TÃO SÓ
O FIM DO MUNDO
Xavier Dolan
Canadá/
França, 2016, 95’, M/14
SINOPSE
Louis é um escritor que regressa a casa depois de 12
anos de ausência para comunicar à família que está à beira da morte. Este
encontro, que já se previa difícil pelas circunstâncias, vai despertar
ressentimentos e abrir feridas antigas, gerando uma espécie de ajuste de contas
entre todos.
FICHA TÉCNICA
Título Original: Juste La Fin Du Monde
Realização: Xavier Dolan
Argumento: Xavier Dolan, inspirado
na peça
homónima de Jean-Luc Lagarce
Monatgem:
Xavier Dolan
Fotografia:
André Turpin
Música:
Gabriel Yared
Interpretação: Gaspard Ulliel, Nathalie
Baye, Léa Seydoux, Marion Cotillard, Vincent Cassel
Origem: Canadá/França
Duração: 95'
FESTIVAIS E PRÉMIOS
Festival de
Cannes - Grande Prémio
Festival de Cannes - Prémio do Júri Ecuménico
Festival de Cannes - Prémio do Júri Ecuménico
NOTA DE INTENÇÕES
Foi em 2010 ou 2011, já não me recordo. Mas pouco
tempo depois de J’AI TUÉ MA MÈRE, estava em casa da Anne Dorval, na cozinha onde acabamos por nos
sentar sempre a conversar, a pôr a conversa em dia, a ver fotografias, ou
muitas vezes onde ficamos simplesmente calados. Ela falou-me duma peça
extraordinária que tinha tido a sorte de interpretar por volta do ano 2000.
Nunca, disse-me ela, tinha representado e dito coisas
escritas e pensadas daquela maneira, numa línguatão intensamente particular. Estava convencida que eu
tinha mesmo de ler o texto, que ela até tinha já ali,ainda com as anotações que nele fizera dez anos antes.
Notas de representação, posições em cena e outros pormenores escritos na
margem.
Levei comigo aquele texto imponente, impresso em
grande formato. A leitura anunciava-se exigente. Naverdade, não me senti fulminado como a Anne previra.
Para ser sincero, naquele universo, senti uma espécie de desinteresse, de
aversão até, pela língua. Tive para com a história e os personagens um certo
bloqueio intelectual que me impediu de gostar da peça tão aplaudida pela minha
amiga. Devia estar demasiado impaciente com algum projecto ou a pensar do meu
próximo penteado, para sentir em profundidade esta primeira leitura diagonal.
Pus de lado o TÃO SÓ O FIM DO MUNDO e nunca mais falámos disso, eu e a Anne.
Depois de MOMMY, quatro anos depois disso, lembrei-me
daquele enorme texto, arrumado na estante da sala, na prateleira mais alta. O
volume era tão grande que sobressaía relativamente aos outros livros e
documentos entre os quais estava, altivo, como se soubesse que não podíamos
esquecê-lo indefinidamente.
Nesse Verão, reli, ou melhor, li verdadeiramente o TÃO
SÓ O FIM DO MUNDO. Chegado à página 6, já sabia que viria a ser o meu próximo
filme. O meu primeiro filme enquanto homem. Compreendia por fim as palavras, as
emoções, os silêncios, as hesitações, o nervosismo, as imperfeições
perturbadoras dos personagens de Jean-Luc Lagarce. Em defesa da peça, penso que
à primeira, não a li de forma séria; em minha defesa, penso que, mesmo que
tivesse tentado, não a teria podido compreender. O tempo é bom conselheiro. A
Anne, como sempre ou quase sempre, tinha razão.
Xavier
Dolan
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