THE SMELL OF US | 7 OUT | 21H30 | IPDJ



THE SMELL OF US – O CHEIRO DE NÓS 
Larry Clark
França, 2014, 92’, M/18



FICHA TÉCNICA
Título Original: The Smell of Us
Realização: Larry Clark
Argumento:  Scribe e Larry Clark
Montagem:  Marion Monnier
Interpretação: Diane Rouxel, Lukas Ionesco, Théo Cholbi, Hugo Behar-Thinières, Ryan Ben Yaiche, Origem: França
Ano: 2014
Duração: 92'
 
 * entrada gratuita para os sócios com as quotas em dia // 2,50€ restante público




 CRÍTICAS

O filme francês de Larry Clark propaga a onda de choque de Kids, filmando um grupo de jovens frio, efervescente, sem passado nem futuro.
Uma praça de betão da grande Paris, jovens andam de skate num parque urbano improvisado. Entre escadas, rampas e corrimões, exibem a sua habilidade em habituais provas acrobáticas. Só que, naquele dia, há um novo obstáculo na pista, que depressa se torna a principal atração: um sem abrigo, bêbedo, ressacado, dorme imperturbavelmente, encostado a um canto, no chão. Os jovens saltam por cima dele, contornam-no, riem-se, aplaudem. Numa cena seguinte, dois jovens fazem languidamente amor em plena rua, perante o olhar divertido do seu grupo de amigos, numa orgia voyeurista filmada com um telemóvel. O novo filme de Larry Clark, filmado em França, já não é sobre as dificuldades de comunicação com a geração mais nova. É sobre a incomunicabilidade. E também o perturbante desprezo pelo outro, numa ausência de regras de tal forma radical que deixaria o movimento hippie siderado.
[...] E, desde Kids até este The Smell of Us, essa primazia da fotografia é um ponto essencial para entender a sua obra. Aliás, nos filmes Clark é impossível não sentir um arrebatamento estético apesar da brutalidade do contexto. Por trás de uma aparente crueza dos movimentos de câmara há uma linguagem estética que se desenvolve em cada plano, através do enquadramento e da composição do décor. Isto sem sombra de artificialismo, já que o realizador é especialista em manipular a realidade de forma a dar-lhe um tom mais realista. E até lhe dá cheiro... e som (ótima banda sonora). Não transforma tão-pouco os seus Kids em Enfants; não há especial adaptação à realidade francesa, apenas a utilização do cenário, desculpando-se com a americanização das juventudes europeias, expressa na canção de uma das personagens, que repete: “Eu prefiro o modo de vida americano”. The Smell of Us é um pesadelo de primorosa estética.
Manuel Halpern, http://visao.sapo.pt/


 


O realismo segundo Larry Clark
O realizador de "Kids" continua a filmar o mundo desagregado de uma juventude marcada por várias formas de dependência — "O Cheiro de Nós" levou-o, desta vez, a cenários da cidade de Paris.
Desde a sua estreia na realização, com "Kids/Miúdos" (1995), Larry Clark tem-se afirmado como um autor tão metódico quanto obsessivo. De facto, desde esse começo tardio (Clark nasceu em 1943), não tem deixado de fazer filmes que, de uma maneira ou de outra, lidam com as convulsões mais íntimas de uma juventude desamparada e auto-destrutiva.
Em boa verdade, o seu cinema nasce da sua actividade fotográfica, mais precisamente do livro "Tulsa" (1971), uma crónica de alguma juventude da sua cidade natal e, em particular, da sua dependência de drogas. Dando um salto no tempo, pode dizer-se que o filme de Clark que agora nos chega, "O Cheiro de Nós" (título original: "The Smell of Us"), é um prolongamento directo de "Tulsa".
Com a particularidade de, desta vez, o cineasta americano filmar em Paris, concentrando-se no dia a dia de rotinas mais ou menos promíscuas de um grupo de "skaters" que têm o habito de se reunir na zona do Museu de Arte Moderna... O consumo de drogas, a par de uma sexualidade vivida de modo automático e instrumental, transforma-os numa espécie de párias sociais, em que já nem sequer funciona a relação familiar com as gerações mais velhas.Dito de outro modo: Clark continua a ser um pilar de um realismo cru, obstinado e intransigente, em que um certo sentimento de "reportagem" vai a par de uma ficção elaborada nos seus mais pequenos detalhes. Tão marginal é o seu trabalho que este filme notável, apresentado em competição em Veneza/2014, só agora surge ao mercado português — a boa notícia é que surgiu mesmo, já que nos EUA não chegou a estrear.
João Lopes, rtp.pt/cinemax

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