Zvyagintsev contempla as atribulações públicas e privadas dos habitantes de uma
pequena cidade da Rússia. Curiosamente, a origem do projecto está ligada à
descoberta de uma história americana. Foi em 2008, durante a rodagem da
curta-metragem Apocrypha (para
o filme de episódios New York,
I Love You, em cuja montagem final acabaria por não surgir), que
Zvyagintsev tomou conhecimento da saga de Marvin
Heemeyer (1951-2004), um soldador
do Colorado que, por causa de uma disputa pelos terrenos onde se situava a sua
oficina, se envolveu num confronto brutal com as autoridades.
Zvyagintsev
ficou impressionado com tal relato (as suas inusitadas formas de violência
tiveram imenso impacto mediático na sociedade americana), a ponto de sugerir ao
seu amigo e colaborador
Oleg Negin a possibilidade de escreverem um argumento que
funcionasse como uma “versão” russa do caso de Heemeyer. Escusado será dizer
que as peripécias da história de Leviatã são muito diferentes. O certo é que a
personagem central de Kolya (Alexei Serebriakov) vive também uma experiência de
confronto com as autoridades, em particular com Vadim (Roman Madyanov), um
presidente da câmara corrupto que tenta apropriar-se da casa onde o
protagonista vive com Lilia (Elena Lyadova) e Roma (Sergey Pokhodaev), filho do
primeiro casamento de Kolya.
A
certa altura, a construção de Leviatã superou por completo a sua primeira
inspiração. Como o próprio Zvyagintsev explicou, o trabalho com Negin veio a
integrar influências muito diversas, desde a história bíblica de Job até
às considerações sobre o contrato social e os fundamentos da governação
política desenvolvidas no séc. XVII pelo filósofo inglês Thomas Hobbes,
nomeadamente no seu Leviathan.
Daí a
sensação paradoxal que o filme de Zvyagintsev talvez não possa deixar de
desencadear. Por um lado, Leviatã é um objecto que possui o fôlego de uma
perturbante parábola moral e filosófica: o Bem e o Mal estão presentes num
confronto dramático que contamina todas as formas de comportamento humano,
desde a esfera política até às zonas da mais radical intimidade. Por outro
lado, as sugestões simbólicas nunca contrariam, antes parecem reforçar, a
intensidade realista que Zvyagintsev coloca em todos os detalhes, por vezes
evocando de forma muito directa e cáustica as memórias ainda muito próximas do
comunismo (há mesmo uma cena de prática de tiro em que os alvos são os retratos
oficiais de algumas figuras emblemáticas da história da União Soviética).
Rodado
na região de Murmansk, cidade
portuária do mar de Barents, no noroeste do território russo, Leviatã nasceu,
assim, da metódica combinação desse rigor realista com um elaborado gosto
simbólico. De tal modo que Zvyagintsev não se coibiu de integrar os elementos
mais artificiosos nos impressionantes cenários naturais. Assim, por exemplo, o
esqueleto de uma baleia azul (que se tornou um ícone da promoção do próprio
filme) foi minuciosamente fabricado pela equipa de cenógrafos — mede 24 metros
e pesa uma tonelada e meia.
João Lopes, sound--vision.blogspot.pt
( 2€ sócios associações aderentes | 3,50€ público em geral)
Sem comentários:
Enviar um comentário